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VÍDEO: Enfermeira diz temer voltar ao trabalho após ataque racista

A médica suspeita de praticar crime de racismo contra a enfermeira Laiane Nunes

04/05/2021 10:06

Atualização 12h35min

A enfermeira Laiane Nunes, vitima de injúria racial no HUT, conversou com a repórter Lalesca Setubal, para uma entrevista ao programa Rota do Dia,  da O dia TV. Laiane Nunes pediu justiça e disse que a médica tem que ser responsabilizada após chama-lá de enfermeira de "escurinha". 

"Ela vai ter que ser responsabilidade por tudo que ela fez, porque não é só um crime, foi a vergonha que eu passei, o meu psicológica está abalado e a exposição no meu setor de trabalho, tudo isso me afeta. Ontem (3), eu recebi muito apoio, mensagem de pessoas que eu não conhecia, mas hoje (4) eu estou bem triste, porque a gente luta muito e eu sempre estudei para estar onde eu estou. Eu não esperava passar por isso, estou com medo de voltar ao HUT. Eu fui exposta na frente de todos", lamenta Laiane Nunes.

Veja entrevista na integra:


Laiane é natural da cidade de Floriano, e se mudou para Teresina há três anos, após ser aprovada no concurso do HUT para o cargo de enfermeira. A vitima de injúria racial, relata que tudo começou por volta de 21:30h, quando um cirurgião pediátrico lhe pediu uma sala para realizar o procedimento. 

Laiane Nunes se direcionou para sala de repouso, onde estava a médica anestesista suspeita de cometer a injúria, ela lhe informou que uma criança iria realizar um procedimento cirúrgico. A médica se dirigiu ao quarto e a criança ainda não estava no “ponto”. Logo depois, iniciou-se uma discussão relacionada ao quarto e preparativos para cirurgia.

Tanto a médica, quando a Laiane Nunes, disseram que iriam relatar o ocorrido em documentações e logo em seguida, a técnica de enfermagem, que estava auxiliando na organização para o quarto, se manifestou e disse:

“Já que ela vai relatar eu vou dizer, a médica estava dizendo ‘chama ali aquela enfermeira escurinha’, e disso, depois começou uma discussão. E eu falei que ia denunciar e que ela iria apreender a trata o ser humano, e que minha cor não me diminuía e a profissão dela não se colocava superior à minha em nenhum momento”, descreve Laiane Nunes.

A médica chegou a afirmar, na frente de outros colegas de profissão, que havia chamado Laiane escurinha”, por não saber o nome dela. Mas segundo a vítima, isso não é justificativa, pois a especialista poderia ter falo para chamar a responsável ou a enfermeira do setor, já que Laiane Nunes, era única que estava de plantão.

A vítima informou que ligou para o 190, foi dirigida para a Central de Flagrantes e pediram que na segunda-feira, 03, ela procurasse uma delegacia responsável pela zona sul, onde prestaria depoimento. Depois Laiane procurou a Delegacia de Direitos Humanos, o Conselho Regional de Enfermagem do Piauí (Coren) e o Conselho Regional de Medicina Do Piauí (CRM-PI). Por fim, Laiane reforça que ações como essa devem ser denunciadas, mesmo quando a vitima não tem apoio, pois só assim essa realidade vai mudar.

“Não deixem passar essas situações, porque quando passamos por este tipo de crime, não podemos nos sentir acuadas, peço as pessoas que façam valer o que esta na lei, e que apesar de tudo, temos que continuar batendo na tecla até que chegue o dia que isso não ocorra mais", conclui.


Entenda o caso

O Sindicato dos Enfermeiros, Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do Estado do Piauí (Senatepi) está acompanhando o caso de uma médica suspeita de ter cometido crime de injúria racial contra uma enfermeira, no Hospital de Urgência de Teresina (HUT).

O presidente do Erik Riccely entrou com representação contra a médica anestesista,  sobre acusação de racismo contra a enfermeira da unidade, Laiane Nunes de Sousa. O caso ocorreu no Centro Cirúrgico do HUT, durante o plantão do último domingo (02). 

(Foto: Arquivo/ODIA)

“A médica chamou a profissional de ‘enfermeira escurinha’, uma triste situação que não é nova e que não iremos mais tolerar. Esse episódio que ocorreu no HUT é extremamente grave e ao mesmo tempo horrendo. Causa uma repugnância. A médica anestesista agrediu a enfermeira por conta da cor da pele, porque a ‘enfermeira escurinha’ foi chamá-la no repouso e o paciente ainda não estava pronto como ela queria. Sendo que o enfermeiro não tem obrigação de chamar médico em repouso, ele está lá para trabalhar, não para repousar”, enfatizou Erik Riccely.

O caso já foi repassado para a direção do HUT e está sendo investigado pela Delegacia de Repressão às Condutas Discriminatórias. O Sindicato enfatizou que irá acompanhar o desenrolar dos fatos para que a médica seja punida. O presidente do Senatepi reforçou que situações como essa não irão mais acontecer e que a entidade tomará todas as medidas cabíveis e necessárias.

“Essas pessoas ainda agem de uma maneira como se fossem verdadeiros deuses. O HUT ainda é um local onde a medicina tem um grande respeito pela enfermagem, e vice-versa, e conseguimos ter uma saúde de excelência. Chamo a atenção da presidente do Conselho Regional de Medicina para tomar uma providência em relação a isso.

“Eu, assim como a nossa ‘enfermeira escurinha’, não sou ‘escurinho’, não sou ‘pretinho’ e não sou ‘negrinho’, eu sou preto! Não me trate de forma pejorativa. Isso que aconteceu jamais vai acontecer ou será tolerado novamente dentro da enfermagem”, pontua Erik Riccely.

HUT apura denúncia

O Hospital de Urgência de Teresina emitiu nota de repúdio sobre a acusação de racismo sofrida na instituição, e reforçou que está apurando detalhes do caso para instaurar processo administrativo disciplinar.

Confira a nota do HUT na íntegra

“O Hospital de Urgência de Teresina, Prof. Zenon Rocha (HUT) é uma instituição que tem como foco a gestão transparente. Sobre uma acusação de racismo envolvendo servidores, informamos que uma apuração interna para maior detalhamento dos fatos está em curso na Ouvidoria, a fim de subsidiar a posterior instauração de um Processo Administrativo Disciplinar.

O HUT lamenta profundamente o ocorrido e defende uma sociedade plural e democrática com eliminação de todas as formas de preconceito e discriminação.

Reafirmamos nosso compromisso de salvar vidas e o restabelecimento da saúde dos usuários atendidos nessa que é maior urgência e emergência pública do município de Teresina.”

A equipe de reportagem do PortalODIA.com encontrou em contato com o Conselho Regional de Medicina do Estado do Piauí (CRM-PI), que não quis se pronunciar sobre o caso.

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