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Retirados do Mercado do Renascença para reforma, permissionários amargam prejuízos

Instalados provisoriamente no CAIC do Parque Itararé, eles reclamam de queda de até 80% nas vendas. Local fica de frente com um lixão e não possui acessibilidade.

14/02/2022 09:45

Transferidos provisoriamente para o CAIC do Parque Itararé por conta da obra de revitalização do Mercado do Renascença II, os permissionários que atuavam no local estão amargando prejuízos e acumulando transtornos. Os vendedores reclamam que foram retirados às pressas das antigas instalações e que até o momento não receberam nenhuma definição sobre quando poderão retornar. A situação se agrava ainda mais porque, segundo eles, o novo espaço cedido pela Prefeitura possui uma série de problemas estruturais que afasta os clientes e prejudica as vendas.

É sujeira, falta de iluminação na parte externa dos boxes e até alagamentos quando chove. A permissionária Maria Débora conta que já chegou a cair e se machucar devido ao acúmulo de lodo na frente dos boxes quando cai uma chuva. Soma-se a isso a falta de espaço para atendimento dos clientes. 

Fotos: Assis Fernandes/O Dia


“Eu trabalho vendendo lanches e comida e não tenho nem como colocar a mesa para os clientes porque atrapalha a passagem e ainda invade o espaço dos colegas. Sem contar que quando começa a escurecer, não tem como ficar aqui porque não tem luz do lado de fora. Fica escuro e perigoso, ninguém quer vir comprar nada nesse horário”, explica.

Outro que também tem acumulado prejuízos nas vendas com a transferência do Mercado do Renascença para o CAIC do Parque Itararé é o permissionário Raimundo Carneiro. Dono de um frigorífico, ele conta que as vendas caíram de 80% a 90%. Quando trabalhava no mercado, ele conseguia fazer até R$ 600,00 em uma manhã. Há 20 dias nas instalações provisórias enquanto dura a reforma, ele só tem vendido R$ 60,00 de carne em um dia.

“Eu comecei lá no Mercado do Renascença em 1998 e nunca tinha vendido tão pouco como tenho vendido aqui. Uma vida inteira trabalhando lá para vir para cá e ficar sem sustento? O ganho que eu tinha lá eu nunca que vou conseguir ter aqui e o pior é que é uma situação muito indefinida. A gente não sabe quando essa obra vai começar de verdade nem quando vai terminar para podermos retornar. Tem 20 dias que saímos de lá e até agora nem tem nada que sinalize que ali vai ter uma reforma”, afirma Raimundo.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

Quem passa pelo cruzamento das ruas Jornalista Lívio Lopes com Valter Braga, onde fica localizado o Mercado do Renascença, se depara somente com restos de parede quebrada e alguns poucos boxes ainda de pé. Esvaziado ainda em janeiro para a reforma, o espaço ainda não possui nenhuma sinalização de que está sendo ou será reformado. Os vendedores que ainda permanecem no local com suas bancas montadas do outro lado da rua dizem que nenhuma equipe da Prefeitura apareceu ainda para isolar a área ou retirar os escombros.

É o caso da senhora Ernesta Gonçalves, que trabalha há 8 anos em uma banca de verduras em frente ao Mercado do Renascença II. Ela conta que não recebeu nenhuma garantia do poder público municipal de que terá espaço no mercado quando ele for reformado. “Querem nos levar para lá [CAIC do Parque Itararé] sem nenhuma segurança porque não me garantiram ganhar uma banca. Se for para eu ficar no meio da rua, eu fico aqui, que aqui pelo menos eu vendo. E disseram que nós não temos direito a uma banca no mercado porque nunca trabalhamos lá dentro”, explica.

Sobre a demora no início da obra, ela foi taxativa: “Tem mais de uma semana e só quebram tudo, mas ninguém arruma. Eles vieram para nos tirar daqui porque iam ajeitar tudo, mas estamos ainda esperando o que vai acontecer”, finaliza.

Foto: Assis Fernandes/O Dia


Instalações provisórias não têm acessibilidade nem condições de higiene

Um dos motivos que levou alguns permissionários do Mercado do Renascença a permanecerem vendendo no meio da rua nas proximidades do local é o fato de que nas instalações provisórias do CAIC do Parque Itararé falta acessibilidade e até mesmo condições de higiene adequadas para a venda de produtos alimentícios como carnes e peixes. 

Quem precisa entrar no local não encontra rampas de acesso o que limita a mobilidade de idosos e cadeirantes. Para facilitar a vida do cliente, que já está acostumado a encontrar a banca sempre no mesmo local e, assim, garantir a venda, é que a permissionária Maria do Socorro Alves Bezerra preferiu ficar onde está.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

“Faz 23 anos que eu trabalho aqui e continuou porque nós fomos lá e não teve venda. Os fregueses não vão lá porque é mais distante, não tem acessibilidade e a maioria dos clientes é idosa. Quase ninguém sabe onde fica esse novo mercado, a gente tem que ficar ensinando. E como eu não ganhei um boxe foi de jeito nenhum, fico aqui mesmo, porque pelo menos garanto um pouco minha renda”, diz.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

As condições de higiene das instalações provisórias do Mercado do Renascença no CAIC do Parque Itararé também é outro fator de insatisfação entre os permissionários que tiveram que ser transferidos. Em frente ao local, existe um terreno desocupado onde a população deposita todo tipo de lixo, desde descartáveis até carcaças de animais mortos. A sujeira faz juntar urubus e moscas, que passam a dividir espaço com as carnes expostas para venda.

Como se trata apenas de um galpão sem cobertura nas laterais, os vendedores precisam conviver com o sol atingindo as bancas em determinados horários. Essa tem sido a maior insatisfação da permissionária Fabiana Moura, além dos prejuízos com as vendas. Comercializando frangos, ela conta que no Mercado do Renascença chegava a vender uma sacola com 15 peças em um dia. Hoje, no CAIC do Parque Itararé, ela vende no máximo uma peça.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

Ela resume a situação: “O Dr. Pessoa foi lá não tem nem 20 dias direito e disse que só era para vir quando estivesse organizado, mas não tem nada organizado aqui. A cobertura é malfeita, se chove ou faz sol, pega tudo na gente. Nosso produto fica podre porque não sai e quando isso acontece, a gente tem que jogar fora. É ruim de localização e no acesso: como que um idoso vai subir os degraus? Lá no mercado pelo menos tinha lojas por perto. Aqui é no fundo da escola, de frente ao lixão e do lado da delegacia. Quem que vem? Quem tem filho pequeno para criar e conta para pagar, está passando necessidade. Nós precisamos de ajuda e que essa reforma comece e termine logo”, finaliza Fabiana.


Fabiana Moura é permissionária do Mercado do Renascença e tem acumulado perdas após transferência - Foto: Assis Fernandes/O Dia

O outro lado

O Portalodia.com procuro a Superintendência de Ações Administrativas Descentralizadas Sudeste (SAAD Sudeste) para se pronunciar a respeito das reclamações dos permissionários. O órgão ficou de encaminhar uma nota de esclarecimento sobre o andamento da reforma do Mercado do Renascença e a situação dos vendedores remanejados para o CAIC do Parque Itararé, mas até a publicação desta matéria, nenhum retorno foi obtido.

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