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Bolsonaro diz que Witzel manipulou apuração de Marielle

A declaração foi feita neste sábado (2), na saída de uma concessionária em Brasília, onde comprou uma moto.

02/11/2019 14:52

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) acusou o governador fluminense, Wilson Witzel (PSC), de ter manipulado o processo que apura o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) para incriminá-lo. A declaração foi feita neste sábado (2), na saída de uma concessionária em Brasília, onde comprou uma moto.

Apesar de ter dito ter "convicções" de que o governador interferiu nas investigações, Bolsonaro não forneceu evidências de que isso tenha ocorrido.

"Quem está por trás disso? Eu não tenho dúvida: governador Witzel, que só se elegeu graças ao meu filho, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que colou nele o tempo todo. Chegando, um mês depois virou nosso inimigo. Começou a usar a máquina do estado para perseguir o Flávio, o Carlos [vereador e filho do presidente] agora também, o Hélio Negão [deputado federal], tudo quanto é amigo meu tão sendo investigados agora lá no Rio de Janeiro", disse.

Ele ainda insinuou que a atuação tenha se dado por meio do delegado da Polícia Civil que cuida do caso, chamado pelo presidente de "amiguinho de Witzel". 

"A minha convicção é de que ele agiu no processo para botar meu nome lá dentro. Espero agora que não queiram jogar para cima do colo do porteiro. Pode até ser que ele seja responsável, mas não podemos deixar de analisar a participação do governador. Como é que pode um delegado da Polícia Civil ter acesso às gravações da secretária eletrônica? Dado o depoimento do porteiro? Será que não teve a capacidade: 'onde estaria o deputado numa quarta-feira?' ", questionou.

Na quinta (31), a Polícia Civil do Rio de Janeiro divulgou nota negando que Witzel tenha interferido no caso.

"A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro é uma instituição de estado, não de governo, com 211 anos de serviços prestados à sociedade fluminense. Todas as investigações são conduzidas com absoluta imparcialidade, técnica e observância à legislação em vigor", diz a nota. 

O presidente falou espontaneamente sobre a reportagem do Jornal Nacional de terça-feira (29) enquanto apontava riscos que teria de enfrentar se quiser andar de moto pelas ruas de Brasília.

"Eu vim comprar isso daí [uma motocicleta], não sei se no futuro eu vou poder usar a moto fora porque o risco de ... é muito grande. Não como o de um piloto normal, mas de gente que não gosta da gente, gente que como grande parte... por exemplo, sistema Globo. Acabou a mamata", disse. 

Reportagem da TV Globo, veiculada na terça-feira (29), apontou que um porteiro (cujo nome não foi revelado) deu depoimento dizendo que, no dia do assassinato de Marielle, em 14 de março de 2018, Élcio Queiroz  -ex-policial militar envolvido no crime- afirmou na portaria do condomínio que iria à casa de Bolsonaro, na época deputado federal.

Ele insinua ainda que o governador e o delegado tenham atuado conjuntamente para vazar as informações sigilosas para a TV Globo.

"Qual era a ideia? Botar no processo, divulgar com exclusividade da Globo de sempre, essa Globo de sempre que tem acesso a qualquer processo ai com segredo de justiça para exatamente tentar moer reputações. Se deram mal. 

Pelo depoimento do porteiro apresentado pela emissora, ao interfonar para a casa de Bolsonaro, um homem com a mesma voz do presidente teria atendido e autorizado a entrada. O suspeito, no entanto, teria ido a outra casa dentro do condomínio.

O funcionário relatou ter interfonado uma segunda vez para a casa de Bolsonaro, tendo sido atendido pela mesma pessoa, que afirmou saber que a casa 66 era o real destino do visitante. A planilha manuscrita de controle de entrada de visitantes, apreendida no dia 5 de outubro, registra a entrada de Élcio para a casa 58, do presidente.

Na quarta, a promotora Simone Sibilio afirmou que a investigação teve acesso à planilha da portaria do condomínio e às gravações do interfone e que ficou comprovado que a informação dada pelo porteiro não procede.

Segundo a Promotoria, há registro de interfone para a casa 65 (enquanto a casa de Bolsonaro é a de número 58), e a entrada de Élcio foi autorizada pelo morador do imóvel, Ronnie Lessa.

