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Economia no Piauí: 100% das empresas piauienses solicitaram empréstimos em abril

O Piauí é o Estado com maior percentual de empresas com dívidas e empréstimos (59%)

28/07/2020 11:30

A crise sanitária do coronavírus é considerada o maior desafio global da atualidade, visto que, além de apontar desafios na área de saúde aos governantes mundiais, tem um enorme impacto financeiro em função das medidas necessárias para o controle da pandemia, entre as quais o isolamento social.

O estudo “Impactos da pandemia do coronavírus nas atividades econômicas do Piauí” apresentou o cenário que o Estado encontra-se atualmente com relação aos efeitos provocados pela Covid-19 nos negócios do Estado. A pesquisa foi conduzida pelo professor de Direito da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), Willame Mazza. 

Em uma pesquisa feita pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), apontou que 100% das empresas informaram ter pedido empréstimo e/ou solicitado crédito no mês de abril, devido à queda nas vendas. Porém, a grande maioria não teve o pedido deferido por já se encontrarem negativadas (em atraso).

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Dessa forma, os dados mostram que as empresas já vinham passando por problemas financeiros antes mesmo da pandemia. Outro aspecto relevante observado no estudo é a grande maioria de empresas que têm atendimento presencial, o que levou a parar o funcionamento totalmente por causa da pandemia. 

Conforme os indicadores do Sebrae, em março de 2020, uma semana após o início oficial do isolamento no Estado do Piauí, foi observada uma queda nas vendas de 74% e uma queda no faturamento de 86%. Já havia uma queda no faturamento, antes mesmo da pandemia. Na maioria das empresas no Piauí, a queda de faturamento foi em até R$ 6 mil por mês, ficando em torno de R$ 10 a R$ 20 mil o valor médio dos empréstimos contraídos por aquelas empresas que responderam ser indispensável este tipo de financiamento em virtude da pandemia. Os referidos valores são maiores do que faturam, em média, essas empresas.

(Foto:ODIA)

Além disso, o Piauí é o Estado com o maior percentual de empresas que responderam que seu maior custo é com dívidas e empréstimos (59%). O dado é alarmante, pois é um percentual muito maior do que nos demais estados federativos. Quando perguntadas se terão que recorrer a empréstimos para manter-se abertas, 52% das empresas responderam que sim. 

No mês de abril, a perda de faturamento das empresas foi de 74% e no mês de maio essa perda chegou a 88,3%. No mês de maio, o Piauí foi o único Estado que não registrou qualquer aumento no faturamento, fato que se repetiu no mês de junho, mas neste caso foi acompanhado de outros estados. 

Demissões no Piauí: abril teve mais desligamentos

Ainda de acordo com o estudo, poucas demissões foram registradas no Piauí, especialmente pela forma como as empresas piauiense se constituem (microempreendedor individual), logo as empresas, em sua maioria, possuem poucos ou nenhum funcionário. Apesar dessa característica, no Estado do Piauí se observa um alto índice de demissões justificadas pelo fechamento do comércio por conta da Covid-19. 

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Segundo informações do painel do Novo Caged, ao analisar as taxas de admissões e desligamentos de emprego formal, no Brasil, entre janeiro a maio de 2020, observa-se que os impactos/efeitos da pandemia começaram a ocorrer a partir do mês de março, tendo abril como o mês com maior número de desligamentos/perdas nos postos de trabalho formal. Já o mês de maio, embora com um expressivo saldo negativo, a princípio, apresenta um quadro de relativa contenção de tais efeitos. 

No Piauí, verificou-se que há uma tendência semelhante ao que ocorreu em nível nacional. Os meses de janeiro e fevereiro registraram saldo positivo nas contratações de trabalho formal, a partir de março o saldo passa a ser negativo, tendo abril como o mês com os piores resultados e maio sinaliza um possível quadro de reversão/contenção dos impactos da pandemia.

Ao final do mês de maio, foi registrado um total de 37.740 desligamentos e um saldo negativo acumulado de 8.554 postos de trabalho formais perdidos. Em nível de desligamento do trabalho formal, os homens foram mais atingidos pela pandemia, correspondendo a 65,58% do total das demissões no período. 

