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Retrospectiva 2020: Mãe e filha abrem um novo negócio em meio à pandemia

As duas estão complementando a renda com a venda de cestas de café da manhã.

30/12/2020 08:50

Foi aproveitando o tempo livre para cozinhar durante a quarentena que Gisa e Milla Coelho - mãe e filha - despertaram para uma nova oportunidade de negócio. As receitas que a mãe testava diariamente foram vistas com outros olhos pela filha, que chegou a lançar a ideia despretensiosamente: “mãe, a senhora tá fazendo tanta coisa que dá para montar uma cesta”.


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 “Durante a quarentena, minha mãe, pra passar o tempo, começou a cozinhar mais do que ela cozinhava antes e a testar várias receitas novas, como croissants, tranças. E, um dia, eu olhei para essa movimentação e disse ‘mãe, a senhora tá fazendo tanta coisa que dá para montar uma cesta’. E a gente fez uma cesta para presentear minha cunhada. Depois, postei a foto no Instagram e uma amiga viu e encomendou uma pra ela, e, assim, a gente começou, no boca a boca”, conta Milla. 

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Para viabilizar o negócio, mãe e filha firmaram parcerias. “Eu pesquisei bastante, fiquei com fornecedores fixos de cestas de madeira, onde a gente coloca todo o material; tem o fornecedor das fitas, balões, canudos. Pesquisei também como decorar a cesta para deixá-la de uma forma única, lúdica, que fosse bem artesanal. E minha mãe sempre cozinhou super bem, ela já tinha a fama de cozinheira de mãos de fada e ficou assistindo vários tutoriais de receitas na internet para fazer coisas diferentes, ficar sempre trazendo coisas novas para as nossas cestas”, detalha.

Milla revela que o único receio das empreendedoras era o cenário de quando o isolamento social acabasse, pois teriam que conciliar a produção das cestas de café da manhã e sacolas de lanches com a loja de roupas, também de propriedade delas. 

“Eu e a mamãe, a gente nunca teve medo de arriscar, sempre fomos muito corajosas, e as cestas foram dando tão certo, as pessoas foram fazendo uma propaganda tão positiva, pedindo com tanta frequência, que a gente só teve um receio, que era quando a pandemia acabasse, como que a gente ia levar a Cestamos junto com a loja de roupas que a gente já tem. Só que quando o comércio reabriu, a gente abriu a loja e decidimos ficar só com as cestas de café da manhã, pela manhã, e não fazer mais as sacolas de lanches. E tá dando muito certo. De manhã cedo a gente faz a entrega das cestas e o restante do dia a gente fica no ateliê de roupas”, explica.

Milla diz ainda que a divulgação da Cestamos se dá basicamente pelo Instagram e pelo boca a boca. “A gente criou um perfil no Instagram e a propaganda boca a boca foi fundamental, foi a que mais funcionou, porque depois da primeira encomenda, choveu de outras encomendas. As pessoas viram que era algo diferenciado, personalizado, com tudo feito em casa, com aquele cuidado de mãe, de cozinha de mãe, que não tinha nada industrializado, essa propaganda foi longe e foi o que mais fortaleceu a gente, além do Instagram, que também abriu várias portas”, finaliza.

Formalização de MEIs durante a pandemia demonstra a capacidade do empreendedor local, avalia Sebrae-PI

Foto: Arquivo O Dia

O cenário era desanimador. Quando as atividades econômicas tiveram que ser suspensas devido à pandemia do novo coronavírus, imaginava-se um forte impacto tanto às empresas já existentes quanto àquelas que ainda iriam nascer. Mas, segundo o Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas do Piauí (Sebrae-PI), o que se viu, com o passar dos meses, foi uma conjuntura diferente. 

Segundo o gerente da Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae-PI, Carlos Jorge, de janeiro a novembro de 2020, houve a formalização de 13.049 novos microempreendedores individuais (MEIs) no Estado. “A gente imaginava que, com a pandemia, o cenário ia ser desfavorável, tanto para os negócios que já existiam quanto para os negócios nascentes. E os números hoje, depois de passados nove meses do início da pandemia, demonstram um cenário diferente, um cenário que vinha em crescimento até março, em abril houve uma queda bastante acentuada, já em maio o cenário começou a se modificar, houve um crescimento, ainda lento, mas houve e o crescimento se estendeu até setembro”, detalha.

