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Apartamentos no Torquato Neto são usados para tráfico de drogas e crimes

Polícia diz que há criminosos alugando imóveis que seria do Minha Casa Minha Vida para comandar o crime na região e que a maioria são reincidentes.

25/09/2020 12:00

morte da menina Maria Vitória, de apenas 2 anos de idade, na última terça-feira (22), fez os olhos dos teresinenses se voltarem para um problema contundente que aflige os moradores de Teresina como um todo, especialmente aqueles na zona Sul, onde ficam localizados o Residencial Torquato Neto, a Vila Babilônia, o Residencial Eduardo Costa e o Residencial Orgulho do Piauí.

São áreas onde os índices de criminalidade vem subindo ao longos dos últimos meses, resultado de um policiamento que não consegue contemplar toda aquela área territorial e que enfrenta, dentre outros aspectos, a articulação de facções criminosas bem organizadas atuantes daquela região. Muitos dos criminosos chegam a se passar por moradores dos residenciais e a invadir apartamentos destinados a beneficiários de programas assistencialistas do Governo.


Foto: Elias Fontinele/O Dia

É isso o que diz a Secretaria de Segurança Pública do Piauí. De acordo com o delegado Cadena Júnior, subsecretário de Segurança: “tem criminosos usando apartamentos no Torquato Neto para traficar drogas, se esconder e coordenar a prática de crimes. Existem provas, inclusive de interceptações telefônicas onde eles falam muito bem que fazem e acontecem naquela região. Áudios liberados pela justiça que mostram os indivíduos dentro da Casa de Custódia falando ‘ó, a gente vai ocupar os apartamentos do Torquato Neto’ e ainda chamaram os comparsas para locarem esses imóveis”, disse.

O problema, segundo ele, é que a polícia não pode chegar deliberadamente a estes apartamentos e desocupá-los, nem sair batendo de porta em porta verificando se há pessoas má intencionadas ocupando a vizinhança. Precisa, diz Cadena Júnior, de uma fiscalização mais efetiva por parte do poder público e da Caixa Econômica, que é a responsável por entregar os apartamentos do Minha Casa Minha Vida daquela região aos seus respectivos proprietários.

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“Quando identificamos essa prática, a Secretaria entrou em contato com a Prefeitura, que fez fiscalização para saber quem estava nos imóveis que foram feitos pelo Minha Casa Minha Vida. A Caixa foi que lançou esse empreendimento lá e é ela a responsável por entregar aos proprietários. Se não estava com o proprietário, a responsabilidade é da Caixa identificar quem é que está ocupando aquele apartamento para ele poder ser retirado legalmente. A polícia não pode chegar lá sem mandado, só pode entrar com ordem judicial de busca e apreensão”, explica Cadena Júnior.

A reportagem do Portalodia.com entrou em contato com a Caixa Econômica para saber sobre a fiscalização acerca da ocupação dos apartamentos do Minha Casa Minha Vida na região do Torquato Neto, mas ainda não obteve retorno. O espaço segue aberto para futuros esclarecimentos por parte do órgão.


Apartamentos no Torquato Neto são usados para tráfico de drogas e crimes - Foto: Elias Fontinele/O Dia

Moradores pensam em deixar o residencial por conta da violência

Por conta da criminalidade crescente na região, moradores do Torquato Neto já pensam em deixar suas casas e irem viver em outro local. É o caso da família da pequena Maria Vitória, 2 anos, que foi assassinada por bala perdida no começo da semana. Em entrevista à reportagem de O Dia, o avô dela que é sargento da Polícia Militar, Valdir Vieira, diz que o filho e a nora, os pais de Maria Vitória, pensam em deixar o Torquato Neto depois do ocorrido.

“Parece que estavam atrás de uma pessoa, era tiro pra todo lado, atingiriam inclusive mais três pessoas. Eu não moro lá, quem mora é meu filho, mas muito provavelmente eles saiam de lá. Não tem condição de ficar depois do que aconteceu. É um momento muito difícil, eu sou da segurança, sou PM, e fico me perguntando onde que está faltando a segurança. Sei que a polícia não pode estar em todo lugar ao mesmo tempo como todo mundo quer, mas que é muito difícil ficar assim, é”, afirmou o sargento Valdir.

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“Não estou prendendo cidadão primário”

Enxugar gelo. É assim que o subsecretário de Segurança define o trabalho da polícia no combate à criminalidade, especialmente em regiões com índices elevados na capital, a exemplo da Vila Irmã Dulce, Vila Palitolândia, Vila Babilônia e Residencial Torquato Neto. Em janeiro deste ano, a polícia deflagrou uma operação batizada de Codinome em que prendeu 32 pessoas acusadas de comandarem duas facções criminosas atuando aqui em Teresina.

No começo do mês, a Delegacia de Entorpecentes (DEPRE) prendeu mais duas pessoas no Torquato Neto por envolvimento com o tráfico. Os dois teriam ligações com os presos da Operação Codinome e várias passagens pela polícia. O que a Secretaria de Segurança diz é que das pessoas que são detidas por práticas criminosas naquela região, assim como em toda Teresina, boa parte já são reincidentes no crime e já passaram pelo sistema penitenciário por pelo menos duas vezes.

“Nós prendemos 32 indivíduos no começo do ano que estavam brigando territorialmente tentando buscar o controle do tráfico no Torquato Neto e região Sul. A grande maioria já está solta. Eu, enquanto delegado, não estou prendendo cidadão primário. A gente prende sempre as mesmas pessoas, os mesmos indivíduos que cometem os mesmos crimes e infelizmente não são condenados em tempo hábil. A gente vê líderes de facções altamente perigosos e soltos depois de serem presos até cinco vezes pela polícia”, afirma Cadena Júnior.


Delegado Cadena Júnior, subsecretário de Segurança Pública do Piauí - Foto: Assis Fernandes/O Dia

É o caso dos indivíduos que atiraram e mataram a menina Maria Vitória no começo da semana. As investigações da polícia apontam que eles tinham como alvo um homem conhecido como Sementinha do Mal, mas acabaram errando na mira e atingiram a criança que nada tinha a ver com a situação. Tratava-se de brigas entre facções rivais que disputam o controle do tráfico na região do Torquato Neto.

“Concentramos nossa atividades onde há tensão maior”

Atuando na linha de frente no combate à criminalidade, a Polícia Militar, em suas rondas ostensivas, busca concentrar seus esforços nas regiões onde há índices crescentes de violência. No caso de Teresina, a zona Sul é quem inspirado maior preocupação, sobretudo aquele trecho da Vila Irmã Dulce, Vila Palitolândia e Torquato Neto. De acordo com o comandante-geral da Corporação, coronel Lindomar Castilho, o policiamento vai acompanhando a evolução do crime.

“Onde há uma mancha vermelha no mapa, onde há uma tensão maior, é lá que concentramos a atividade policial. Aquilo que nos cabe está sendo feito e a prova disso são as milhares de abordagens que são feitas, dezenas de apreensões e prisões que não param”, comentou o coronel.  Para intensificar as ações de combate à criminalidade, a Polícia Militar disponibilizou um módulo-viatura do 17º BPM em rondas 24 horas pelo Torquato Neto, Eduardo Costa, Vila Babilônia e Orgulho do Piauí.

Por: Maria Clara Estrêla
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