Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Suspensão de vacina AstraZeneca em gestantes foi precipitada, diz obstetra

A recomendação da Anvisa ocorreu após o óbito de uma gestante e do bebê, devido um grave acidente vascular cerebral hemorrágico.

12/05/2021 10:23

Na última segunda-feira (10), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu uma nota técnica suspendendo a vacinação de gestantes com o imunizante AstraZeneca/Fiocruz. A recomendação ocorreu após o óbito de uma gestante e do bebê, devido um grave acidente vascular cerebral hemorrágico.

Diante da orientação, estados e municípios suspenderam a aplicação da AstraZeneca em gestantes, inclusive com outros imunizantes, mesmo as grávidas fazendo parte do grupo de risco. Segundo a obstetra Ana Maria Coêlho Holanda, essa decisão da Anvisa foi precipitada e pode trazer resultados negativos na imunização desse grupo.


Leia também:

Piauí suspende vacinação de gestantes com AstraZeneca após orientação da Anvisa 

Gestantes são incluídas como prioridade na vacinação contra Covid-19 


“Essa decisão da Anvisa talvez tenha sido precipitada, e até a forma como está sendo divulgada nos preocupa, porque muitas cidades e estados estão suspendendo a vacinação com todas as vacinas disponíveis, e isso é muito grave e perigoso, pois já que elas são pacientes com alto risco de complicações pela Covid, têm que ser vacinadas. O fato dessa paciente ter tido trombose não temos como definir nesse momento se foi causada pela vacina, pelos próprios riscos da gestação ou outras coisas. Ainda não é possível saber, nem se essa resposta chegará a tempo, mas está sendo investigado”, disse Ana Maria Coêlho.

(Foto: Assis Fernandes/Arquivo ODIA)

A médica obstetra pontua que as vacinas Pfizer e CoronaVac, por exemplo, já demonstraram ser seguras e eficazes para as gestantes e não devem ser contraindicadas para este grupo. Ainda segundo a especialista, os riscos de ter trombose ao tomar a vacina é muito menor do que os os benefícios de tomar o imunizante e não desenvolver a Covid-19, especialmente as formas graves ou até a morte.

“O Royal College de Obstetras e Ginecologistas, da Inglaterra, já tinha emitido nota em abril e agora, em maio, que existe esse risco de trombose muito baixo e que, se a paciente tiver condições de tomar uma das outras vacinas que seja mais segura, deve tomar. Mas que se não tiver, indicam que tomem a da AstraZeneca, porque sabem que o risco de complicações [devido à Covid] é superado pelo benefício que ela pode trazer”, disse Ana Maria Coêlho Holanda.

A obstetra reforça que a gestante, por si só, já faz parte de um grupo de risco aumentado por trombose e para as complicações da Covid-19, inclusive morte, independentemente de ter ou não comorbidade. Ela explica que a mortalidade de grávidas está em aumento, devido às variantes, por isso a urgência em incluir as gestantes nos grupos prioritários para vacinação.

Ainda de acordo com a especialista, a vacina da AstraZeneca já foi relacionada, inclusive internacionalmente, de que tem um risco aumentado de trombose trombocitopenica, induzidas por uma ação imunológica. Esse risco de trombose é de 0,0004% a 0,0006%, ou seja, seis casos a cada 1 milhão de pessoas que tomam a vacina. Essa é uma doença de alta gravidade e mortalidade, que traz muitas complicações, inclusive com altas taxas de trombose, acima de 15%. Entretanto, se tratando de gestantes, deve-se considerar os riscos-benefícios. 

Por meio da nota técnica, a Anvisa recomenda que os profissionais de saúde avaliem, individualmente, cada caso e considerem os riscos e benefícios da vacina para as pacientes. Diante disso, Ana Maria Coêlho espera que o Ministério da Saúde emita um parecer a respeito do uso do imunizante nas gestantes, proibindo ou não na prática clínica.

Comunicado

Na orientação, emitido no Comunicado GGMON 005/2021, a Anvisa esclarece que o evento adverso grave de acidente vascular cerebral hemorrágico foi avaliado como possivelmente relacionado ao uso da vacina administrada na gestante. A análise leva em consideração diversos aspectos como dados sobre o (a) paciente, sua história clínica, dados de exames laboratoriais, bem como sinais e sintomas apresentados após a administração de um medicamento ou vacina.

A Anvisa destaca que, até às 15 horas de 11 de maio de 2021, não foi encontrado outro evento adverso grave envolvendo gestante, com relação causal, notificado no VigiMed. E  que o órgão vem monitorando e avaliando os eventos adversos tromboembólicos pós vacinais no Brasil e no mundo, desde a notificação dos primeiros casos em outros países.

Orientação às gestantes

Cabe aos médicos que acompanham as gestantes avaliarem a relação benefício-risco para orientar sobre iniciar o esquema vacinal contra a Covid-19. Conforme a bula da vacina Oxford/Astrazeneca/Fiocruz, este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica.

Não há evidências científicas disponíveis que indiquem riscos aumentados de eventos tromboembólicos com plaquetopenia na administração da segunda dose da vacina Oxford/Astrazeneca/Fiocruz naqueles que receberam a primeira dose e não apresentaram o evento adverso.

Mais sobre: