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Famílias temem voltar para casa após enchente: “pior dia que vivi”

Abrigados emergencialmente em escola municipal, moradores comentam as perdas materiais e o futuro incerto

05/01/2022 10:24

A autônoma Carla Camila de Sousa pegou, ontem (4), os últimos pertences que sobraram na sua residência no bairro Vila Apolônia, na zona Norte de Teresina. Mãe solo de dois filhos, ela foi uma das dezenas de pessoas atingidas pelas fortes chuvas registradas na Capital nos últimos dias. Ela conta que, em poucos minutos de chuva, a casa já estava tomada pela água. Sem ter como levar os móveis, a família perdeu quase tudo. O recomeço será difícil. 

Chuva provocou alagamento no bairro Vila Apolônia, na Zona Norte de Teresina. Foto: Assis Fernandes/ODIA


“Saímos de casa na sexta-feira e foi o dia mais difícil que já vivi. Foi durante a chuva da tarde, que foi intensa, e o que deu para tirar da casa a gente tirou. Essa foi a primeira vez que passei por isso. Quando passar o período chuvoso, vai ficar muito ruim. O terreno está horrível e, sinceramente, não tem condição de permanecer. Se eu ficar na casa, pode acontecer uma tragédia”, disse. 


Foto: Assis Fernandes/ODIA

Morando em um abrigo montado em caráter emergencial pela Prefeitura, Giltomar Rocha Santos relata que perdeu tudo na enchente. Ele, a esposa e os dois filhos estão abrigados na Escola Antônio Dílson Fernandes, no bairro São Joaquim, e não sabem quando poderão retornar para casa. 

“Devido às fortes chuvas, tivemos que vir aqui para a escola. O pouco que a gente tinha perdemos na chuva. Vai ser uma luta para recuperar porque ficamos sem nossos pertences. Nós vivemos só do Bolsa Família e a situação está muito difícil”, desabafou. 

Foto: Assis Fernandes/ODIA 

Morando na área de risco há mais de três anos, Giltomar conta ainda que se tivesse escolha, não voltaria a morar no local. “Tivemos que sair às pressas, deixando tudo para trás. Corremos risco de vida, pois a casa quase desabou. Eu não pretendo voltar para lá, mas se não tiver para onde ir, será o jeito voltar para lá. De verdade, eu não queria voltar porque estou com aquilo na cabeça, porque quando vier o período chuvoso, vai vir aquela lembrança e sofrimento que passamos”, completa. 

A casa de taipa do mototaxista Antônio Chaves de Sousa Silva também foi devastada pela chuva. Com uma rede e uma televisão, ele espera ser indenizado pelo ocorrido. 

“Não sei como será daqui para frente. Gostaria de ser indenizado porque o trauma ainda é recente. Ali era o meu lugar, a minha casa, e agora não tenho mais nada. Confio na justiça de Deus e no trabalho dos homens aqui na Terra. Primeiro Deus, segundo os gestores que estão à frente disso”, disse. 

Bombeiros dão suporte a desabrigados

Uma base de comando do Corpo de Bombeiros foi montada na Escola Dílson Fernandes para dar suporte às famílias desabrigadas. Vinte homens, entre bombeiros civis e militares, estão participando da operação.  

“A nossa ação visa utilizar os recursos disponibilizados pela Prefeitura, como caminhões, homens e assistentes sociais, para dar suporte às famílias. Aqui saem as ordens de mudança de famílias das áreas inundadas, riscos, e elas são encaminhadas em duas vertentes: ou para casa de familiares ou para residências solidárias ou abrigos. Existem famílias que, por emergência, saíram por meios próprios e estamos contando com auxílio de homens do CTA da Prefeitura”, afirma o comandante operacional, João Costa. 

Foto: Assis Fernandes/ODIA

Vale destacar que, em caso de ajuda, as famílias podem entrar pedir socorro através dos telefones 199 e 193. 

Assistência aos moradores atingidos

A secretária executiva do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), da Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Políticas Integradas (Semcaspi), Aline Teixeira, informou que solicitou para as famílias atingidas pelas chuvas o Aluguel Solidário por meio do programa Cidade Solidária. Segundo ela, todo serviço de amparo às famílias "vai desde o cadastramento à identificação, ao auxílio na mudança, no transporte e acompanhamento posterior”. 

Ainda segundo a gestora, essa ação integra várias secretarias municipais. “Nós temos a Secretaria de Defesa Civil, juntamente com a Semduh, e as SAADs envolvidas na identificação e nos cadastros, inclusive aqueles que foram feitos antes desse período de crise, mas que continuam agora, cadastrando e inserindo essas famílias”, detalha. 

“Essas famílias vão sendo atendidas conforme um programa estabelecido em lei municipal chamado ‘Cidade Solidária'. Esse programa presta, para aquelas famílias que foram desabrigadas e saíram de suas casas, uma cesta básica. Se as pessoas estiverem em casa de familiares ou alugarem uma casa, elas têm um auxílio de até R$ 300. Aquelas famílias que estão em escolas ou nos abrigos que estamos improvisando também serão atendidas com cesta básica, colchões e kits de higiene e material de limpeza”, completa. 

Ao todo, três escolas estão recebendo os desabrigados: Domingos Jorge Velho, Antônio Dílson Fernandes e Iolanda Raulino. Mais de 28 famílias estão nesses locais sendo auxiliadas. “Dependendo da demanda, iremos abrir outros espaços, escolas, ginásios ou espaços públicos que sejam perto da casa das pessoas e que tenham logística para recebê-las. Estamos trabalhando para que consigamos resoluções antes do período de início do ano letivo, para que não atrapalhe o funcionamento das escolas e das aulas”, destaca. 

Já a Superintendência das Ações Administrativas Descentralizadas da zona Norte (Saad Norte) informou que tem dado assistência tanto na retirada como no acolhimento das famílias em locais seguros. Ainda segundo o órgão, por conta própria, foram disponibilizados kits de materiais higiênico-sanitário aos desabrigados na região. 

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