Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Firmino trata Covid com Ivermectina; remédio para carrapato, diz especialista

Remédio é um vermífugo sem comprovação científica contra coronavírus. O prefeito de Teresina afirmou ainda que toma Tylenol para dores e febre.

24/06/2020 08:49

Há quase uma semana em isolamento social, o prefeito de Teresina, Firmino Filho (PSDB) está em tratamento contra a covid-19. O gestor foi diagnosticado com coronavírus na última sexta-feira (19) durante testagem na vice prefeitura e positivou para a doença. Na noite de ontem (23), Firmino participou de uma live com o empresário Newton Nunes em que tratou de gestão durante a pandemia, e afirmou que está fazendo uso de dois medicamentos em seu tratamento contra a covid-19: Tylenol e Ivermectina.

O Portalodia.com conversou com um especialista para saber sobre a eficácia destes dois remédios no tratamento da covid-19. O médico infectologista Kelson Veras, que atua no Hospital de Urgências de Teresina (HUT), disse que o Tylenol geralmente é indicado para tratar alguns sintomas da covid, como a febre e a dor no corpo. Mas a Ivermectina, de acordo com ele, não tem nenhuma eficácia comprovada em estudo científico e é, na verdade, um vermífugo, ou seja, medicamento usado para tratamento de parasitas como carrapatos e piolhos, e não um fármaco que atua contra vírus.

Leia também: Cloroquina: Ministério da Saúde divulga novo protocolo 

Kelson Veras explica: “A ivermectina é um vermífugo. Ele serve pra piolho, para parasitas intestinais e até para tratar carrapato em animais. No caso da covid, ele não alivia nenhum sintoma. Não é científico, a ivermectina não tem nenhum papel comprovado em covid ou em qualquer outra doença viral. É como a cloroquina e a azitromicina. Doenças causadas por vírus, nós temos há muito tempo, mas não sei em que tipo de cabeça pode passar que um remédio para malária, um remédio para carrapato, para bactéria, vai funcionar em vírus. Não tem absolutamente nada de ciência nisso”, afirmou o infectologista.


Infectologista diz que não há ainda comprovação científica da eficácia da ivermectina contra a covid-19 - Foto: Agência Brasil

A própria bula da Ivermectina aponta que o medicamento é indicado para o tratamento de infecção causada por parasitas como ascaridíase, escabiose (sarna) e pediculose (piolho)

Quanto ao uso do Tylenol, Kelson Veras diz que ele de fato é indicado em tratamento da covid-19 pelo fato de ter propriedades antitérmicas e analgésicas. A atuação dele, comenta o infectologista, é a mesma da dipirona e do paracetamol, comumente usados no tratamento de síndromes gripais para aliviar sintomas como febre e dores. 


Firmino Filho disse numa live que usa Tylenol e Ivermectina no tratamento da covid-19 - Foto: O Dia

Protocolo estabelece uso de ivermectina no tratamento da covid em Natal

No começo deste mês, a ivermectina teve seu uso regulamentado em protocolo de tratamento de pacientes covid-19 no estado do Rio Grande do Norte. A Secretaria de Saúde de Natal divulgou as regras e instruções sobre o recebimento de casos suspeitos nas suas unidades de saúde e as terapias medicamentosas que deveriam ser adotadas para os casos.

O documento foi aprovado pelo Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte e pelo Prefeitura de Natal e recomenda o uso da hidroxicloroquina em pacientes com sintomas iniciais da covid-19, além do uso especial da ivermectina como pedida de prevenção. No protocolo, no entanto, não são citados estudos que comprovem a eficácia de nenhum dos fármacos no tratamento da covid.

Infectologista defende uso do oxímetro e não de “medicamentos milagrosos”

Em conversa com o Portalodia.com, o infectologista Kelson Veras, que também foi diagnosticado com covid-19 e está em isolamento em casa, criticou o que ele chamou de “falsas esperanças e ilusão das pessoas de que existe um remédio capaz de evitar formas graves da doença”. Para o médico, o que os poderes públicos municipal, estadual e federal deveriam fazer era estimular as pessoas a terem em casa e usarem o oxímetro de dedo. Trata-se de um aparelhinho que a pessoa coloca no indicador para medir a saturação, ou seja, a quantidade de oxigênio presente no sangue.

Leia também: Uso da cloroquina é indicado na fase inicial da Covid-19, diz médico 

O oxímetro de dedo permite que a pessoa monitore como está sua respiração e, com isso, perceba a tempo caso haja algo fora da normalidade que indique situação de risco ou alteração em sua função respiratória. Segundo Kelson Veras, com o monitoramento da saturação pelo oxímetro, as pessoas poderiam procurar um hospital antes que seu quadro se agravasse, o que poderia reduzir os índices de pacientes covid graves que dão entrada nas unidades de saúde com insuficiência respiratória e parada cardíaca. 

“O oxímetro diz quanto de oxigênio há no seu sangue, porque se você esperar para ficar com falta de ar e ir para o hospital, você já pode chegar lá numa parada cardíaca e pode ser muito tarde. Se em casa, você consegue monitorar a quantidade de oxigênio no seu sangue, e nota que ela está caindo, você pode ir a tempo pro hospital e aí sim receber intervenções que são capazes de evitar a morte da pessoa”, explica o infectologista.

É considerado aceitável pelo menos 95% de saturação. Abaixo disso, já é um alerta para baixa quantidade de oxigênio no sangue, o que indica problemas respiratórios. 


O oxímetro de dedo mede a quantidade de oxigênio no sangue - Foto: Agência Brasil

Alimentação adequada e ingestão de líquidos também ajudam

Além de monitorar a respiração e se manter em completo isolamento dos outros ambientes e moradores da casa, o paciente diagnosticado com covid também deve ficar atento à ingestão de alimentos nutritivos e leves. É importante também beber bastante líquido e repousar. 

O médico infectologia Kelson Veras lembra: “não é o remédio sozinho que faz a pessoa melhorar. Ela tem que manter alguns hábitos que ajudem o fármaco no alívio dos sintomas e dar condições ao próprio corpo de responder positivamente ao vírus: se alimentar bem, se manter hidratado e higienizar muito bem o ambiente em que se vive são algumas medidas eficazes no tratamento”, finaliza.

Por: Maria Clara Estrêla
Mais sobre: