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Pelo menos 400 "œbocas de lobo" despejam resíduos nos rios

Além da má qualidade da água para o consumo, a situação dos rios Poti e Parnaíba coloca em risco a atividade econômica dos ribeirinhos.

22/02/2018 07:38

De toda água que chega às torneiras das residências teresinenses, a maior parte é coletada diretamente do Rio Parnaíba, maior rio genuinamente nordestino. Além dele, o Rio Poti também compõe o cenário urbano da Capital, representando um importante aspecto para a vida da população teresinense. Contraditoriamente, os dois rios sofrem, cotidianamente, com a poluição desenfreada de seus leitos, principalmente no trecho que corta a capital piauiense, onde esgotos são despejados diretamente em seus leitos sem nenhum tratamento, colocando em risco não apenas o consumo de água, mas quem depende deles para sobreviver. 

Segundo o presidente da Fundação Rio Parnaíba (Furpa), Francisco Rodrigues Soares, tanto o Rio Parnaíba como o Rio Poti são vítimas de esgoto e galerias não tratadas, que são liberadas diretamente nas águas sem o devido tratamento e repletos de poluentes, proveniente das residências e pequenas indústrias. Ele lista ainda que, somente no lado da cidade de Teresina, são quase 400 “bocas de lobo” em todo o trecho dos dois rios que cortam a Capital.

Pelo menos 400 “bocas de lobo” despejam resíduos nos rios. (Foto: Moura Alves/O Dia)

 “Nossos dois rios formam hoje um grande esgoto a céu aberto”, denuncia. O Velho Monge, como é conhecido o Rio Parnaíba, é considerado navegável em toda sua extensão, mas para quem trabalha fazendo a travessia de passageiros todos os dias, é perceptível a diminuição do seu nível. “O rio está ficando mais seco, principalmente nos períodos mais quentes, atrapalhando muito a travessia; temos que desviar das coroas”, relata Francisco Roberto de Sousa, canoeiro há quase 30 anos. 

É dos rios também que uma parcela da população de Teresina, principalmente a ribeirinha, sobrevive economicamente. O pescador Ribamar Pinto Mesquita, de 44 anos, conta que, desde a infância, exerce a profissão que sustenta sua família. Ele relata que a poluição do Rio Poti é diretamente influenciada pelas “bocas de lobo”, bueiros que despejam esgoto não tratado no rio, mas que é menos perceptível quando a vazão é maior. “Agora que está chovendo muito, que a água fica mais clara e limpa. Mas no verão, a água fica com um aspecto mais verde, acho que talvez seja pelos esgotos que poluem muito. Fica mais difícil pegar peixe”, relata.

Empresa diz que estruturas são do sistema de drenagem

De acordo com a empresa Águas de Teresina, somente 19,12% da população da Capital têm acesso ao sistema de coleta e tratamento de esgoto. A empresa informa ainda que as “bocas de lobo” não são propriamente esgotos e que correspondem ao sistema de drenagem do município, afetadas diretamente por ligações irregulares de algumas residências, corroborando para a contaminação dos rios. 

A expectativa é que, em até três anos, Teresina amplie sua cobertura da rede de esgoto em 40%, pretendendo chegar a 90% ao final do décimo sexto ano de prestação de serviço da empresa Águas de Teresina. A previsão é que os investimentos nessa área totalizem, em 30 anos, a quantia de R$ 1,7 bilhão.

Enquanto o problema não é solucionado, os rios continuarão sob constante risco, com sua flora e a fauna nativas ameaçadas, prejudicando além de quem depende da água para o consumo, quem depende deles para sobreviver. “Daqui uns dez anos, quem sobrevive na pesca no Rio Poti não vai ter mais trabalho, porque não tem peixe, e a maioria da população do bairro vivem da pesca”, declara Wilson Nunes Martins, um dos pescadores mais antigos do bairro.

Edição: Nathalia Amaral
Por: Breno Cavalcante
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