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Dois anos após incêndio, moradores clamam por abastecimento de água

Famílias do assentamento 8 de Março bloqueiam a BR-316 pedindo a continuidade do fornecimento de água na região. Em 2017, local foi destruído por incêndio.

22/10/2019 08:36

Um grupo de manifestantes do assentamento 8 de Março bloqueou totalmente a rodovia BR-316, nas proximidades do Povoado Chapadinha Sul, na saída de Teresina, em protesto pela continuidade do sistema de abastecimento de água na região durante a manhã de hoje (22). Espalhando pedaços de pau pela rodovia, eles impediram a passagem dos veículos. 


Veja também: Incêndio no assentamento 8 de março 


O ato foi acompanhado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), que sinalizou o bloqueio aos motoristas para tentar fazer o trânsito fluir no local. O protesto iniciou por volta das 6h40min e smente cerca de três horas depois e a PRF conseguiu negociar com os manifestantes para que eles liberassem a pista em sua totalidade.

Segundo a moradora Márcia Gleiciane, três homens em um caminhão conseguiram furar o bloqueio. Os moradores relatam que estes homens estavam armados e dispararam duas vezes para cima. "Eles estavam em um caminhão e passaram. Disseram que se não saíssem do meio, que eles iam puxar a arma e quando pensa que não, eles já estavam atirando para cima. Foram dois tiros", relata a moradora do assentamento.

Fotos: Assis Fernandes/O Dia


Água e energia em falta

O que as famílias do assentamento 8 de Março revindicam é basicamente a autorização para construção de um poço na região e o fornecimento regular de energia elétrica, o que só pode ser feito depois que a terra estiver regularizada junto ao Interpi (Instituto de Terras do Piauí). As famílias já procuraram inclusive o Ministério Público para chegarem a uma solução, mas a audiência que estava marcada para o dia 09 passado não aconteceu.

Enquanto não conseguem abastecimento de água regular junto aos órgãos responsáveis, as famílias do assentamento 8 de Março estão contando com a ajuda de moradores de um assentamento vizinho, o 17 de Abril. Quem relata é Edilson José Guimarães, morador da região.

"Lá eles fornecem para nós e nós contribuímos com o que podemos pagar nas parcelas de água para que eles possam manter o poço em dia para a gente. São 174 famílias em situação difícil, precária e no momento nem todos têm a mesma condição de pagamento e isso prejudica também o assentamento 17 de Abril", explica o agricultor.


Edilson Guimarães - Foto: Assis Fernandes/O Dia

"Me sinto injustiçada, humilhada e crucificada", diz moradora sobre ter que pedir água de casa em casa

Sem poço e sem abastecimento de água regular, os moradores do assentamento 8 de Março dependem da boa vontade de moradores de acampamentos nos arredores para conseguirem sobreviver e fazer o básico como preparar a comida, lavar as roupas e ter como matar a sede.  Vivendo nessa situação há quatro anos, a moradora Maria do Socorro Luz resume a luta diária dos moradores do assentamento.

"Me sinto injustiçada, humilhada, crucificada e pra mim é tudo de ruim viver assim, mas a comunidade está ocupada e nós vamos morar nela até o fim e tudo o que queremos hoje é água e energia. Se a Equatorial [concessionária do serviço de produção e distribuição de energia do Piauí] não se manifestar, nós não vamos fazer gambiarra", diz a moradora.


Maria do Socorro Luz - Foto: Assis Fernandes/O Dia

Até existe um poço há 3,5 Km do assentamento 8 de Março, mas devido à distância, os moradores já nem o utilizam mais, sobretudo porque crianças, idosos e mulheres grávidas não têm condições de andarem o percurso inteiro para pegar água. 

Quem fala é Maria Brasilina Pereira, moradora do assentamento. "Esse poço aqui para nós não tem serventia. Somos abastecidos lá pelo 17 de Abril. Queremos o poço e depois uma bomba, estamos porque podemos pedir aos órgãos responsáveis, já que também somos eleitores", finaliza.


 Maria Brasilina Pereira - Foto: Assis Fernandes/O Dia

"Luta é legítima", diz socióloga

Presente na manifestação a socióloga Fabíola Lemos classifica a reivindicação dos moradores como legítima e diz que se trata da busca pela garantia de direitos mínimos á dignidade humana como o direito à água e à energia. Fabíola lembra a trajetória dos moradores do assentamento 8 de Maro na região e menciona que aquelas pessoas viram todas suas tentativas de erguer uma comunidade organizada e sólida destruídas pelo fogo.

"A comunidade ocupa este espaço há quatro anos. No início era uma sensação de insegurança muito grande e quando eles estavam começando a se estruturar na busca pela regularização de posse dessa terra, aconteceu o incêndio que gerou males e traumas irreversíveis. De lá para cá, o poder público de aproximou, mas muita coisa ficou no campo das promessas", afirma a socióloga.


Fabíola Lemos - Foto: Assis Fernandes/O Dia

Assentamento foi destruído por incêndio há dois anos

O assentamento 8 de Março, onde vivem os moradores fazem protesto na BR-316, foi palco de um cenário de destruição em 2017, quando atingido por um incêndio de grandes proporções no mês de outubro. As famílias, além de perderem todos seus bens e materiais, também perderam animais de  estimaçãoUma criança chegou a morrer no incêndio, que atingiu a vegetação e acabou chegando aos casebres de palha instalados nas proximidades da mata. O assentamento contava com 150 famílias.

Por: Nathalia Amaral e Maria Clara Estrêla
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