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Adolescente de 14 anos morre baleado a caminho da escola no Rio

O caso desta quarta levou a Defensoria Pública do RJ a entrar com um pedido de liminar na Justiça para proibir disparos de aeronaves durante operações nas favelas ou em lugares densamente povoados.

21/06/2018 10:21

Um adolescente de 14 anos foi morto nesta quarta-feira (20) durante operação policial no complexo de favelas da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro.

Devido aos ferimentos, o jovem teve o baço retirado, foi internado em estado grave e passaria por nova cirurgia na sexta-feira (22), segundo a família, mas morreu no inicio da noite desta quarta. O garoto foi atingido enquanto ia para o colégio, por isso chegou ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, a cerca de 7 km da Maré, de uniforme.

A ação da Polícia Civil, que teve apoio do Exército e da Força Nacional, também deixou seis mortos e, de acordo com a ONG Redes da Maré, mais dois feridos: um segundo adolescente não identificado que também estaria internado e um mototaxista atingido por estilhaços que já teria sido liberado -o que não foi confirmado pela polícia.

Foto: Reprodução

Vídeos publicados nas redes sociais mostram um helicóptero sobrevoando as casas, com sons de disparos em série. Segundo a ONG, o chão da favela tem muitas marcas de tiro e restos de munição - ​​foram contabilizadas, por exemplo, 59 marcas em um perímetro de 280 metros e outras 100 em uma área próxima a escolas. Crianças tiveram que se esconder do tiroteio em dois colégios da região.

O caso desta quarta levou a Defensoria Pública do RJ a entrar com um pedido de liminar na Justiça para proibir disparos de aeronaves durante operações nas favelas ou em lugares densamente povoados. A prática também foi filmada em uma outra ação na Maré recentemente.

"A probabilidade de atingir pessoas inocentes é imensa, tanto que, mais uma vez, um adolescente foi ferido, além do terror psicológico que causa aos moradores e interrupção das atividades na comunidade", afirma o defensor público Daniel Lozoya, que assina a petição.

A operação

A operação na Maré, que começou por volta das 9h e contou com mais de cem policiais, teve apoio logístico do Exército -responsável apenas por transportar os agentes em veículos blindados até os pontos assinalados pela polícia, segundo o Comando Militar do Leste.

O objetivo era cumprir 23 mandados de prisão e checar informações obtidas pelo setor de inteligência da Polícia Civil. A ação teria relação com a morte do inspetor Ellery de Ramos Lemos, chefe de investigações da Delegacia de Combate às Drogas.

Ele foi baleado na cabeça no último dia 12, durante uma operação contra o tráfico em Acari (também na zona norte do Rio de Janeiro).

Segundo a Polícia Civil, agentes que foram efetuar as prisões em duas residências nesta quarta "foram recebidos com intenso disparo de armas de fogo". No confronto, seis suspeitos teriam sido feridos e socorridos, mas acabaram morrendo.

Já a Redes da Maré diz, em seu site, que moradores da região da Vila dos Pinheiros relataram a execução de cinco jovens por agentes. "Segundo informações colhidas pela equipe da Redes da Maré, os policiais utilizavam luvas e teriam desfeito a cena do crime jogando os corpos dos jovens pelo segundo andar da casa onde ocorreu o crime."

O Hospital Federal de Bonsucesso, que fica ao lado do complexo e recebeu cinco dos mortos, informou que eles chegaram já sem vida, por volta das 11h. Todos eram homens com idades entre 20 e 30 anos.

A ação teve participação de três delegacias especiais, três delegacias policiais da região (Vicente de Carvalho, Pavuna e Queimados), da Coordenadoria de Recursos Especiais e do Serviço Aeropolicial.

De acordo com a polícia, os agentes apreenderam quatro fuzis, oito carregadores, duas pistolas, quatro granadas, munição e drogas (1.832 pinos de cocaína, 75 saquinhos de maconha e cerca de 2 kg de cocaína), além de ferramentas utilizadas para arrombamento de caixas eletrônicos.

A Polícia Civil não comentou o caso do adolescente baleado nem respondeu aos questionamentos da reportagem sobre denúncias dos moradores de tiros indiscriminados do helicóptero, execução dos suspeitos e arrombamento de casas sem mandado judicial.

Outra operação

A zona sul do Rio também amanheceu com tiroteio nesta quarta, por volta das 6h30. Uma operação da Polícia Militar nos morros Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, que ficam entre Copacabana e Ipanema, deixou ao menos dois feridos. Ambos foram levados ao Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon, mas a PM disse não saber se algum deles morreu.

"No início da ação, criminosos atiraram contra os policiais que 'incursionavam' no local e houve confronto", informou a corporação em nota. Depois que os tiros cessaram, os dois feridos foram socorridos, dois presos foram conduzidos para a delegacia da área e uma pistola foi apreendida.

Policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da região realizaram a ação para "coibir práticas criminosas nas comunidades", em conjunto com o Grupamento de Intervenções Táticas da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP).

O estado do Rio de Janeiro está sob intervenção federal na segurança pública desde o dia 16 de fevereiro, sob comando do interventor e general do Exército Walter Braga Netto.

Fonte: Folhapress
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