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Fim do auxílio emergencial gera incertezas em famílias carentes de Teresina

Teresinenses não sabem como vão se sustentar a partir de agora, sem emprego e sem ajuda do governo

06/11/2021 09:43

Na casa de três cômodos no bairro São João, zona Leste de Teresina, moram seis pessoas: três adultos e três crianças, sendo uma delas com necessidades especiais. A matriarca, dona de casa Celina Costa, de 46 anos, viu a renda familiar se dissipar durante a pandemia do novo coronavírus. Beneficiária do auxílio emergencial do Governo Federal, que veio como válvula de escape desde 2020, agora ela vê o orçamento ficar cada vez mais apertado por causa do fim do programa assistencial. 


“O orçamento vai ficar complicado porque a gente não esperava acabar assim tão rápido. Com a crise que está hoje, as coisas vão ficar ainda mais difíceis. A pandemia diminuiu as vagas de emprego e, para quem tem filho, no meu caso especial, ficamos de mãos atadas. A proposta foi muito boa, mas perder o benefício vai ser terrível”, disse. 


Celina mora com o esposo, seu filho, além da filha mais velha que tem duas crianças. Só o marido trabalha no mercado informal. “Meu esposo vive de bicos. Eu dou Graças a Deus que tive esse auxílio que aumentou mais a nossa renda. Agora vamos esperar para ver como as coisas vão ficar e se a gente vai conseguir um novo benefício do governo. Está difícil comer, beber, pagar as contas, mas temos fé de que tudo vai ficar bem”, conta. 

Foto: Assis Fernandes/ODIA

Próximo dali, na Avenida Fernando Pires Leal, o morador Carlos Alberto vive a mesma realidade. Ele chegou ao bairro há 40 anos e, sem o pai e a mãe, o autônomo de 50 anos tira da venda de sacos de capim o sustento diário. O benefício foi essencial na pandemia. 


“O benefício me ajudou bastante na pandemia. Foi com ele que pude comer melhor e pagar as minhas contas quando o vírus estava mais forte. Eu sou autônomo e qualquer dinheiro que a gente recebe já ajuda. Agora, sem o benefício, terei que dar um jeito para continuar e tocar a vida para frente. Afinal, também temos as nossas responsabilidades, mas sei que irá fazer falta. Isso eu não tenho a menor dúvida. Eu vendo sacos de capim e, por cada um deles, cobro um valor de R$ 5”, relata.  


O drama de quem teve o benefício negado 

O aposentado Luiz Rodrigues, de 65 anos, teve o benefício negado por não se enquadrar nos critérios do programa. Apesar de ciente da decisão, ele faz uma crítica à distribuição de renda mínima do projeto. Luiz mora em uma região de difícil acesso, que constantemente sofre com alagamentos. 

“Eu gostaria de ter recebido o auxílio. Como vocês podem ver, minha casa está praticamente dentro dessa vala por causa do trabalho inacabado da Prefeitura nesta galeria. O que ganho com a aposentadoria é muito pouco e, assim, vou sobrevivendo. Eu agradeço muito a Deus por ter esse dinheiro, pois é dele que faço tudo. O governo deu o auxílio para muitos que não precisavam e esqueceu dos mais pobres. Você deve saber a dificuldade que uma pessoa com salário mínimo passa com tudo muito caro. Espero que as coisas melhorem nos próximos meses”, desabafa. 

Foto: Assis Fernandes/ODIA

A catadora de materiais recicláveis Regina Silva, de 36 anos, só recebeu as primeiras parcelas do benefício. Hoje, ela vive com R$ 300 por mês. Os moradores do bairro Redonda, na zona Sudeste da cidade, ajudam a catadora com doações de plásticos e outros objetos. “A situação não está boa, mas a gente tem que trabalhar para conseguir as coisas e sustenta a família. Eu moro de aluguel com as minhas duas filhas e tenho uma renda mensal de R$ 300 a R$ 400”.  

Lismarlin Pereira, de 44 anos, conta que apesar da crise que viveu ao longo do ano, espera por dias melhores. “Tive na família alguns problemas na hora de receber, mas depois deu tudo certo. Ainda não tivemos graves problemas no orçamento, está dando para manter. O país está quebrado, mas eu creio que o novo programa do Governo vai dar certo. Estou colocando fé nisso”, conclui. 

184 mil teresinenses estavam recebendo suporte financeiro 

Segundo dados do Ministério da Cidadania, atualizados até o dia 04 de agosto, o Piauí tinha 729,4 mil pessoas elegíveis a programas assistenciais como Auxílio Emergencial, Bolsa Família e Cadastro Único. 

Conforme o Governo, só em Teresina, foram 184.185 pessoas assistidas pelo auxílio emergencial. Parte dessa população vive em situação de extrema pobreza. 

Em relação ao perfil dos piauienses elegíveis a programas assistenciais, as mulheres são maioria (381.798), enquanto os homens somam (347,770). A faixa etária varia entre 25 a 34 anos. 

(Jorge Machado) 

Auxílio Brasil: novo programa é para novembro, diz governo 

Chamado de Auxílio Brasil, o novo benefício social do Governo Federal visa ampliar a base de beneficiários do antigo Bolsa Família e alocar o máximo possível de recursos para garantir um reajuste de, pelo menos, 50% sobre o valor atual. Segundo o governo, outro objetivo é contornar a queda de renda de populações vulneráveis, que será causada pelo fim do auxílio emergencial. 

O Ministério da Cidadania informou que o programa Auxílio Brasil vai entrar em vigor em novembro e que "a operacionalização será regulamentada por meio de decreto a ser publicado nos próximos dias". Declarou ainda que o calendário de novembro está mantido. 

Segundo o Ministério, o programa "vai estabelecer critérios para o fortalecimento e ampliação da rede de proteção social, além de criar oportunidades de emancipação para a população em situação de vulnerabilidade". 

Ainda conforme a pasta, "esse trabalho leva em conta uma série de programas já existentes, não só o Programa Bolsa Família (PBF), com medidas que vão atingir, com maior eficácia, a missão de superar a pobreza e minimizar os efeitos da desigualdade socioeconômica no país". Além disso, serão atendidas famílias de extrema pobreza. 

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