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Sem acompanhamento, crianças com lábio leporino podem ficar desnutridas

Algumas crianças não conseguem engolir o alimento adequadamente, sendo, às vezes, necessário o uso de sonda.

11/02/2019 07:42

O lábio leporino, ou fissura labial, é uma condição genética comum e pode ocorrer isoladamente ou como parte de um problema ou síndrome genética. A principal característica é uma abertura ou fenda no céu da boca e nos lábios e pode causar dificuldade para falar, gagueira, congestão nasal, dificuldades com a alimentação do bebê, perda de audição, respiração bucal ou ronco.

Karla Malta, especialista em nutrologia pediátrica, ressalta que, sem os cuidados e acompanhamentos necessários de multiprofissionais, essa criança pode apresentar outros sintomas, inclusive a desnutrição. “Um dos maiores riscos é de Algumas crianças não conseguem engolir o alimento adequadamente, sendo, às vezes, necessário o uso de sonda Sem acompanhamento, crianças com lábio leporino podem ficar desnutridas Cuidados desnutrição, de prejuízo na fala e alimentação como um todo, levando ao baixo desenvolvimento da face, que não está exercitando e trabalhando de forma adequada”, comenta.

 A nutróloga pontua que a avaliação com bucomaxilo é importante para fazer alguns procedimentos, tanto estético como funcional, melhorando a sucção e deglutição da criança e para que não haja risco de aspiração. Karla Malta enfatiza que este é o maior receio, pois o alimento pode ser desviado e chegar ao pulmão ao invés de ir para o estômago. A especialista conta ainda que algumas crianças não têm condições de fazer essa deglutição de forma adequada, sendo às vezes necessário fazer o uso de sondas.

Quando a criança é muito pequena, as sondas passam pelo nariz, se a criança apresentar condições disso, ou a sonda é colocada pela boca até o estômago, em casos de lesões mais extensas, para que ela seja alimentada. “Em alguns casos, de crianças maiores, há necessidade de gastrostomia, que é fazer a alimentação chegar direto ao estômago, mas isso é um procedimento endoscópico ou cirúrgico. Precisamos ver a densidade calórica para que essa criança não perca peso, porque se as dietas para passar pelas sondas não forem bem estabelecidas podem ser hipocalóricas, principalmente quando a mãe manipula essa alimentação em casa”, conta. 

Karla Malta também explica com relação aos valores calóricos dos alimentos. Segundo ela, fazer uma sopa liquificada não tem o mesmo valor calórico do que uma sopa amassada. Diante disso, é preciso colocar suplementos alimentares para aumentar a densidade de calorias para fazer com que essa criança ganhe peso de forma adequada. “Essa avaliação deve ser acompanhada mês a mês com um nutricionista, que vai orientar a melhor forma de como essa criança deve ser alimentada, de maneira a não comprometer seu crescimento. Para que a alimentação da criança não seja comprometida, em alguns casos é necessário que essa criança coloque uma placa de vedação, melhorando a deglutição e evitar a aspiração do alimento de forma errada, para, em seguida, fazer o procedimento cirúrgico”, finaliza Karla Malta, nutrologista pediátrica.

Orientações necessárias antes da realização de cirurgias

O tratamento para lábio leporino deve iniciar logo após o nascimento da criança, estabelecendo assim as condições de saúde do bebê. Algumas malformações podem estar associadas, sendo especialmente importante verificar a anatomia do coração. Para que sejam feitas as cirurgias, é importante que essa criança ganhe peso, de forma a se preparar para os procedimentos que virão.

Segundo o cirurgião plástico Davis Barbosa, a orientação do fonoaudiólogo, por exemplo, é essencial, vez que a maioria destas crianças não consegue sugar o peito, tendo que ser alimentadas com copinho ou colher, podendo ainda ser necessário complementar a alimentação com leite artificial. Também pode ser preciso fazer tratamentos realizados pelo dentista logo após o nascimento, de modo que vão colaborar para o melhor desenvolvimento da criança.

“As fissuras podem ocorrer no lábio, no céu da boca (palato) ou nos dois lugares ao mesmo tempo, podendo ainda ser apenas de um lado do dos dois, acompanhando uma ou as duas aberturas do nariz. Do ponto de vista da cirurgia plástica, o primeiro tratamento cirúrgico a ser realizado é o fechamento do lábio, que deve ocorrer entre o terceiro e o sexto mês após o nascimento. Podem ser necessárias duas cirurgias em crianças que têm aberturas dos dois lados do lábio, fazendo o fechamento do lado mais aberto inicialmente”, explica.


O cirurgião ressalta cuidados necessários antes da cirurgia. Foto: Arquivo Pessoal 

Em seguida, deve-se fazer o fechamento do palato [céu da boca], que deve estar corrigido entre oito e 12 meses de vida. Na adolescência será realizada a correção do nariz, que tende a crescer com desvio ou com a ponta muito caída. “Costumamos estabelecer um  mínimo de três cirurgias para estas crianças, mas a realidade é que a maioria dos pacientes se submete a dezenas de cirurgias, desde as de maior porte até a realização de pequenas correções”, acrescenta. Ainda de acordo com o cirurgião plástico, ao contrário do que muitos pensam, o principal motivo de iniciar o tratamento tão cedo não é a estética facial.

Segundo ele, o principal objetivo das cirurgias na primeira infância é restabelecer o posicionamento das musculaturas responsáveis pelo ato de se alimentar e pela fala, além de fechar as aberturas patológicas entre a boca e o nariz. “A sequela mais difícil de corrigir é a pronúncia correta das palavras, que pode se tornar anasalada pela passagem excessiva de ar pelo nariz. Portanto, além da correção cirúrgica da anatomia, é fundamental o tratamento fonoaudiológico para ensinar a criança a orientar a saída da maior parte do ar pela boca, diminuindo o anasalamento, responsável pela característica voz ‘fanha’”, pontua Davis Barbosa.

Além disso, as falhas nas estruturas ósseas da região da boca são responsáveis pela falta de dentes e posicionamento irregular dos dentes presentes. O dentista está presente neste tratamento desde o início, dando suporte com próteses, retirando dentes doentes, utilizando aparelhos dentários, fazendo enxertos ósseos, implantes e toda uma infinidade de tratamentos e abordagens odontológicas, que serão necessárias por toda a vida.

Por: Isabela Lopes
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