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Parque Rodoviário: Um ano depois, famílias ainda esperam soluções

Tragédia faz um ano e moradores alegam abandono por parte do poder público

04/04/2020 08:52

Noite de 4 de abril de 2019. Uma data que marcou a vida de centenas de moradores que residem no Parque Rodoviário, zona Sul de Teresina. O dia em que a enxurrada de lama interrompeu a vida de duas pessoas e destruiu sonhos e anos de trabalho de mais de 50 famílias. Um ano após a tragédia, muitos tentam se reerguer e voltar à normalidade, mas as marcas, tanto na memória quanto nas paredes dos imóveis, ainda assolam a comunidade, que pede providências do poder público.

Foto: Arquivo O Dia.

O comerciante Mayke Martins estava em casa no dia da tragédia. Do imóvel que ficava localizado na Rua Piracema, nº 4298, só restaram algumas paredes e entulhos. As marcas da água também estão lá, vívidas, e não deixam os moradores esquecerem das horas de terror e desespero.

O local foi desapropriado por ser considerado área de risco. Mesmo sabendo disso, o morador nunca pensou em abandonar o terreno. “Essa era minha casa, continua do mesmo jeito [do dia da tragédia]. O mato tomou conta. Eu não recebi nada; não posso reformar minha casa porque o prefeito baixou um decreto desapropriando. Mas eu não me dei por vencido. Quando eu pegar algum recurso, venho aqui e reformo minha casa”, conta.

Foto: Arquivo O Dia.

Atraso no auxílio aluguel

No mesmo terreno havia outra casa, mas nesta não sobraram nem os entulhos. Hoje, o local se transformou em um lixão. O imóvel ficava em frente para outra residência. Era a casa de dona Valdirene, que morava com o filho, a cunhada e o neto. A residência também foi atingida pela correnteza de lama. Dessa moradia também não sobrou nada.

Hoje, Valdirene mora de aluguel, benefício pago pela Prefeitura de Teresina a todos os moradores que ficaram desabrigados em decorrência da tragédia. Segundo ela, o auxílio do “aluguel solidário” está atrasado há três meses e as cobranças por parte do proprietário do imóvel são constantes.

“O dono da casa está pedindo o imóvel, disse que está atrasado o pagamento e, com esse problema do coronavírus, o Cras está fechado, então fica difícil da gente resolver. Não estamos sabendo como resolver e eu queria a solução dos órgãos públicos, que falaram que iam nos ajudar, mas não deram nenhuma solução. Meu filho também está morando de aluguel e não sabemos o que fazer”, conta.

A casa da dona Elena, que desabou com a enxurrada, abrigava 11 pessoas, incluindo ela, suas filhas e netos. Toda a família está morando em um imóvel alugado, pago pela Prefeitura, porém, o pagamento também está atrasado.

“É muito sofrimento. Se a Prefeitura não puder fazer as nossas casas o mais depressa possível, é o jeito voltar para cá, arrumar um barraco e morar aqui. Para onde que eu vou com minhas filhas e netos? Temos que nos virar aqui onde era nossa casa. Sabemos da luta da pandemia que está acontecendo, mas pedimos que nos deem uma resposta”, cobra Elena.

Casas ainda não foram construídas

As famílias que perderam suas casas no Parque Rodoviário ou foram atingidas pela enxurrada estão recebendo auxílio por parte da Prefeitura de Teresina. Algumas recebem cestas básicas, outras aluguel solidário, e ainda tem que recebeu auxílio para reformar seus imóveis. Porém, a preocupação é com as famílias que ainda não receberam suas casas.

Segundo o taxista Agnelo Frazão, ainda faltam cerca de 20 casas serem construídas e entregues pela Prefeitura de Teresina aos moradores que perderam tudo. Os imóveis seriam construídos no terreno do clube da antiga Telemar, local onde justamente acumulou a água que provocou a tragédia. Porém, após um ano, essas residências ainda não foram construídas.

“A Prefeitura reconstruiu e reformou todas as casas que foram danificadas, mas as que caíram com a enxurrada não serão construídas no mesmo local de antes. Serão construídas 22 casas no terreno do clube. Já conversamos com o secretário da Superintendência de Desenvolvimento Urbano Sul, que nos mostrou a planta do que será feito no terreno e as casas, que devem iniciar ainda no mês de maio, então estamos aguardando”, fala.

O que diz a Prefeitura

De acordo com a SDU/Sul, desde a data que se deu a tragédia, a Prefeitura de Teresina esteve presente prestando toda a assistência possível às famílias atingidas. Logo no início, todas as famílias foram cadastradas e passaram a ser atendidas pelos serviços sociais do município. Ao mesmo tempo, a Prefeitura, através da Superintendência, providenciou a retirada de todo o lixo que se espalhou pelo local, entre outras providências.

A SDU/Sul informou ainda que as casas que faltam ser construídas são justamente aquelas que estavam próximas ao canal de escoamento ou em áreas de risco e que não poderão mais voltar para esses locais. Para essas famílias serão construídas novas moradias em área que pertencia ao clube da Telemar e que foi desapropriada pela Prefeitura de Teresina. Essa obra será licitada em breve. Enquanto isso, essas famílias estão sendo atendidas pelo programa Família Solidária e continuam sendo assistidas pela Prefeitura.

Sobre as demais famílias, a Superintendência pontua que, dos 82 imóveis atingidos, 12 já foram reconstruídos e as famílias já puderam retornar; 48 imóveis necessitaram de pequenas reformas, sendo que 27 foram concluídas e 21 estão em andamento.

Já a Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Políticas Públicas (Semcaspi) informou que as famílias do Parque Rodoviário atendidas pelo Aluguel Social estão recebendo o valor de R$ 300 mensais. Houve necessidade de verificação dos cadastros junto ao banco e também reavaliar a situação das pessoas que não estavam indo sacar o valor. O dinheiro já foi pago e está na conta. Ao todo, são 53 pessoas cadastradas para receber o benefício.

Relembre o caso

A tragédia do Parque Rodoviário ocorreu na noite de quinta-feira, 4 de abril de 2019, na zona Sul de Teresina. A fatalidade foi motivada pelo rompimento do muro do clube da Telemar, que estava desativado. Devido ao grande volume de chuva em dias anteriores e na noite da tragédia, o muro de contenção não suportou a pressão e rompeu, provocando uma onda de lama que arrastou casas e pessoas.

Com a enxurrada, duas pessoas morreram e dezenas de moradores ficaram feridos. Além disso, cerca de 50 imóveis foram destruídos. A correnteza também arruinou veículos, móveis e também matou animais de estimação dos moradores.

Por: Isabela Lopes
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