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Prefeitura tem que arcar com gastos se não reajustar passagem, diz Setut

O sistema de transporte coletivo de Teresina vem operando em déficit desde o começo da pandemia e a PMT parcelou em 20 vezes a dívida de R$ 22 milhões dos subsídios do ano passado.

05/03/2021 10:37

A Prefeitura de Teresina e o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano (Setut) entraram em um acordo para tentar pôr fim ao movimento grevista dos motoristas de ônibus da capital, que já vai completar um mês na próxima segunda-feira (08). O poder público decidiu parcelar em 20 vezes a dívida de quase R$ 22 milhões que possui com os empresários e dar uma entrada no valor de R$ 1,6 milhão para garantir ao menos o pagamento dos salários atrasados dos trabalhadores.


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A informação foi confirmada pelo próprio Setut durante coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira (05). Prefeitura e empresários se reuniram na última quarta (03) para discutir a situação e chegarem a um acordo. Após essa entrada de R$ 1,6 milhão, a PMT parcelará em 20 vezes de R$ 970 mil o débito que possui com as empresas. São valores relacionados aos subsídios não repassados durante a pandemia no ano passado. 


Foto: O Dia

De acordo com o Setut, o valor ajuda a destravar as negociações junto aos trabalhadores, mas não garante que o sistema volte a operar em sua total capacidade. Isso, porque os custos de manutenção do sistema de transporte aumentaram, houve queda na demanda de passageiros e, segundo os empresários, a Prefeitura já está com outros ativos em aberto junto ao Setut: os referentes ao mês de outubro em diante.

Vale lembrar que o Setut havia sugerido ao poder público um valor de R$ 5 para a tarifa inteira como sendo o ideal a manter o funcionamento do serviço em toda sua potência. No entanto, a Prefeitura já havia decidido que não reajustaria a passagem de ônibus em Teresina em 2021, o que acarreta em um aumento do subsídio que ela deve repassar aos empresários para cobrir o valor inteiro e as gratuidades e meia-passagens do sistema.

“A tarifa ideal no sistema com base nos nossos cálculos operacionais é de R$ 5, mas a prefeitura só autorizou R$ 4. Ok, mas ela também tem a obrigação de subsidiar a diferença. Se estivéssemos operando na normalidade, Teresina teria 3,5 milhões de pagantes no transporte público por mês, então a Prefeitura teria que pagar 3,5 milhões ao Setut. Quando ela toma uma decisão de não reajustar a tarifa, ela tem que ter ciência que tem que caixa para arcar com isso”, disparou o presidente do Setut, Marcelino Lopes.


Marcelo Lope, presidente do Setut - Foto: O Dia

De acordo com ele, o custo mensal para manter o sistema de transporte coletivo em funcionamento em Teresina é de R$ 5 milhões. 30% vai para a compra de diesel, 12% para a compra de pneus e peças de manutenção; 16% são outras despesas como empréstimos e financiamentos para a compra de novos carros e para pagar o uso do sistema de bilhetagem eletrônica, água e energia; e 22% são tributos pagos diretamente. Pelo menos 40% dos gastos mensais vai para o pagamento do salário dos trabalhadores.

Conforme a ponta a consultora técnica do Setut, Myrian Aguiar, o sistema de transporte coletivo de Teresina só tem arrecadado R$ 3 milhões mensais, o que deixa os empresários em uma situação delicada de ter que escolher o que vai pagar: se o combustível para os carros rodarem, se comprar as peças para que eles funcionem ou se pagar os trabalhadores. “Em termos numéricos, a situação é essa. Para honrar os compromissos de folha de janeiro e fevereiro, o Setut vai ter que ir buscar dinheiro junto aos bancos porque o que é devido de outubro pra frente, a prefeitura ainda não pagou”, disse.


Foto: O Dia

Queda na demanda

Conforme o balanço apresentado pelo Setut, antes da pandemia o sistema de transporte público de Teresina chegou a levar apenas 5% da quantidade total de passageiros que transportava antes da crise e do isolamento. Hoje, o sistema opera com apenas 25% da capacidade de demanda de usuários e conta com 60% da frota circulando regularmente. Isso soma apenas 222 ônibus para atender a toda a cidade.

O cálculo, segundo o presidente do Setut, não fecha: “Ninguém consegue administrar com uma receita de 25% do que era tendo uma despesa de 60%. Nós mostramos esses números ao sindicato dos trabalhadores e questionamos como eles querem discutir uma convenção com pagamento de benefícios se hoje não há condições de pagar nem a folha salarial”, disse Marcelino Lopes.

O que a entidade alega é que quanto mais tempo a greve perdurar e mais o poder público demorar em começar a pagar os montantes devidos, a situação se agrava. De acordo com Marcelino Lopes, se o serviço voltasse a funcionar já este mês, dentro de seis meses já seria possível se ter uma evolução na arrecadação e na demanda que ajudasse a amenizar as perdas somadas ao longo do último ano.

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