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Ônibus em Teresina: número de passageiros reduz 82% durante a pandemia

Terminais de integração seguem fechados por tempo indeterminado e agora as aglomerações são nas paradas de ônibus.

17/09/2020 12:02

Foi no dia 04 de maio que a Prefeitura de Teresina decidiu suspender o serviço de transporte público da capital em razão da pandemia do novo coronavírus. Faziam quase dois meses que o primeiro caso da doença havia sido registrado na cidade e o município já se encontrava sob medidas rígidas de isolamento social ante o crescimento da curva epidêmica.

Naquela época, mesmo com todos as medidas de quarentena impostas e com a quase totalidade dos serviços parados, a média de passageiros usando o transporte público de Teresina ainda era de aproximadamente 17 mil pessoas. Foram dois meses de impasses e com a cidade praticamente sem ônibus nas ruas e isso se deu não só pela suspensão do serviço, mas também por causa da greve que motoristas e cobradores deflagraram neste mesmo período.


Foto: Jailson Soares/O Dia

Até que no dia 07 de julho, o sistema de transporte coletivo de Teresina voltou a circular com apenas 30% de sua frota e 70% no horários de pico. Cerca de um mês depois, em 11 de agosto, a frota aumentou para 120 veículos depois da reabertura do comércio e setores não-essenciais. Hoje, são 150 ônibus rodando por Teresina. Mesmo assim, com a cidade já funcionando em quase todos os segmentos, o número de passageiros no transporte público teresinenses ainda segue abaixo do que geralmente se tinha antes do fechamento da cidade.

Segundo a Strans (Superintendência de Transporte e Trânsito da Capital), hoje o sistema de ônibus coletivo de Teresina tem uma média de 30 mil a 36 mil passageiros por dia. Antes, a média eram de 200 mil passageiros por dia. A redução é de 82% no número de usuários do transporte público da capital durante a pandemia de covid-19.

“Na semana passada, chegamos a 38 mil passageiros, o que é menos de 20% da capacidade que Teresina transportava antes da pandemia. Se a gente for analisar, antes da pandemia, tínhamos aproximadamente 400 veículos rodando e hoje, temos cerca de 150 apenas. E na última segunda-feira, já identificamos um percentual menor de uso do sistema de transporte em relação à semana anterior”, explica Denilson Guerra, gerente de planejamento da Strans.

Terminais fechados, paradas lotadas e demora na espera

Por conta do número reduzido de usuários do transporte coletivo na capital e também para evitar aglomerações de pessoas durante a pandemia do novo coronavírus, a Prefeitura de Teresina decidiu fechar os terminais de integração dos bairros. Eles estão sem funcionar há quatro meses e ainda não há nenhuma previsão de retorno.

O problema é que com os terminais fechados, as aglomerações de pessoas têm se formado nas paradas. É que a integração do sistema de transporte público da capital passou a ser feita nos pontos de ônibus onde há cruzamento de linhas de regiões diferentes, como aqueles localizados no Centro. É lá que os teresinenses tem buscado integrar o percurso quando precisam cruzar a cidade de uma zona para a outra.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

A integração tem funcionado da seguinte maneira: o passageiro que precisa se deslocar de seu bairro para outra região de Teresina, deve pegar um ônibus que o leve ao Centro e de lá, pegar um outro veículo que o leve para o bairro ou mais próximo do bairro para onde ele deseja ir. Se essa troca de ônibus for feita dentro do prazo de duas horas, não será cobrada uma segunda passagem, ou seja, a integração segue valendo.

O que os teresinenses reclamam é da pouca quantidade de ônibus circulando e da demora no tempo de espera nas paradas, o que acaba contribuindo para que os veículos lotem em horários de maior movimentação, como por exemplo no início da manhã e por volta do meio dia. 


Foto: Assis Fernandes/O Dia

É o que afirma a senhora Francisca Pereira, moradora do bairro Angelim. Ela diz que chega a esperar até duas horas na parada pelo coletivo e que se sente receosa em usar o transporte público por conta do distanciamento social e da lotação que, segundo ela, não são respeitados. “Demora demais a passar a gente perde consulta, a gente perde vários compromissos. O ônibus que eu vim pro Centro vinha lotado e morro de medo de pegar, porque vou fazer 76 anos e ninguém respeita distância de nada”, afirma a senhora.