Setores de serviço e comércio foram os mais afetados

Quanto aos setores econômicos mais atingidos no estado do Piauí, apresentando ligeiras alterações comparativamente ao ocorrido no âmbito nacional, estão o setor de serviços (-2.900), comércio (-2.356) e construção (-2.189), respectivamente. 

Dentre as 10 cidades no ranking dos maiores PIBs no Piauí, percebe-se que Teresina foi a cidade mais afetada, seguida por Parnaíba (-404), Floriano (-359), Picos (-157), Campo Maior (-69) e Piripiri (-59). A capital piauiense concentrou sozinha 92,30% (-7.896) de todo o saldo negativo dos desligamentos ocorridos durante o período de janeiro a maio, sendo que, tal saldo passou a ocorrer somente a partir do mês de março, coincidindo com o início dos impactos econômicos decorrentes da pandemia tanto em âmbito nacional como estadual.

O rendimento médio real efetivamente recebido de todos os trabalhos das pessoas ocupadas reduz de R$ 2.320 para R$ 1.899. Observa-se que durante a pandemia, mesmo as pessoas que mantiveram seus empregos (muitas vezes invisíveis às pesquisas que analisam número de desempregados), sofreram redução na renda mensal, o que pode ser explicado por uma queda na demanda por diversos serviços. 

Os dados revelam que em maio de 2020 a taxa de desocupação média seria de 8,7% e o que o rendimento médio girava na cifra de R$ 1.416,00. A pesquisa também mostra que nessas regiões se encontram a maior parte dos domicílios que receberam auxílio emergencial (cerca de 56% no Piauí).

O Pnad-Covid também mostrou que a maior proporção de pessoas afastadas do trabalho devido ao distanciamento social é o de trabalhadores domésticos sem carteira assinada, diaristas, em sua grande maioria mulheres pretas, que por conta do isolamento não podem frequentar a residência dos empregadores e muitas vezes são dispensadas sem remuneração.

Vale salientar que 11,5% da população foi afastada sem receber remuneração (9,7 milhões de pessoas) o que ocasiona um impacto social e econômico imenso. A arrecadação brasileira, baseada predominantemente no consumo, é diretamente atingida como veremos no item 5.

Arrecadação e faturamento de empresas

Conforme a nota técnica n. 43 da Instituição Fiscal Independente (IFI), o total de ajuda da União para os Estados para compensar as perdas nas arrecadações pela crise do Sars-Covid-19 chega a R$ 107,1 bilhão. Ao Piauí, foram destinados R$ 1.343,1 milhões. Os valores envolvem auxílio financeiro, complemento FPE, suspensão de dívida da União, Créditos para saúde, suspensão PASEP e suspensão de outras dívidas

No Piauí, levando em consideração o valor destinado R$ 1.343,1 milhões e a previsão de perdas acumuladas até dezembro de 2020, o valor da ajuda cobriria as perdas do Estado. No entanto, o IFI faz uma outra previsão mais conservadora, na qual o valor da ajuda não cobre as perdas

A arrecadação no Piauí, de janeiro a junho de 2020, teve uma variação negativa de 1,35% em relação a 2019, com queda de 39,97% em abril e 25,02% em maio. Especificamente em junho, o setor que mais contribuiu para a queda na arrecadação foi o combustível que teve uma queda de 25% em junho, seguido por energia com 10%. O varejo, atacado e transporte, juntos, tiveram uma queda de 3%, sendo o terceiro em setores a contribuírem na queda da arrecadação, seguido pelo combustível e energia.

Em termos de setor econômico, especificamente em junho de 2020, verificamos as maiores quedas em informática/equipamentos de comunicação (81,2%); couros e calçados (79,3%); bares, hotéis e restaurantes (74,4%); e Têxteis e confecções (71,5%). Por outro lado, cresceram os setores econômicos de Insumos, máquinas e equipamentos agropecuários (30,6%), Produtos alimenticios (26%), Supermercados/lojas departamentos (25,9%), Medicamentos/farmoquímicos (18,4%). 

Por: Isabela Lopes
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