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Exército vê "œexcesso de compreensão com direitos" no Brasil

Essa e outras declarações revelam explicitamente um desejo de fortalecimento do "œprincípio da autoridade".

01/03/2018 13:36

“Existe, hoje, no Brasil, uma excessiva compreensão com direitos”, afirmou oficialmente o Exército Brasileiro ao responder uma série de perguntas enviadas pela nossa reportagem ao Centro de Comunicação da instituição. Os questionamentos –publicados na íntegra pelo The Intercept Brasil – são parte de uma apuração sobre a intervenção federal no estado do Rio de Janeiro, que é comandada por militares e com prazo mínimo até o final deste ano.

Essa e outras declarações, que revelam explicitamente um desejo de fortalecimento do “princípio da autoridade”, foram enviadas por e-mail. “O princípio da autoridade deve ser fortalecido e o sentido de disciplina social deve ser recuperado”, diz o Exército. As respostas do Centro de Comunicação foram acompanhadas por ao menos um oficial, o coronel Nador Serrano Brandão.

Questionamos, também, sobre as possíveis comparações entre o momento atual e o período de ditadura militar instaurada em 1964 pela mesma instituição. As respostas culminaram numa análise do cenário político atual do país, quebrando o tom usualmente protocolar de manifestações da instituição:

“Atualmente, a falta de um projeto nacional tem impedido que a sociedade convirja para objetivos comuns. Isso inclui, até mesmo, a necessidade de referências claras de liderança política que nos levem a bom porto”.

Para o Exército, o Brasil é hoje “um país muito mais complexo e sofisticado” do que na década de 1960 e “é chegada a hora de consentir que o período que engloba 1964 é história e assim deve ser percebido”.

Alfinetadas em Bolsonaro e Temer

Graças à decisão do presidente Michel Temer de decretar intervenção militar no Rio de Janeiro, o Exército ganhou protagonismo raramente visto nos anos pós-ditadura. Questionei sobre as diferenças entre os dois períodos históricos. Parte da longa resposta foi: “Está difícil de identificar, no Brasil de hoje, uma base de pensamento com capacidade de interpretar o mundo atual, de elaborar diagnósticos estratégicos apropriados e de apontar direções e metas para o futuro”.

Sobre o deputado federal Jair Bolsonaro, capitão da reserva e pré-candidato a presidente da República com um discurso militarista – empunhando também a bandeira do “excesso de direitos” –, o Exército disse: “Como as Forças Armadas têm apresentado altos índices de confiança por parte da população, alguns atores tentam estabelecer certa ligação com os militares. No entanto, e em última análise, é a população quem vai julgar os partidos e os candidatos, por intermédio do voto, devendo, para tanto, conhecer muito bem os projetos e ideias de cada um deles”.

Até tu, Kennedy

Até mesmo o discurso de posse do ex-presidente americano John Kennedy foi usado para reforçar a visão sobre direitos em excesso na área de segurança pública:

“Nessas horas lembramos as palavras do ex-presidente norte-americano, John F. Kennedy, ‘Não perguntes o que a tua pátria pode fazer por ti. Pergunta o que tu podes fazer por ela’”.

Questionado, em uma segunda rodada de perguntas, sobre “quais direitos são compreendidos de forma excessiva” no país, o Exército pontuou que se referia à área da segurança pública. Na semana passada, militares ladeados por blindados de guerra começaram a fichar moradores nas favelas do Rio de Janeiro.

Essa atuação pode não ficar restrita apenas ao Rio de Janeiro. Hoje, o presidente Michel Temer se reunirá com os governadores de todos os Estados e com o recém-empossado ministro extraordinário da Segurança Pública, Raul Jungmann. Na pauta, segurança pública.

A ideia de que a instituição tem a confiança da população foi reforçada na troca de e-mails: “o desejo de atuação dos militares reflete o anseio da população pelos valores consagrados nas Instituições Militares e, também, reflete a materialização do capital de confiança apresentado nas pesquisas e consignado às Forças Armadas”.

Leia a reportagem completa no The Intercept Brasil.

Fonte: The Intercept
Por: Nayara Felizardo
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