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Taxa de suicídio no Piauí é 57% maior que a nacional

Ministério da Saúde divulgou o primeiro boletim epidemiológico do suicídio no Brasil. Maior incidência de casos é na população indígena.

21/09/2017 17:54

“Eu deveria ser forte, deveria ter aprendido a lidar com isso, mas não consigo”. A frase pode parecer clichê, um tanto melodramática, mas está atrelada a uma triste realidade, uma espécie de ponto cego o qual a sociedade ainda tem dificuldades em encarar e compreender: o suicídio.

Nesta quinta-feira (21), o Ministério da Saúde divulgou seu primeiro Boletim Epidemiológico sobre o suicídio no Brasil. Um dado é alarmante: a taxa de suicídio no Piauí é 57% maior que a nacional. Somente em 2015, foram 8,8 casos de suicídio para cada 100 mil habitantes no Estado e no mesmo ano, no Brasil, essa taxa foi de 5,6 para cada 100 mil habitantes.

Em números absolutos, o Piauí contabilizou, no intervalo de cinco anos (2011 a 2015), 1.253 casos. Em 2011 e 2012, o número se manteve o mesmo: 239. Em 2013 houve redução para 233, mas em 2014, aumentaram para 258, chegando a 284 em 2015. Nos cinco anos de dados colhidos pelo Ministério da Saúde, o Brasil inteiro registrou 55.649 casos de suicídio.

Os homens foram quem mais concretizaram o ato, correspondendo a 70% do total de óbitos registrados. Solteiros, viúvos e divorciados foram os que mais morreram por suicídio (60,4%). A maior incidência de casos é na população indígena, na qual a taxa de mortalidade (15,2) é quase três vezes maior que o registrado entre brancos (5,9) e negros (4,7).

Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio é maior entre os homens, com uma taxa de nove mortes para cada 100 mil habitantes; e entre as mulheres, o índice é quase quatro vezes menor (2,4 por mil habitantes). Com relação à população indígena, é a faixa etária de 10 a 19 anos é que mais concentra casos: 44,8%.

Para o psicólogo Carlos Aragão, especialista em prevenção ao suicídio, os números são preocupantes sim, mas ainda subnotificados. Ele explica que o assunto ainda é tratado com uma espécie de tabu, o que leva as famílias e pessoas próximas a silenciarem, quando, na verdade, deveriam levantar a discussão para ajudar a evitar que outros casos aconteçam.

Carlos explica que o suicídio não acontece do nada, mas que se trata de uma consequência decorrente de uma série de fatores de natureza emocional, psicológica e até mesmo física. De acordo com ele, não há estudos que apontem uma causa específica que leve alguém a atentar contra a própria vida.

“Desesperança, falta de perspectiva, solidão, falta daquele senso de pertencimento a um grupo, pressões sociais, a necessidade de se encaixar em um modelo pronto, a ansiedade, se sentir obrigado a atender expectativas. Se eu fosse falar todos os fatores de risco, a lista não teria fim. As pessoas precisam parar e olhar o outro, o que está se fazendo com o outro e como isso o afeta. É uma contradição enorme a que vivemos hoje: estamos tão conectados e não sabemos sequer como o outro se sente, não nos olhamos nos olhos, falta empatia. As relações sociais estão cada vez mais fragmentadas”, diz.

O psicólogo critica aquilo a que chama “virtualização da vida”. As relações sociais físicas se perdem em meio a curtidas, compartilhamento e comentários. “É tudo muito rápido, as pessoas vivem em uma pressa para fazer tudo, há uma aceleração que deixa espaços vazios e quando eles começam a tomar de conta, a sensação é de perda de controle. O ato final a gente já sabe qual é”, afirma.

Carlos acrescenta que é essencial inserir os jovens e idosos, grupos considerados mais vulneráveis ao isolamento, em atividades de grupo tais como práticas esportivas, que são estimulantes do convívio e ensinam que perder e ganhar são componentes necessários para a moldagem do ser humano. “É deixar nossos jovens viverem fora de uma redoma, porque só assim eles estarão preparados para as frustrações da vida”, finaliza o psicólogo.

Ações

Em Teresina, o Hospital Lineu Arújo mantém o ambulatório Provida, especializado no tratamento de pessoas com intenções suicida. O local conta com psicólogos e psiquiatras e funciona de segunda a sexta, das 8h às 12h e das 13h30 às 17h30. Interessados podem entrar em contato com o ambulatório por meio dos telefones do Lineu Araújo, que são 3215 4344 e 3215 9131.

Teresina conta ainda com o Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail, chat e voip 24 horas todos os dias. O número do CVV é 188.

Por: Nayara Felizardo e Maria Clara Estrêla
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