Carlos Jorge credita esse desempenho satisfatório aos recursos que foram injetados na economia, bem como à capacidade do empreendedor de se reinventar em meio à crise. “Durante o período mais grave da pandemia, os recursos que foram injetados na economia como um todo no Brasil, provenientes dos auxílios emergências, contribuíram para manter o nível da economia em movimento e estimulou a abertura de novos negócios. Por outro lado, o crescimento de MEIs se deu muito em decorrência do desemprego, houve desocupação, então essas pessoas se tornaram autônomas, enquanto outras se registraram juridicamente como MEI. [...] Isso demonstra a capacidade do empreendedor local e do Brasil, em acreditar, tanto quem já tinha seu negócio e insistiu, muitos não fecharam, pelo contrário, muitos mudaram de atividade ou incorporaram outra atividade ao negócio para poder continuar sobrevivendo, e novos empreendedores surgiram”, pondera. 

Todavia, nos meses de outubro e novembro de 2020, essa curva de formalização voltou a declinar. “Essa queda em outubro e novembro está relacionada também ao auxílio emergencial, que diminuiu de valor. E a possibilidade de uma segunda onda da doença é outro fator que contribui para essa desaceleração. Como já é fim de ano, as pessoas estão preferindo esperar para o próximo ano, já que há a perspectiva de vacina, embora ela não vá imunizar toda a população inicialmente, mas já é um alento”, avalia Carlos Jorge.

“O segmento empresarial procurou se adaptar para sobreviver ao período”, diz presidente da Jucepi

Não só a formalização de microempreendedores individuais surpreendeu o mercado, como também a abertura de novas empresas no Estado. De acordo com a Junta Comercial do Piauí (Jucepi), foram abertas 5.048 empresas até novembro de 2020. O número representa um saldo positivo de 55% quando comparado à baixa de 2.236 empresas, no mesmo período, no Estado. 

Para a presidente da Jucepi, Alzenir Porto, os números revelam que o segmento empresarial conseguiu se adequar à realidade imposta. “É indiscutível que a pandemia da Covid-19 trouxe impactos na abertura de empresas, mas também houve uma queda nas extinções porque, diante das incertezas, o segmento empresarial procurou se adaptar para sobreviver ao período. As empresas piauienses são em sua maioria micro e pequenas empresas nas atividades de comércio e serviços. Para muitas delas, que são familiares, fechar implica a sobrevivência da família”, avalia. 

Alzenir Porto destaca ainda que, conforme os relatórios divulgados mensalmente, de julho a outubro de 2020, a abertura de empresas superou o mesmo período de 2019. No entanto, os dados apontam que, no acumulado de 2020, deve-se registrar menos empresas que no ano passado, quando foram abertas 5.940 empresas no Estado. 

Aprendizados da pandemia para os negócios

O gerente da Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae-PI, Carlos Jorge, acredita que a pandemia deixou como aprendizado a necessidade do empreendedor conhecer efetivamente o seu negócio, conhecer as suas fraquezas e melhorá-las, a partir da implementação de estratégias efetivas para que um momento como esse não venha lhe pegar de surpresa novamente. 

Foto: Divulgação

“A pandemia serviu para as empresas enxergarem que a questão do e-commerce, da venda através de canais online, não é mais para se esperar daqui 10 anos, é imediata, um mercado que todo dia tem um crescimento exponencial incrível. Conhecer melhor o seu cliente, aprender a se diferenciar-se no mercado, entender e enxergar o que são seus custos. Muitas vezes, para o pequeno empreendedor, custo é uma coisa invisível, isso não pode acontecer, você tem que enxergá-los para que possa se apropriar disso e baratear sua operação”, explica. 

E para dar esse suporte aos empreendedores em meio à pandemia, o Sebrae também se reinventou e acelerou o processo de transformação digital. “A gente tinha, antes, um canal muito intensivo através do 0800 e consultorias online, então, intensificamos, ampliamos e melhoramos a interatividade dos clientes através dos canais de WhatsApp, Instagram, Facebook, do próprio portal do Sebrae. O Sebrae realizou muitos eventos online, lives com temáticas voltadas para as necessidades dos clientes naquele momento, principalmente relacionadas à venda, interatividade com o cliente, como estruturar seu delivery. [...] E como as empresas sobreviveram? Foi através do delivery, do e-commerce, do marketing place, foi se instrumentando dessas estratégias que se conseguiu sair daquele momento de isolamento que restringia tudo”, cita.

Por: Virgiane Passos
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