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Em área de risco, famílias lutam por moradia e temem as chuvas

A ocupação Boa Esperança está entre as 56 áreas de risco monitoradas, devido à probabilidade de ocorrer, ao mesmo tempo, desabamento, deslizamento e alagamento

07/01/2018 08:42

Como na oração de Luiz Gonzaga, as famílias que moram na ocupação Boa Esperança, zona sudeste de Teresina, pedem a Deus pra chover de mansinho. Em casas de taipa localizadas entre morros ou perto de encostas, o período de inverno traz medo.

A região está entre as 56 áreas de risco monitoradas pela Defesa Civil Municipal de Teresina, devido à probabilidade de ocorrer, ao mesmo tempo, desabamento, deslizamento e alagamento.

Fernanda da Costa Silva, de 27 anos, sabe bem o que é morar em um local como esse. Há cerca de um ano, a casa de taipa onde ela vivia com as duas filhas, localizada próxima de um barranco, caiu. “Eram as primeiras chuvas de dezembro. Sempre nesse tempo fica o medo porque a água amolece o barro e derruba as paredes. Foi o que aconteceu”, lembra a moradora.


Na ocupação as casas de taipa estão localizadas entre morros ou perto de encostas. Foto: Jailson Soares/ODIA

A existência de famílias em áreas de risco é um problema social que está diretamente relacionado à especulação imobiliária e à carência de política pública habitacional. Sem ter para onde ir, as famílias se arriscam no espaço precário que conseguem, enquanto outros acumulam terrenos esperando pela regularização para vendê-los depois.

A situação de Fernanda ilustra essa realidade. “Aqui na Boa Esperança tem muitos lotes vazios. As pessoas invadiram e não ocuparam. Agora querem vender por R$ 12 mil, mas eu não tenho esse dinheiro”, lamenta.

Por ser uma ocupação, os terrenos não possuem donos regularizados, o que contribui para as disputas pelos lotes. Segundo Fernanda, o suposto proprietário do local onde ela estava morando depois que a sua casa caiu, foi até lá para tirá-la à força. “Ele chegou com mais três homens e me bateu. Eu acho isso muito injusto. Se ele não tava aqui, é porque não precisa. E eu não tenho onde morar”, reclama.


Engenheira da ocupação Boa Esperança, Jeracinda Gomes.  Foto: Jailson Soares/ODIA

Engenheira da ocupação

As nuvens escuras e o tempo abafado anunciavam a chegada da chuva, enquanto Jeracina Gomes de Sousa, 61 anos, se preparava reforçando o reboco da parede com uma mistura de barro e cal.

Morando à beira de uma encosta, a engenheira da ocupação Boa Esperança acredita que não há motivo para temer. “Eu faço tudo certo aqui. A água vem lá de cima, mas desce pelo lado da casa. Nunca entrou e nem alagou nada”, diz.

É provável que Jeracina use toda essa convicção para disfarçar o medo de ser retirada de onde está. “Aqui não é área de risco. O problema maior é ali pra baixo. Eu não quero sair, não”, afirma, deixando escapar um tom de apelo.

Por se tratarem de ocupações, os terrenos não possuem donos regularizados.Foto: Jailson Soares/ODIA

Áreas de rico em Teresina

A Defesa Civil Municipal destaca pelo menos sete áreas, em Teresina, que oferecem maior risco de desabamento, deslizamento ou alagamento. Além da ocupação Boa Esperança, estão na lista o Parque Vitória, na zona Sul; o Parque Universitário e uma área entre os bairros Pedra Mole e Cidade Jardim, na zona Leste; uma parte do bairro São Joaquim e a Vila Apolônia, na zona Norte; e o Parque Boomerang, na zona rural.


Por: Nayara Felizardo
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