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"œOu trabalho na rua, ou morro de fome", diz trabalhador informal sobre crise prolongada

Sem salário fixo e com cenário pandêmico atual, grupo de trabalhadores informais enfrenta inúmeras dificuldades sob sol forte em semáforos de Teresina

03/09/2021 12:34

É sob um sol escaldante e vestido de palhaço que Ronaldo Rodrigues, de 41 anos, vende artesanato para crianças todos os dias no semáforo do cruzamento da Rua Coelho de Resende com a Avenida Frei Serafim, no Centro Sul de Teresina. É desse trabalho que ele tira o sustento dos três filhos há mais de 10 anos. Entre um sinal e outro, ele sabe que até o final do dia precisa bater uma meta de R$ 50 a R$ 60 ou então passará fome. Tendo essa a única fonte de renda direta, ele conta as dificuldades enfrentadas durante a pandemia e falta de assistência por parte do poder público.   

Fotos: Assis Fernandes/ODIA

“No sinal, devagar, a gente vai vendendo. Por dia, preciso fazer R$ 50 a R$ 60 porque assim eu consigo tirar o do almoço e, com o restante, sustento minha família. Eu preciso dar de comer a três meninos todos os dias. A vida é essa, ou trabalho na rua ou morro de fome. O governo aumentou tudo e tudo fica mais difícil porque não recebo auxílio”, disse Ronaldo ao PortalODia.com.

Os vendedores ambulantes ou até os que ficam fixos em sinais e paradas de ônibus estão entre os mais afetados pela pandemia da Covid-19 em Teresina. Ronaldo relata a preocupação das pessoas em comprar os produtos ou trocar dinheiro por causa da contaminação. Além disso, segundo ele, as altas temperaturas prejudicam as vendas.

Fotos: Assis Fernandes/ODIA

“Hoje em dia ficou mais difícil. O pessoal não quer pegar no dinheiro ou em nossas mercadorias mesmo com todas as proteções. A gente chega perto e pessoal baixa o vidro. Agora com a chegada do B-R-O-BRÓ, a situação piora ainda mais porque é muito quente. O sol queima a pele e a gente não aguenta muito tempo aqui” - Ronaldo Rodrigues.


Essa é a mesma realidade enfrentada por Ismael Silva, de 31 anos, que trabalha no mesmo local limpando vidros de carros.  Nas mãos, rodo e uma garrafa com água e sabão. O objetivo é chamar a atenção dos motoristas e ganhar um trocado. Na rua há tanto tempo que nem lembra mais, ele fica atento a cada sinal vermelho e se arrisca entre um carro e outro, vítima da desigualdade social.


Ismael sai do bairro Nova Teresina, na Zona Norte, e chega ao cruzamento antes das 07h e permanece até às 15h, quando a temperatura do local fica insuportável. Da mesma forma que Ronaldo, ele sabe que precisa lavar muitos carros para levar o mínimo para casa. 

“Eu queria ter estudado, ter um lápis e caneta na mão, mas essa não é minha realidade. Estou há vários anos nesse local e, a gente lava um carro aqui e outro acolá, para ganhar moedas. Para a Glória de Deus a gente vai indo e não podemos parar por causa disso. Eu recebi o auxílio de R$ 150, mas todo mundo sabe que o valor é pequeno e por isso eu preciso completar com o trabalho aqui do sinal. O importante é nunca perder a fé de dias melhores. Se eu for depender dos R$ 150, eu morro de fome” - Ismael Silva. 


Nem só de pessoas vendendo produtos vivem os semáforos de Teresina. Há quem está buscando uma oportunidade de trabalho como Rosineia Feitosa, de 28 anos. É segurando uma placa que ela anuncia que está disposta a trabalhar em qualquer área, pois precisa prover o sustento dos quatro filhos. 

“Estou passando por uma situação muito difícil. Tenho quatro filhos para criar, moro de aluguel e estou com minhas contas de água e luz atrasadas. Eu estou disposta a trabalhar com qualquer coisa – gari, serviços gerais, empregada, qualquer coisa. Eu estou vivendo aqui no sinal e pedindo ajuda” -  Rosineia Feitosa. 

Rosineia, que mora no bairro Pedra Mole, Zona Norte, relatou ainda que teve o bolsa família cortado. Questionada sobre o motivo, ela não soube responder. Quem quiser ajudar com uma vaga de emprego pode entrar em contato através do (86) 99404-7194.

“Fui várias vezes lá e disseram que eu não tinha direito, mas não me disseram o motivo. Daí agora estou vivendo do sinal. Muitas pessoas ajudam e outras criticam, mas eu estou disposta a trabalhar. Eu só preciso de uma oportunidade”, disse. 



Há 10 anos vendendo castanhas e tangerinas no semáforo da Praça do Marquês, na Zona Norte, o aposentado Aldeci dos Santos, de 64 anos, chega às 09h e deixa o local às 17h. Ele mora em Timon, no Maranhão. De acordo com ele, as vendas diminuíram com o isolamento social.

“A gente está só escapando. A pandemia atrapalhou bastante as vendas, mas a gente vem porque não pode ficar em casa. A distribuição do auxílio emergencial, na visão, foi errada porque muitos receberam sem precisar e outros que receberam não souberam guardar. Eu ando dentro do sinal e, nessa época, o calor atrapalha bastante. Eu não vou desistir nunca, pois preciso disso. É o meu sustento, minha vida, e tenho orgulho de trabalhar honestamente” - Aldeci dos Santos.

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