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Mais que uma bebida, chá se converte em um ritual

A bebida fervente junto a folhas traz mais do que sabor e aromas diferentes: traz consigo tradições herdadas de diferentes culturas.

14/10/2018 08:09

Nem só de café vive o homem. Na outra ponta de quem é viciado na bebida, estão os adoradores de chá, item milenar que agora vem conquistando cada vez mais adeptos. A bebida fervente junto a folhas, mais do que aromas e sabores diferentes, traz consigo tradições e rituais herdados de diferentes culturas. Hoje representa ainda um vasto campo de estudos, não somente pela sua diversidade, mas também pelos reflexos na saúde e na melhora da qualidade de vida.

São quase cinco mil anos de história. Os primeiros registros do chá datam do ano de 2.737 a.C. na China, país origem da bebida. Segundo a lenda, o Imperador chinês Shen Nung, fervia água para beber quando algumas folhas de uma árvore próxima caíram na panela. Ao experimentar a bebida, descobriu que ela possuía um sabor interessante. Depois desse episódio, difundiu entre a população o hábito de cultivar aquela plantar e tomar o líquido diariamente.


Foto: Poliana Oliveira/O Dia

O chá ao longo de todos esses anos foi se espalhando mundo afora, chegando a novas culturas. No ocidente, especificadamente no Brasil, ele ainda é ligado ao uso medicinal. Assim, a cultura de chá que se tem por aqui, ainda tem muita herança indígena, uma das responsáveis por difundir esse hábito. Mas a Tea Sommelier Aline Loiola, especialista na bebida, explica que nem tudo que se conhece como chá é verdadeiramente um chá. Há uma definição para aquilo que é considerada infusão e aquilo que é chá.

O verdadeiro chá é aquele originado da camellia sinensis, uma planta que dá origem a sete tipos de chás: chá branco, chá amarelo, chá azul, chá verde, chá preto e chá escuro. “Existe uma convenção nesse mercado, que fala que chá é a infusão das folhas da camellia sinensis . Todas as outras infusões que a gente cresceu aprendendo que era chá, tipo chá de boldo, chá de hibisco, chá de erva doce, tudo isso é tido dentro de mercado como infusões. É para facilitar a comunicação entre as pessoas que trabalham nesse meio”, explica Aline.

A camellia sinensis é uma planta de origem chinesa e que possui algumas variações na Índia e na África, por exemplo. Aline conta que ela é uma planta que se adapta muito bem ao clima tropical e que por isso pode ser plantada também no Brasil. “Lá na China em geral os jardins de chá ficam em cima das montanhas porque eles recebem bastante água, mas essa água escoa, e a planta recebe a quantidade ideal de água. No Brasil a gente tem no interior de São Paulo dois jardins de chá bem conhecidos”.

Até chegar à xícara, a produção do chá começa nessas plantações. Cada processo envolvendo a camellia sinensis define a especificidade do chá. “Cada um tem um aroma, sabor e modo de fabricação diferente. O chá branco, por exemplo, é o que menos interferência humana, então eles colhem as folhas, em geral manualmente, e colocam pra secar ao sol durante três dias. Em casa, a gente que vive nesse mundo de chá, tratamos o chá com muito delicadeza e cuidado por entender esse valor cultural, histórico. O cuidado é não colocar água quente diretamente nas folhas, colocando o chá dentro do infusor”, acrescenta a Tea Sommelier.


A Tea Sommelier Aline Loiola conta que, por exemplo, o chá branco, durante anos era uma exclusividade do imperador (Foto: Poliana Oliveira/O Dia)

O contato da água fervente com as folhas contribui para a extração de nutrientes. Para Aline, o uso dessas propriedades é o que, principalmente, vem fazendo com que o hábito de tomar chá ganhe adeptos. “Quando você coloca em contato com a água quente a intenção é que você extraia dali os nutrientes, sabores e aromas, através daquele método. O chá no Brasil é uma tendência. A gente percebe que é um movimento para escolhas saudáveis, para uma qualidade de vida, um movimento para se preparar para o futuro de uma forma mais sadia. É ir na contramão do fast-food. O chá é slow food”

Bem-estar através do chá

O chá oferece diversos nutrientes que auxiliam no bom funcionamento do organismo e por isso o hábito de tomar a bebida é saudável. A nutricionista Lívia França, além de ser uma consumidora de chás, recomenda o uso moderado da bebida no dia-a-dia. De acordo com ela, o chá pode contribuir com um efeito antioxidante e também calmante.

“Eu demorei para conseguir aderir o consumo de chás na minha rotina, mas hoje já não vivo sem. Podemos aderir o consumo de chás como uma estratégia antioxidante e fortalecedora do sistema imunológico logo pela manhã, por exemplo, com chá de moringa com limão e própolis. Também pode-se ingerir algum tipo de chá à noite, como estratégia calmante para ajudar a relaxar depois de um dia corrido”, conta.

Lívia também explica que os fitoquímicos, nutrientes presentes nos chás, têm entusiasmado investigadores e pesquisadoras do assunto. Entre as propriedades que mais chamam atenção está a capacidade que a bebida tem de absorver e neutralizar os efeitos prejudiciais dos radicais livres no organismo. Apesar de benéfico, a nutricionista recomenda que as pessoas não exagerem no uso dos chás.

“Eles podem melhorar o funcionamento do sistema imunológico, agir diretamente contra bactérias e vírus, reduzir inflamação, ou estarem associados no tratamento e/ou prevenção de câncer e doenças cardiovasculares. Por apresentarem diversos efeitos funcionais, podem ser consumidos de maneira preventiva. Mas não significa que são substitutos de medicamentos, tá? O consumo elevado de chás pode ser prejudicial à flora intestinal. Não exagere na dose, principalmente por achar que chás ‘emagrecem’”, conclui.


Foto: Poliana Oliveira/O Dia

O chá pelo mundo

Ao longo de todos esses milênios os mestres de chá foram descobriam novos sabores com o objetivo de sempre agradar os imperadores orientais. A Tea Sommelier Aline Loiola conta que, por exemplo, o chá branco, durante anos era uma exclusividade do imperador. Eram escolhidas moças especificas das cidades, que usavam roupas especiais para colher as folhas mais nobres e então oferecer ao o chá branco ao imperador. Com a rota do chá, a bebida foi tomando outros lugares. Em cada continente e país foi ganhando tradições locais e resinificando alguns rituais.

“A rota levou o chá para o Tibet. Os monges levaram para o Japão e para a Coreia. Então acabou que cada cultura foi se relacionando com o chá de uma forma diferente”, explica Aline. A especialista cita que na China, durante as cerimônias chinesas elas oferecem o melhor chá que se tem em casa, coo uma forma de receber e tratar bem o outro.  Na Inglaterra, referência de chá no mundo ocidental, a cerimônia do chá da tarde foi institucionalizada pela Rainha Vitória.

Durante muitos anos o chá era restrito a nobreza e por ser um bem muito caro era considerado um artigo de luxo. Além da China e da Inglaterra, outros países mundo a fora também destacam como produtores de chá de qualidade e pela sua relação com o chá. Cada um possui uma característica específica.

Por: Yuri Ribeiro - Jornal O Dia
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