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Grupos pró-governo ampliam motes para afastar radicalismo de protestos

As bandeiras anunciadas pelos mobilizadores se desdobraram tanto nas últimas horas que resultaram em um bloco difuso

21/05/2019 13:09

Com movimentos de direita rachados, grupos que organizam as manifestações de domingo (26) adaptaram o discurso para excluir motes radicais e tentar ampliar a adesão de apoiadores do governo Jair Bolsonaro (PSL).

Se na semana passada as pautas que despontavam eram as de fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal), agora o foco, ao menos oficialmente, se fecha no centrão, que será apontado como responsável por paralisar o governo.

Mas não é só isso. As bandeiras anunciadas pelos mobilizadores se desdobraram tanto nas últimas horas que resultaram em um bloco difuso.

As convocações falam também em demonstrar apoio à reforma da Previdência e ao pacote anticrime do ministro Sergio Moro, pedir a continuidade da Operação Lava Jato e defender a obrigação do voto nominal como estratégia para constranger parlamentares em projetos polêmicos.

Outra causa que move os manifestantes é a aprovação da medida provisória 870, que enxuga a estrutura do governo.

Na linha de frente da mobilização estão grupos como Ativistas Independentes, Direita São Paulo e Patriotas Lobo Brasil. O Clube Militar também se engajou na causa, em nome das "reformas necessárias à governabilidade".

Movimentos com estrutura mais robusta, como MBL (Movimento Brasil Livre) e VPR (Vem pra Rua), que atuaram como indutores dos protestos pela queda de Dilma (PT), evitaram aderir à iniciativa.

A principal justificativa para pularem fora foi a de existir radicalismo nas propostas contra Legislativo e STF.

"O movimento liberal não compactua nem com o fechamento do Congresso nem com o fechamento do Supremo", diz à reportagem o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), face mais pública do MBL.

"Você pode e deve criticar atitudes de membros dessas instituições, mas nunca demonizá-las. Presidente que se diz conservador não pode atropelar a instituição democrática", segue o parlamentar, um dos fundadores do movimento.

O MBL jogou a bomba no colo de Bolsonaro porque diz ter encontrado em monitoramentos indícios de que a convocação inicial, com motes de derrubada das instituições, partiram de simpatizantes do núcleo duro bolsonarista.

"São redes ligadas ao Carlos [Bolsonaro] e ao Olavo [de Carvalho], grupos obscuros no Twitter, no Facebook", afirma Renan Santos, coordenador nacional do MBL.

"Eles [movimentos] estão falando que vão defender a MP 870, a reforma? Sim, mas a maior parte dos memes e hashtags que está circulando fala em defesa do Bolsonaro, culpa do Congresso, culpa do centrão. Retórica antipolítica."

Na sexta-feira (17), o grupo divulgou nota criticando o que chamou de "estranha manifestação" que acabaria por prejudicar a já estremecida relação com o Parlamento e, consequentemente, dificultar a aprovação das reformas.

"Tem pessoas bem-intencionadas querendo ir, beleza. Mas nós consideramos que uma manifestação contra o Congresso é ruim para a Previdência", segue Renan.

O Vem pra Rua chegou a ser procurado para se envolver na convocação de domingo, mas se retirou quando notou "o absurdo que eram as pautas", segundo Adelaide Oliveira, coordenadora nacional.

Embora parte das bandeiras de agora seja empunhada também pelo VPR, o grupo decidiu ficar fora porque, segundo Adelaide, o protesto "virou um ato claramente pró-Bolsonaro". E a entidade, explica ela, "é suprapartidária, não defende políticos ou pessoas, mas ideias e projetos".

A divisão nos movimentos desembocou em alfinetadas. Adelaide diz que "era um grupinho pequeno" o que propôs inicialmente o levante do dia 26, "uma coisa não estruturada". Renan diz que os grupos que "agem como vaquinha de presépio do governo, concordando com tudo" passaram a difundir a ideia de que o MBL é traidor dos conservadores.

No front dos que estão engajados com a preparação, Ana Claudia Graf, do Ativistas Independentes, refuta a afirmação de que o mote inicial era combater Congresso e STF.

"Isso [pedir fechamento] é mentira. Nossa manifestação está agendada desde 20 de abril", diz ela. "O Brasil está paralisado e sangrando por causa do centrão, que insiste em chantagear o presidente. Querem ministérios e cargos. Vamos apoiar as pautas do governo; automaticamente apoiamos, sim, o presidente."

Argumento semelhante tem Douglas Garcia, um dos fundadores do Direita São Paulo e deputado estadual pelo PSL. Para ele, a divulgação de que o ato pregaria ataques a instituições foi "para tentar desestimular um movimento que não é aparelhado".

"A avenida Paulista é livre, mas a maior parte das pessoas vai se manifestar em apoio à Previdência, ao pacote do Moro e à MP 870 e para pressionar o centrão a apoiar essas pautas", diz ele.

Fonte: Folhapress - Foto: Marcos Corrêa/PR/Agência Brasil
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