A perícia feita pelo Ministério Público do Rio de Janeiro nas gravações da portaria do condomínio do presidente Jair Bolsonaro não avaliou a possibilidade de algum arquivo ter sido apagado ou renomeado antes de ser entregue às autoridades, aponta documento apresentado à Justiça.

Outra promotora do caso, Carmen Carvalho, que apoiou Bolsonaro na campanha eleitoral, deixou a investigação no fim da semana. O presidente não quis comentar seu afastamento. 

"Olha só, deve ter no meio de vocês gente que votou em mim, deve ter, com toda a certeza. Agora a promotora resolveu sair, tá certo? Agora, eu estava em Brasília, está comprovado. Várias passagens minhas pelo painel eletrônico da Câmara, com registro de presença, na quarta-feira geralmente parlamentar está aqui", disse para reafirmar que ele não poderia ter autorizado a entrada do ex-policial em seu condomínio.

Bolsonaro sugeriu ainda que o porteiro possa ter sido induzido a incriminá-lo.

"Eu estava aqui [em Brasília], não estava lá [Rio], e outra, nós pegamos antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de anos, a voz não é minha. Não é o seu Jair. Agora, que eu desconfio, que o porteiro leu sem assinar [sic] ou induziram ele a assinar aquilo? Induziram entre aspas, né? Induziram a assinar aquilo", disse.

Ao dizer isso, afirmou que Witzel estaria por trás de tal indução.

"Por que isso? Porque ele está com sonho e obsessão de ser presidente, e eu sou um obstáculo que tem que ser vencido. Perdeu, Witzel, até porque no dia 9 de outubro você teve acesso ao processo em segredo de Justiça. Não deveria ter acesso a esse documento", disse.

Bolsonaro disse durante a semana que o governador do Rio contou a ele sobre a menção de seu nome nas investigações do caso Marielle. Segundo o presidente, isso ocorreu em Brasília, em 9 de outubro, durante um jantar em comemoração ao aniversário do ministro Augusto Nardes, do TCU. 

O presidente disse que, à época, não fez nenhuma denúncia contra Witzel, por ele ter tido acesso a investigações sigilosas, por não ter acreditado nas palavras do governador.

Ele acusou ainda o delegado da Polícia Civil que apura o caso de ser "amiguinho" de Witzel.

"Temos uma.. está requisitado, está tudo deferido, é a Polícia Federal com o assessoramento do MP Federal lá da seção do Rio de Janeiro. Vamos ouvir o porteiro, vamos ouvir ai o delegado também, o delegado que é muito amiguinho do governador, e logicamente que gostaria que o governador também participasse, né?", disse.

Questionado sobre o que o governador teria feito para incriminá-lo, Bolsonaro limitou-se a dizer que ele "manipula o processo". Indagado sobre como isso seria feito, disse que "o próprio processo em si, do porteiro". 

O presidente negou que tenha tratado da menção de seu nome no inquérito com o procurador-geral da República, Augusto Aras, com quem se encontrou no dia 19 de outubro, na véspera de uma viagem de 11 dias pela Ásia e Oriente Médio. Ele disse que o caso foi levado ao PGR pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro. 

"Sem interrogatório aqui. Não, eu não trato isso com o Aras. Não tem cabimento, o tratamento com Aras foi via ministro da Justiça."

O presidente deixou o Palácio da Alvorada na manhã deste sábado para comprar uma motocicleta em uma concessionária a 14 quilômetros da residência oficial da Presidência.

Ele disse ter pagado o veículo com seus recursos próprios e voltou a pedir que a imprensa divulgue seus gastos com cartão corporativo. 

Bolsonaro não quis falar quanto pagou pela moto, que no site da concessionária é anunciada a um valor de R$ 33.980,00. O dono da loja, que abriu o estabelecimento apenas para atender o presidente, disse que houve uma negociação dura para a venda e que foi concedido um desconto de cerca de 10% ao presidente. 

"Eu estou com uma boa poupança. Eu estou com uns R$ 400 mil na poupança. Pô, eu tô rico. Eu tô rico, tá certo?", disse Bolsonaro.

Fonte: Folhapress
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