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Supostas vítimas de médico desenvolvem Síndrome do Pânico após abusos

Até agora, sete vítimas prestaram depoimento e mais 13 pessoas foram ouvidas. Médico está sendo investigado pelo crime de violação sexual mediante fraude

14/03/2017 15:42

A delegada Carla Brizzi, responsável pela investigação das denúncias de abuso sexual supostamente praticado pelo obstetra e ginecologista Felizardo Batista, pediu a dilação do prazo para concluir o inquérito. Até agora, sete vítimas prestaram depoimento e mais 13 pessoas foram ouvidas.

O processo segue em segredo de justiça e todas as informações são preservadas. Segundo a delegada, isso é importante para não expor as mulheres que tiveram a coragem de denunciar. “Existem vítimas que sofreram abalo psicológico. Algumas estão sendo acompanhadas por psicólogos e até por psiquiatras, pois desenvolveram Síndrome do Pânico”, afirma a delegada.

As consequências emocionais são piores devido a uma séria de fatores que envolvem abusos sexuais praticados em situações como as denunciadas. “A relação de confiança é quebrada, existe o sentimento de impotência por causa da vulnerabilidade e ainda há o constrangimento que gera na vítima. Entre todas as mulheres que denunciaram, apenas uma teve coragem de falar na hora da consulta. Todas as outras ficaram paralisadas, com medo e sem reação”, avalia a delegada.


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O médico está sendo investigado pelo crime de violação sexual mediante fraude, pois teria usado o pretexto de fazer exames para praticar atos libidinosos com as pacientes. A pena prevista é de 2 a 6 anos de prisão.

Segundo a delegada Carla Brizzi, caso o inquérito conclua pelo indiciamento, o médico poderá ser denunciado por concurso material de crimes, ou seja, quando a pena é multiplicada pelo número de vítimas que sofreram o mesmo dano, porém em situações diferentes.

Os depoimentos prestados pelas mulheres estão sendo reforçados por amigos, parentes ou outras pessoas com quem elas compartilharam as informações. “Na falta de testemunhas ou de filmagens, a palavra de quem sofreu o abuso é o principal instrumento da investigação. Ouvimos outras pessoas para entender melhor o depoimento das vítimas”, afirma Brizzi. Mensagens e gravações de áudios também estão sendo utilizadas para confirmar as denúncias.

Carla Brizzi acrescenta que os depoimentos das mulheres possuem muitos detalhes e chama atenção a coincidência entre as informações prestadas por várias pessoas diferentes. “São depoimentos fortes, mas em um universo de centenas de mulheres atendidas pelo médico, é possível que existam outras vítimas. Se existirem, que denunciem. Quando muitas se juntam, elas se tornam mais fortes”, reforça a delegada.

Medo e omissão

Sem apoio na família e na sociedade em geral, muitas vítimas de abuso temem a exposição e os julgamentos, que podem ser piores quando o acusado é um profissional renomado e de grande credibilidade. O medo, então, torna-se o principal motivador da omissão e, consequentemente, ajuda o acusado a permanecer fazendo novas vítimas.

Em 2012, a Câmara Técnica de Assédio Sexual do Conselho Regional de Medicina de São Paulo traçou um perfil dos acusados de abusar de pacientes, com base em dados de outubro de 2003 a fevereiro de 2009. De acordo com o levantamento, os abusadores têm, em média, 40 a 60 anos e possuem mais de 20 anos de profissão. As especialidades mais mencionadas são Ginecologia, Clínica Médica, Ortopedia e Psiquiatria. Em anos mais recentes, verificou-se ainda o aumento das denúncias em Cirurgia Plástica e Cardiologia.

Por: Nayara Felizardo
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