Francisca Pereira - Foto: Assis Fernandes/O Dia

Para os moradores do Residencial Mário Covas, a situação também não é diferente: o músico e pedagogo Evaldo Castro disse que chega a passar até três horas esperando por um ônibus e que o tempo de espera nas paradas causa insegurança por conta da exposição à violência. Ele chama de “descaso institucional” a atual quantidade de veículos rodando em Teresina. 

“Você fica até três horas à mercê. Tem um ônibus que passa 19 horas e quem espera fica exposto demais, porque não tem ninguém na parada, corre o risco de você ser assaltado. É insuportável, tem pessoas quem se precisam vir pro Centro pra resolver algo, perde o dia todo. E não tem nem como manter distanciamento se não tem ônibus direito. Se houvesse uma quantidade maior, com certeza daria pra todo mundo se acomodar de maneira digna. A gente está num salve-se quem puder”, dispara.


Evaldo Castro - Foto: Assis Fernandes/O Dia

Mas vale lembrar que a superlotação está sendo alvo de fiscalização por parte do poder público e está proibida inclusive em decreto municipal.

Os veículos só podem circular com 45 passageiros no máximo, sendo 30 sentados e 15 em pé. O distanciamento social deve ser respeitado e o uso de máscara é obrigatório para conseguir entrar no ônibus. Para garantir que estas normas estejam sendo cumpridas, a Strans tem feito fiscalizações em locais estratégicos, parando os veículos de maneira aleatória para flagrar possíveis infrações sanitárias. Em uma manhã, o órgão chega a emitir cerca 30 notificações às empresas. Uma vez notificadas, elas estarão sujeitas ao pagamento de multa cujo valor pode variar de dez a mil vezes o preço da passagem de ônibus na capital, dependendo da gravidade da infração.


A Strans tem fiscalizado o cumprimento dos protocolos sanitários pelos ônibus da capital - Foto: Ascom

Sem datas definidas e sem previsão de retorno completo

A pandemia do novo coronavírus mudou a forma como serviços básicos são prestados à população. Isso vai desde os atendimentos em comércios, escolas, passando pela maneira como as pessoas se deslocam dentro das cidades. Pelo menos aqui em Teresina ainda não há uma data nem previsão de data para que o sistema de transporte coletivo volte a funcionar dentro da normalidade e de maneira plena como acontecia antes da pandemia.

De acordo com Denilson Guerra, gerente da Strans, mesmo sete semanas depois da reabertura do comércio e da retomada de atividades não essenciais em Teresina, o fluxo de passageiros no transporte coletivo não saiu da casa dos 20 mil a 30 mil por dia. Estima-se que no pós-pandemia a perda de usuários no sistema de transporte como um todo, a nível de Brasil e de mundo, chegue a 50%. São pessoas que têm receio em pegar ônibus, que querem evitar as aglomerações nas paradas e que apostam em formas alternativas de ir e vir, como carros por aplicativo, táxis e transporte próprio.


Denilson Guerra, gerente de planejamento da Strans - Foto: O Dia

É justamente por essa falta de perspectiva de aumento da demanda que não se tem como afirmar ainda quando o sistema de transporte coletivo voltará a operar normalmente e em toda sua capacidade. A nível de Teresina, os terminais de integração seguem fechados por tempo indeterminado e as linhas de ônibus que circulam pela capital, que hoje estão na casa das 100 linhas, seguem sem uma previsão de aumento.

O representante da Strans explica: “Permanece o atendimento radial e assim que tivermos condições com um bom quantitativo de passageiros, esperamos recuperar o sistema e aí apresentarmos uma data. Mas se hoje, cerca de sete semanas depois da retomada, não saímos de 20 mil passageiros por dia para 100 mil, que era a metade do que tínhamos antes, não temos como afirmar que vamos fazer a retomada em 100% da frota bem como as atividades dos terminais”.

Por: Maria Clara Estrêla
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