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Saúde mental: Eu preciso de terapia?

Psicólogo explica como sessões auxiliam a fortalecer aspectos positivos da mente, assim como superar dificuldades emocionais

13/04/2021 09:53

Ao longo desta semana, o Jornal O DIA vai trazer uma série de reportagens sobre saúde mental. Nesta terça-feira (13), falaremos sobre a importância da terapia. Na edição de amanhã (14), vamos falar sobre ansiedade e como enfrentá-la.


Mesmo que de forma indireta e até mesmo inconsciente, cuidamos da nossa saúde mental diariamente, seja mantendo alimentação saudável, executando tarefas motivadoras, dormindo bem, tendo relações saudáveis. Todavia, quando não conseguimos mais manter esses hábitos no dia a dia, é hora de buscar um profissional que nos ajude a regular as emoções e trabalhar comportamentos que podem cultivar pensamentos negativos.

O psicólogo Fernando Araújo, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, reforça que qualquer pessoa pode buscar terapia, seja para fortalecer mais ainda os aspectos positivos da sua mente, para desenvolver habilidades de concentração ou mesmo aprender técnicas para lidar melhor com situações cotidianas que lhe afetam. “Você não precisa chegar no seu limite para procurar ajuda”, destaca.

Fernando Araújo ressalta o acolhimento proporcionado pela terapia (Foto: Arquivo pessoal)

“Comparo um problema emocional à uma cárie no dente. Você deve procurar um dentista logo que a cárie surge e não esperar ela te machucar, atrapalhar a mastigação e destruir o dente. Da mesma forma com o psicólogo, é melhor buscar logo um profissional”, completa.

Dentro deste contexto, Fernando cita alguns sinais que merecem atenção especial, caso você esteja vivenciando-os. “Se a pessoa está tendo alguma dificuldade de concentração, de socialização, nos relacionamentos afetivos, na forma de se controlar, caso tenha um vício, caso esteja vivendo uma situação estressora, de ansiedade e/ou medo, é preciso buscar ajuda profissional, pois é bem possível que os pensamentos dessa pessoa sejam tomados por essas situações e que, por causa dessas dificuldades emocionais, a forma de pensar, inclusive de raciocinar logicamente, seja constantemente prejudicada”, pondera.

E é justamente na terapia que essa pessoa vai encontrar acolhida e técnicas para superar seus entraves emocionais. “Falar em si já é terapêutico, você já pode sentir alívio emocional quando conversa com um amigo, alguém de confiança. Agora imagina se você expressar as emoções para um especialista que vai lhe guiar por meio de ferramentas científicas e acolher as suas

demandas sem julgamentos, sempre acreditando na sua capacidade de ser resiliente. É assim que a terapia ajuda, com ética, responsabilidade, técnicas e acolhimento”, pontua Fernando Araújo.

Tudo bem precisar de remédios

“Em alguns casos, para acelerar o processo terapêutico, é recomendado o acompanhamento psiquiátrico, e tudo bem!”. A fala do psicólogo Fernando Araújo ressalta a relevância de um atendimento multidisciplinar, que pode ser acionado para estabilizar a química cerebral e, assim, acelerar o tratamento cognitivo e comportamental feito pelo psicólogo.

“Você pode precisar tomar um medicamento para melhorar a concentração, o sono, estabilizar o humor, reduzir a ansiedade e, assim, ter mais clareza mental para executar as técnicas que o psicólogo recomenda e apresentar melhores resultados na saúde emocional”, exemplifica o profissional.

Mas quando devo buscar um psiquiatra? Para o médico psiquiatra Rayli Sales, a melhor resposta pra essa questão é: quando houve até mesmo a dúvida se é necessário ou não. “Explicando melhor, uso como exemplo uma dor no peito. Se você tem dor no peito, você não fica na dúvida se deve procurar um médico clínico ou não. Você procura, investiga e, se não for nada demais, ok. Com a saúde mental, deveria ser a mesma coisa. Há algo que parece errado ou estranho? Então, devo procurar o médico psiquiatra. Não devemos guardar ‘dúvidas’ sobre a nossa saúde. Na dúvida, procure o médico”, indica.

O psiquiatra Rayli Sales defende: na dúvida, procure o médico (Foto: Reprodução)

Rayli pontua que, antes da pandemia, a estimativa era que dois terços da população mundial teria um transtorno mental em algum momento da vida. Agora, depois de todo esse novo e prolongado estresse provocado pela pandemia do novo coronavírus, essa estimativa cresce consideravelmente. “É necessário compreender que quase todo mundo precisará do médico psiquiatra em algum momento, e que tudo bem, não há algo de errado com isso. O grande problema é exatamente não buscarem ajuda. Daí ocorrem tantas tragédias”, pondera.

O psiquiatra explica que as medicações são prescritas de acordo com a necessidade de cada caso, levando em consideração fatores diversos, como efetividade, custo e efeitos colaterais. “Além disso, ao meu ver, é fundamental explicar ao paciente um pouco sobre tudo isso, para que ele realmente se veja motivado a continuar os cuidados da sua saúde mental até o momento adequado para o desmame e a alta”, finaliza.

Da ofensa ao cuidado com o outro

 “Vai se tratar”. Provavelmente, em algum momento de sua vida, você já ouviu essa frase de forma pejorativa, pra lhe classificar como “louco (a)” em determinada situação, desqualificando sua emoção. Esse tom irônico traz à tona todo o preconceito enraizado quando o assunto é saúde mental e que, por vezes, impede que as pessoas busquem ajuda psicológica de forma espontânea.

De acordo com o psicólogo Fernando Araújo, esse tabu existe pelo histórico de como a saúde mental era tratada antigamente, com hospícios, tratamentos ineficientes e agressivos ao paciente. “Até o nome da profissão serviu para contribuir com o medo coletivo. Antigamente, nos chamavam de “alienistas’’, como se o profissional cuidasse de pessoas que estivessem alienadas, fora de si. Hoje é completamente diferente, a Psicologia é uma ciência muito bem fundamentada e necessária para o bem-estar da sociedade”, explica.

Contudo, segundo Fernando Araújo, conforme as pessoas acessam mais informações, elas entendem melhor a importância de fazer terapia. “Felizmente, vejo muitos profissionais fazendo um excelente trabalho de psicoeducação nas redes sociais e, na minha experiência clínica, as pessoas estão cada vez mais cientes de que precisam fazer terapia. É um processo, toda mudança leva tempo. Hoje em dia, dizer para alguém fazer terapia está parando de ser uma ofensa e tem se tornado um sinal de preocupação, de carinho e cuidado com o outro”, pondera.

Por: Virgiane Passos - Jornal O DIA
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