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COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA: relações entre pais e filhos

O comunicador social Yako Guerra reforça que desenvolver a Comunicação Não-Violenta é uma ação diária, que deve ser aprimorada com a leitura e prática de meditação

06/02/2021 10:01

Mas será se um indivíduo sabe quando está praticando comunicação violenta com outras pessoas? Segundo o psicólogo Juarez Lima, em geral, quem se expressa de forma agressiva tende a não reconhecer este ato como violência.

“Essa pode ser uma atitude tanto de temperamento como de aprendizado, ou seja, do meio que ela cresceu e teve exemplo, como os pais, e que está reproduzindo; ou adquirido no meio social ao longo da vida. Assim, essa pessoa não se reconhecerá uma pessoa violenta ou agressiva, a não ser que alguém fale e ela ouça. Mas ainda há o caso de pessoas que são egocêntricas, que, por mais que alguém fale da maneira mais assertiva possível, ela não vai aceitar, por conta do ego, que é grande. Em geral, o indivíduo refletiria sobre o assunto, mas essa pessoa não”, pontua.


LEIA O INÍCIO DO ESPECIAL EM:  COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA: um trabalho de autoconsciência e empatia 

Foto: Divulgação/ Redes Sociais

O psicólogo comenta que essa pode ser considerada como uma postura de superioridade. Retomando como exemplo a cantora Karol Conká e sua postura de arrogância, ele comenta se tratar de uma questão de ego, uma vez que a artista é mundialmente conhecida e acredita que seu discurso é correto.

“O fato da Karol Conká ser uma pessoa de sucesso, com muitos seguidores, público e carreira, ela tem o ego muito inflado. Ela fala, mas não ouve os demais. É uma barreira que a pessoa coloca como se só ela estivesse correta. Nesse caso, ela precisaria de terapia para se conhecer, mas isso é algo que ela mesma deve identificar e buscar, ao entender que necessita de ajuda para mudar”, sugere o profissional.

Essa relação de superioridade pode ser percebida em diversas esferas da sociedade, tanto no seio familiar, profissional, de amizades, entre outros, e, acordo com o psicólogo Juarez Lima, é algo imposto socialmente ao longo de gerações.

 “Não temos essa cultura dos pais serem amigos dos filhos. Em geral, as relações são impositivas, de superioridade, no qual os filhos têm que obedecer, então não precisa ser gentil ou assertivo, porque é só ordenado e precisa ser obedecido. São raros os casos de pais que constroem uma boa relação com os filhos, de amizade. Nesses casos, a comunicação é melhor, o afeto é melhor e maior, a consideração entre as pessoas. São famílias mais saudáveis e saem pessoas mais saudáveis”, disse.

Ele enfatiza a necessidade da sociedade em mudar esse comportamento, partindo, especialmente, dos mais jovens aos mais velhos. “Nossos pais têm esse comportamento que não muda, mas é importante falarmos que essas mudanças sociais estão acontecendo. E é um cuidado que precisamos ter conosco, que vamos envelhecendo e aceitando essas mudanças da sociedade e ir absorvendo. Do contrário, nos tornaremos uma sociedade mais envelhecida e preconceituosa, que é o que acontece com a geração dos nossos pais e avós, porque eles não tinham esse poder de comunicação que temos com a internet”, ressalta Juarez Lima.

“Empatia não é um privilégio de todos, não é apenas ler alguns livros sobre o tema que a pessoa se tornará empática. A pessoa nasce empática e vai desenvolvendo ao longo da vida. Esse é um processo gradual e lento. Têm pessoas que são pouco empáticas, mas que se permitem ouvir, fazem terapia e percebem o outro, tornando-se mais maleável ao invés de impositivo”, destaca o psicólogo Juarez Lima. O profissional destaca que ser empático é respeitar o outro e o espaço que ele ocupa. O psicólogo argumenta ainda que muitas pessoas confundem empatia com a reação que elas diante de algo que acontece com o outro. “Você ver um caso que lhe traz revolta não quer dizer que você é empático, mas que você reagiu com algum sentimento àquela ação que não foi legal. A empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, mas sem se envolver sentimentalmente. Saber como ele está se sentindo, o que o outro está passando, mas você não se afeta, e, a partir daí, tem base para se orientar melhor e apoiar melhor”, completa Juarez Lima. Abordar um indivíduo com uma comunicação violenta pode desencadear uma série de sensações e reações, dependendo do contexto e da frequência. A pessoa que é agredida pode ter crises de ansiedade, baixa autoestima, desenvolver depressão ou outros transtornos psiquiátricos. “Basta o convívio com a pessoa agressiva, ou que ela entre no ambiente, para que essa vítima tenha uma crise de ansiedade. Até o tom e a linguagem corporal fazem diferença e pesa muito. Assim, classificamos como essa pessoa sendo e tendo um comportamento tóxico, que prejudica o ambiente inteiro e às pessoas que estão à sua volta”, frisa o psicólogo.

O comunicador social Yako Guerra reforça que desenvolver a Comunicação Não-Violenta é uma ação diária, que deve ser aprimorada com a leitura e prática de meditação.

“Passamos uma vida inteira aprendendo de um jeito, inclusive a cultuar a comunicação violenta e agressiva. Leia sobre CNV, conheça essa realidade, pratique meditação e atenção plena para desenvolver a concentração e estado de autoconsciência. A meditação é um momento que você para e observar como está por dentro e como isso reflete de para fora”, disse. O psicólogo Juarez Lima também reforça que essas tradições precisam ser quebradas.

 “Nem toda tradição é saudável. Para mudar, é preciso terapia, seja individual ou familiar, é um trabalho psicossocial, para melhorar os conflitos e raivas. Muitas pessoas não enxergam esses erros como algo errado, eles consideram normal porque foi aprendido assim, e ela acaba se tornando uma pessoa tóxica e agressiva”, frisa.

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