De toda água que chega às torneiras das residências teresinenses, a maior parte é coletada diretamente do Rio Parnaíba, maior rio genuinamente nordestino. Além dele, o Rio Poti também compõe o cenário urbano da Capital, representando um importante aspecto para a vida da população teresinense. Contraditoriamente, os dois rios sofrem, cotidianamente, com a poluição desenfreada de seus leitos, principalmente no trecho que corta a capital piauiense, onde esgotos são despejados diretamente em seus leitos sem nenhum tratamento, colocando em risco não apenas o consumo de água, mas quem depende deles para sobreviver.
Segundo o presidente da Fundação Rio Parnaíba (Furpa), Francisco Rodrigues Soares, tanto o Rio Parnaíba como o Rio Poti são vítimas de esgoto e galerias não tratadas, que são liberadas diretamente nas águas sem o devido tratamento e repletos de poluentes, proveniente das residências e pequenas indústrias. Ele lista ainda que, somente no lado da cidade de Teresina, são quase 400 “bocas de lobo” em todo o trecho dos dois rios que cortam a Capital.
Pelo menos 400 “bocas de lobo” despejam resíduos nos rios. (Foto: Moura Alves/O Dia)
“Nossos dois rios formam hoje um grande esgoto a céu aberto”, denuncia. O Velho Monge, como é conhecido o Rio Parnaíba, é considerado navegável em toda sua extensão, mas para quem trabalha fazendo a travessia de passageiros todos os dias, é perceptível a diminuição do seu nível. “O rio está ficando mais seco, principalmente nos períodos mais quentes, atrapalhando muito a travessia; temos que desviar das coroas”, relata Francisco Roberto de Sousa, canoeiro há quase 30 anos.
É dos rios também que uma
parcela da população de Teresina,
principalmente a ribeirinha,
sobrevive economicamente.
O pescador Ribamar
Pinto Mesquita, de 44 anos,
conta que, desde a infância,
exerce a profissão que sustenta
sua família. Ele relata que a
poluição do Rio Poti é diretamente
influenciada pelas “bocas
de lobo”, bueiros que despejam
esgoto não tratado no
rio, mas que é menos perceptível
quando a vazão é maior.
“Agora que está chovendo
muito, que a água fica mais
clara e limpa. Mas no verão, a
água fica com um aspecto mais
verde, acho que talvez seja pelos
esgotos que poluem muito.
Fica mais difícil pegar peixe”,
relata.
Empresa diz que estruturas são do sistema de drenagem
De acordo com a empresa Águas de Teresina, somente 19,12% da população da Capital têm acesso ao sistema de coleta e tratamento de esgoto. A empresa informa ainda que as “bocas de lobo” não são propriamente esgotos e que correspondem ao sistema de drenagem do município, afetadas diretamente por ligações irregulares de algumas residências, corroborando para a contaminação dos rios.
A expectativa é que, em até três anos, Teresina amplie sua cobertura da rede de esgoto em 40%, pretendendo chegar a 90% ao final do décimo sexto ano de prestação de serviço da empresa Águas de Teresina. A previsão é que os investimentos nessa área totalizem, em 30 anos, a quantia de R$ 1,7 bilhão.
Enquanto o problema não
é solucionado, os rios continuarão
sob constante risco,
com sua flora e a fauna nativas
ameaçadas, prejudicando
além de quem depende da
água para o consumo, quem
depende deles para sobreviver.
“Daqui uns dez anos,
quem sobrevive na pesca no
Rio Poti não vai ter mais trabalho,
porque não tem peixe,
e a maioria da população do
bairro vivem da pesca”, declara
Wilson Nunes Martins,
um dos pescadores mais antigos
do bairro.
Por: Breno Cavalcante