Os pacientes renais crônicos
necessitam fazer hemodiálise
constantemente e o procedimento é realizado através das veias,
inicialmente nos braços. Contudo,
quando não há mais acesso neste
membro, faz-se no peritônio, que
é uma membrana serosa que recobre as paredes do abdômen e
a superfície digestiva, ou seja, na
barriga.
No Brasil, a única empresa responsável por fornecer este serviço
peritoneal é a multinacional Presenius Medical Care. Entretanto,
segundo Luiz Gonzaga Moreira
Filho, presidente da Associação
dos Pacientes Renais Crônicos do
Piauí (Aprepi), desde março deste
ano, a empresa enviou uma carta
às clínicas conveniadas ao SUS
(Sistema Único de Saúde), comunicando que não aceitaria novos
pacientes; porém, continuaria
atendendo àqueles que já se encontram em tratamento.
Cerca de dois mil piauienses fazem hemodiálise, além dos que já
fizeram transplante, mas que, vez
ou outra, têm necessidade de fazer
diálise ou hemodiálise. “O problema é que esta é a única empresa no
País conveniada pelo SUS, ou seja,
quem precisa e não era paciente
peritoneal está indo a óbito, porque não tem como fazer. Há dois
meses, quando nós da Associação
ficamos sabendo, procuramos o
SUS para saber como ficaria essa
questão, mas não obtivemos retorno”, explicou Luiz.
No caso da diálise peritoneal,
o tratamento do paciente é feito
em sua própria residência, sem a
necessidade dele se dirigir a uma
clínica. A empresa que atua no
Brasil fornece a máquina de diálise, o cateter que é colocado através
de cirurgia e a bolsa de colostomia,
que é feita a cada quatro horas ou à
noite, com oito horas.
Risco de morte
Por conta deste impasse, o presidente da Aprepi destacou que
alguns pacientes estão correndo
risco de morrer sem o tratamento.
Ele cita o exemplo de uma paciente que está há mais de 11 dias sem
realizar hemodiálise, vez que não
tem mais acesso nos braços. “A
filha de uma paciente, que já faz
hemodiálise há cinco anos, nos
procurou dizendo que a mãe não
tem mais nenhum acesso nos braços, na veia femoral, virilha, e que a
única solução para ela não morrer
seria fazer a diálise peritoneal, e ela
já está com 11 dias que não realiza,
e está internada no HUT com seu
quadro grave”, relata.
Na última segunda-feira (18),
o presidente da Aprepi procurou
o Ministério Público Federal para
entrar com uma ação contra a empresa e, nessa terça-feira (19), junto com a filha de uma paciente, foi
à Defensoria Pública da União para
fazer uma denúncia e entrar com
uma ação individual.
“Vamos entrar com uma ação
contra essa empresa, porque estamos tendo a primeira paciente que
está necessitando do tratamento,
mas poderemos ter muito mais,
pois todos os dias entram pessoas
na hemodiálise e diálise peritoneal.
A associação vai entrar com uma
ação coletiva em nome de todos os
pacientes que estão e possam a vir a
necessitar do tratamento, e na Defensoria, a filha da paciente está entrando com uma ação individual”,
finalizou Luiz Filho.
Outro lado
Em um comunicado emitido
pela empresa Presenius Medical
Care, a multinacional informa que
a diálise peritoneal no Brasil se
encontra em uma situação econômica crítica, resultante da ausência
de reajuste nos kits, por parte do
Governo desde 2003, e que, mesmo após mudanças e otimizações,
tornou-se inviável a manutenção
do fornecimento dos kits de DP.
“Lamentamos informar que não
aceitaremos novos pacientes; porém, seguiremos honrando o atendimento a todos aqueles que já se
encontram em tratamento. Em adicional, informamos que a partir do
dia 01/04/2016 também encerraremos nossa política comercial referente ao fornecimento dos kits de
DP”, diz na nota.
A equipe de reportagem do Jornal ODIA tentou contato com o
Ministério da Saúde, mas não obteve sucesso até o fechamento desta
edição.
Por: Isabela Lopes - Jornal O DIA