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Retrospectiva 2020: Home office se consolida como trabalho viável e produtivo

A gerente comercial Eliane Viana avalia que a experiência com o home office foi bastante positiva, com exceção da saudade que sentiu de interagir com seus colegas de trabalho.

30/12/2020 08:34

28 de março de 2020. Esta foi a data em que Eliane Viana, gerente comercial de uma Corretora de Seguros localizada em Teresina, passou a exercer suas atividades profissionais de casa. O trabalho presencial no escritório foi suspenso devido à pandemia do novo coronavírus e a profissional viu sua rotina mudar completamente pelos meses seguintes.


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Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Para ela, a experiência com o home office foi bastante positiva, com exceção da saudade que sentiu de interagir com seus colegas de trabalho. “Ganhei qualidade de vida e, consequentemente, a produtividade aumentou. Entre as vantagens de trabalhar de casa destaco o desestresse do trânsito, consegui ter uma alimentação mais saudável, pois eu mesma preparo minhas refeições, tenho maior liberdade profissional, tranquilidade (por morar sozinha) e certa privacidade também. Além disso, tive uma ótima redução de custos com gasolina e refeições. E por mais que eu cumpra o expediente, tenho uma flexibilidade em relação ao horário, consigo adaptar e entregar a meta”, descreve.

Eliane explica que a empresa, ao determinar o home office aos funcionários, exigiu apenas que o horário de expediente fosse cumprido como o habitual e cedeu os equipamentos necessários para a execução dos serviços no novo ambiente. “Nossa empresa trabalha na base da confiança total com os colaboradores”, completa.

Previsão legal

Segundo o advogado Campelo Filho, o teletrabalho já tinha previsão na CLT antes mesmo da pandemia, inclusive pode se dar de forma híbrida, parte presencial e parte em casa. “A legislação prevê, por exemplo, que o material, a tecnologia a ser utilizada pelo trabalhador deve ser provida pelo empregador. Algumas vezes, tem tido a discussão sobre quem deve custear a internet utilizada pelo trabalhador em sua casa; então, a empresa tem que pensar nisso também e o ideal é que ela proveja ou dê algum auxílio para o pagamento dessa despesa”, explica. 

Foto: Arquivo O Dia

Devido a essas especificidades dessa relação de trabalho, Campelo Filho recomenda que as empresas façam um contrato por escrito, a ser assinado também pelo trabalhador, que tem que concordar com esse teletrabalho. “Nesse contrato deve estar de forma clara o que o empregador vai prover, qual a jornada de trabalho, qual a função do empregado na sua casa, porque ele tem que ter obrigatoriamente o horário de intervalo e a empresa tem que fiscalizar isso de forma ostensiva”, pondera. 

Esse rigor com relação à jornada de trabalho assegura que, posteriormente, o empregado não venha pleitear horas extras, dizendo que era obrigado a trabalhar fora da jornada de trabalho, por exemplo. “Ah, mais o trabalhador mandou um e-mail profissional fora do horário de trabalho, ele acessou o computador fora do horário de trabalho, ele utilizou o WhatsApp fora do horário de trabalho para tratar de questões da empresa, como se trabalhando estivesse. Então, a empresa, imediatamente, tem que punir esse trabalhador, tem que dá uma advertência, uma suspensão, cancelar o teletrabalho, tem que mostrar que não aceita o descumprimento das normas. Se a empresa não agir dessa forma, amanhã ela poderá estar sendo acionada judicialmente na Justiça do Trabalho e ser obrigada a pagar as horas extras”, analisa.

O advogado ressalta ainda que o empregador também tem que orientar seu empregado para evitar acidentes de trabalho, dependendo da atividade do trabalhador. “Nesta relação de trabalho, o mais importante é o empregador zelar pela saúde do trabalhador para evitar acidentes de trabalho, assim como prestar os instrumentos necessários para o trabalhador executar suas funções, inclusive prover internet, e limitar a jornada de trabalho”, conclui.

“Equilibrar o profissional, com o pessoal e manter a saúde mental foi desafiador”

Foto: Arquivo Pessoal

As paredes da agência de comunicação corporativa foram substituídas pelo ambiente do lar. Além de coordenar a equipe que assessorava, inclusive, agentes que estavam na linha de frente de combate à pandemia de Covid-19, Mayara Bastos mudou de casa, passou a ter novas responsabilidades com os afazeres domésticos e, passados alguns meses, era hora de atuar também nas eleições municipais de 2020.

“Eu tive um pouco de dificuldade de conciliar o trabalho com os outros afazeres porque coincidiu com a minha mudança de casa. Tive que me tornar dona de casa e, ao mesmo tempo, coordenar uma equipe no meio de uma crise. Então, pra mim, foi bastante transformador, porque, até então, eu não tinha ninguém que ajudasse nas atividades domésticas, eu tive que me readaptar”, conta.

As crises de enxaqueca se tornaram mais frequentes e o desgaste emocional e do corpo se tornaram evidentes. “A campanha eleitoral puxou um ritmo que já estava elevado lá pra cima. Então, fiquei estressada, até porque, humanamente, seu corpo não aguenta e, mesmo em casa, seu desgaste mental triplica. Quando você está no ambiente de trabalho, você consegue desconectar fisicamente e a mente vai junto com você. Mas quando tua casa se transforma no teu lugar de trabalho, essa desconexão é muito mais complicada, muito mais difícil”, descreve.

Mayara relata que, como trabalha com prestação de serviço, houve episódios de clientes que excederam os horários de demandas. “Alguns clientes não entenderam esse momento de parar e o que a gente tenta fazer no dia a dia é delimitar o horário do almoço, o horário de atender ligações, que vai resolver algum problema, para que a gente possa ter esse equilíbrio”, confessa.

E foi exatamente em busca desse equilíbrio que a profissional investiu no autocuidado. “Para dar certo, no meu caso, eu leio muito, assisto muita coisa, tento me conhecer mais para evitar essas crises de enxaqueca que, muitas vezes, são ocasionadas pelo estresse. Não deixei de correr, que é uma coisa que eu gosto de fazer, comecei a fazer meditação, que foi uma das coisas que eu consegui, e me desligar um pouco do celular, tirar ele um pouco de perto”, detalha.

Vantagens

Apesar do esforço para se manter em equilíbrio em meio a tantas transformações, Mayara Bastos elenca as vantagens do trabalho em home office, tanto em nível pessoal quanto para a equipe com quem trabalha. “Antes eu me deslocava muito visitando clientes, isso estressava demais, então essa parte do trânsito melhorou consideravelmente. Já com relação à equipe, nós elevamos muito a produtividade, a gente entregou muito resultado, até pela natureza do nosso trabalho, que é a gestão em comunicação e consultoria. Alguns dos nossos clientes estavam no centro da pandemia, na crise mesmo, eram hospitais, médicos, supermercados, então a gente tinha que entregar resultados porque esses clientes estavam na linha de frente”, destaca.

Já entre as desvantagens da experiência, Mayara cita a falta dos relacionamentos interpessoais, a troca mais de perto com os colegas de trabalho, os ruídos de comunicação eram menores. “É desafiador, mas acho que é uma modalidade que veio para ficar. No nosso caso específico, que são serviços de comunicação, acho totalmente possível continuar, acho que funciona bem, só precisa realmente uma dedicação muito nossa, de tentar fazer essa delimitação que é tão importante pra gente conseguir manter nossa saúde mental, manter nosso equilíbrio emocional”, conclui.

Por: Virgiane Passos
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