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Perspectiva 2021: ensino híbrido é tendência consolidada para 2021

Uso de plataformas digitais deve continuar como estratégia educacional a ser mesclada com as atividades presenciais

31/12/2020 08:47

Após o surpreendente ano de 2020, é hora de prospectar o que estar por vir em 2021. A educação foi um dos setores mais impactados pela pandemia do novo coronavírus e, para se adaptar à realidade imposta, passou por mudanças que continuarão revolucionando o processo de ensino-aprendizagem em todo o país. O professor doutor da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), Raimundo Dutra, aposta, por exemplo, que o ensino híbrido veio para ficar.

“Nós ainda estamos vivendo o momento pandêmico, então, ainda não dá nem para falar em pós-pandemia. Com essas indefinições, para 2021, o que nós temos é uma série de transformações no ensino, que se iniciaram com a pandemia, como por exemplo as estratégias metodológicas que estão tornando o ensino híbrido uma tendência para o novo ano. Esse ensino mescla as atividades presenciais, quando elas voltarem a acontecer, com as estratégias remotas no ensino”, explica o professor.

Foto: Jailson Soares/ODIA

De acordo com Raimundo Dutra, essa modalidade de ensino, que inclusive já estava prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), se aplicará do ensino fundamental ao superior. “Isso é inevitável”, pondera o professor acrescentando que, apesar de terem chegado com grande força, as plataformas digitais e o ensino remoto não devem substituir por completo a forma de educar no país.

“Não acredito em uma substituição total do ensino presencial pelo online. No momento de crise, que foi esse da pandemia, foi necessário que as estratégias de ensino remoto fossem utilizadas para manter o funcionamento das instituições, mesmo que de forma remota, e também para manter o vínculo dos estudantes com essas instituições e com os processos de aprendizagem. Mas elas foram estratégias de enfrentamento a essa dificuldade e isso não significa de nenhuma forma que o ensino presencial vai deixar de existir. Pelo contrário, a gente vê aí a vontade, o desejo dos professores, dos gestores das escolas, dos estudantes, dos gestores públicos, de retornarem ao presencial, porque todo mundo está sentindo falta”, completa.

“É possível que agora a gente perceba um avanço, pelo menos no investimento em ciência”

Além de forçar mudanças no campo educacional, a inesperada pandemia trouxe à tona deficiências da nossa estrutura de ensino, pesquisa e tecnologia. Por isso, para o professor doutor Raimundo Dutra, é possível que, a partir de 2021, a ciência receba uma atenção maior dos governantes.

Foto: Assis Fernandes/ODIA

“No Brasil, nós não temos um histórico muito forte de investimento em ciência e, principalmente nos últimos anos, nós temos, pelo contrário, um corte no orçamento destinado à ciência e tecnologia. Talvez, se a gente tivesse uma história de investimentos altos em ciência no Brasil, nós estivéssemos passando por essa pandemia de forma menos difícil”, pondera.

Apesar da falta de investimento, Dutra está otimista com os próximos passos. “Durante a pandemia, a gente percebeu o quanto que a ciência pode salvar vidas, o quanto que o conhecimento que é produzido pelos institutos de pesquisa e pelas universidades contribui para a melhoria da qualidade de vida da população e contribui para a resolução de problemas no meio social. Agora esperamos também que o poder público,

que os gestores públicos, possam ter se sensibilizado com essa necessidade de valorização da ciência para que, futuramente, possam investir mais e alocar mais recursos para o desenvolvimento científico”, pontua.

Segundo o professor doutor, já existem articulações, em diversas esferas do poder público, para tornar essa expectativa em realidade. “Acredito que possa ocorrer essa valorização, principalmente a partir de investimentos, já a partir de 2021, porque a comunidade científica tem pressionado muito os órgãos governamentais, os gestores públicos, os gestores recém -eleitos. Muitos deles, inclusive, tanto no Legislativo como no Executivo, firmaram compromissos com entidades da comunidade científica dando conta do quanto eles vão se comprometer em buscar recursos para financiar a ciência, pesquisa e tecnologia no Brasil. Se eles cumprirem de fato esse compromisso, é possível que, agora em 2021, a gente já perceba um avanço, pelo menos no investimento na área”, destaca.

Preparação dos professores

Para este retorno das aulas presenciais mescladas com o ensino remoto, Raimundo Dutra acredita que os professores estão mais preparados que no início da pandemia. Ele lembra como foi desafiador para a categoria se adequar à nova conjuntura de ensino-aprendizagem.

“De fato, nós professores não estávamos acostumados nem preparados para trabalhar em um contexto de ensino remoto. As instituições não estavam preparadas, os gestores públicos não estavam preparados, e nós professores também não. Então, nós tivemos que nos prepararmos durante a crise, diante da dificuldade. A partir de março, quando o isolamento social começou, foi que as instituições começaram a se planejar, a pensar em como poderiam se preparar com relação às condições de trabalho, de realização desse ensino remoto. Então, foi aí que buscaram, tanto no âmbito público como privado, estimular, trabalhar, ensinar aos professores, ofertar processos formativos para que nós também aprendêssemos a utilizar essas estratégias”, descreve.

Passados quase dez meses do início dessas transformações, Raimundo Dutra afirma que os desafios continuam no novo ano, porém com menor intensidade. “Foi tudo sendo aprendido ao mesmo tempo em que se enfrentava a dificuldade, a crise. Um desafio que continua em 2021, só que agora com menos intensidade, com menos dificuldade, porque toda essa preparação foi iniciada em março. Agora, os professores estão bem mais fortalecidos, as instituições também”, pondera.

Aproximação das famílias

Outro reflexo da pandemia que deve permanecer é a aproximação da família no processo de aprendizagem das crianças e adolescentes. “A articulação ou a contribuição da família nos processos educativos das crianças, que ocorriam nas escolas, sempre foi um desejo muito grande das instituições. E, nesse momento de ensino remoto, foi necessário que as famílias se aproximassem muito mais da escola. Então, eu creio que a tendência é que essa aproximação permaneça. Quando a pandemia passar, ou mesmo no futuro breve, nós com certeza teremos a família mais próxima dos processos de ensino de seus filhos”, projeta o professor doutor.

Por: Virgiane Passos, do Jornal O Dia
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