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O olhar da sociedade para as pessoas com transtorno mental

Pesquisadora afirma que o perfil do "œlouco" foi estigmatizado e construído sobre uma higienização social, ora por ser potencialmente perigoso ou agressivo em momentos de surto.

16/02/2019 08:38

A jornalista, mestranda e pesquisadora em Saúde Mental no Piauí, Camila Fortes, conta que a sociedade ainda vê a pessoa com transtorno mental com olhos de periculosidade ou pena. Segundo ela, isso vem de um processo histórico mundial de mais de 700 anos, onde o perfil do “louco” foi estigmatizado e construído sobre uma higienização social, ora por ser potencialmente perigoso ou agressivo em momentos de surto, ora por ser considerado incapaz de assumir seus atos e responsabilidades, ora por sofrer todo tipo de violência moral, física, psicológica e não ser considerado uma pessoa como qualquer outra.


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“Quem não se tornaria agressivo depois de ser agredido, aprisionado, torturado? A reação do oprimido acabou por construir e reforçar o perfil do ‘louco agressivo e imprevisível’. E esse é um processo histórico que reverbera ainda nos dias de hoje e é responsável pelo entendimento moderno do ‘louco’. E assim, é importante reconhecer os avanços na quebra desses estigmas, dos profissionais de saúde que tanto se empenham para informar a população e para incluir a pessoa com transtorno mental na sociedade, no trabalho, no lazer etc., de modo educativo e informativo”, conta.


“Quem não se tornaria agressivo depois de ser agredido, aprisionado, torturado? A reação do oprimido acabou por construir e reforçar o perfil do ‘louco agressivo e imprevisível", diz Camila Fortes.


A pesquisa pontua que, considerando a loucura como um processo que foi construído historicamente e modificado seu entendimento ao longo dos séculos, ela tem observado que o discurso vai se modificando a partir do acesso às informações. As políticas públicas de saúde mental no Brasil vêm agindo de modo a informar e a desmistificar esses preconceitos que insistem em se manter atrelados a essas pessoas, bem como a dar uma maior assistência aos mesmos e a seus familiares.

Ainda de acordo com Camila Fortes, a construção de um discurso sobre um perfil do “louco” ainda é algo a ser trabalhado, vez que, atualmente, qualquer pessoa pode desenvolver algum tipo de transtorno mental, dentre eles, a ansiedade, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros.

“As novas definições de sujeito contemporâneo exigem uma construção de identidade particularmente impecável. As obrigações sociais se desdobram, a visibilidade em marcha se torna um fenômeno cotidiano, capaz de transformar a vida das pessoas de modo bastante influente a ponto de atingir a forma com que as pessoas lidam com as questões cotidianas. Falta informação porque ainda existe um estigma, um preconceito atrelado a essas pessoas. É importante considerar que esse é um trabalho coletivo, dentre os profissionais de saúde, os pesquisadores, familiares e da própria pessoa”, finaliza pesquisadora.

Saiba onde buscar atendimento

No Piauí, há 66 CAPS distribuídos de Parnaíba a Corrente. Há apenas um centro de atenção psicossocial estadual, o CAPS Infanto-Juvenil, localizado em Teresina, que tem 1.260 jovens cadastrados, o que dá, em média, 250 atendimentos realizados mensalmente. Ele fica localizado no bairro Buenos Aires, zona Norte de Teresina. Já nos CAPS do interior, a média é de 1.300 pessoas cadastradas, que podem chegar até três mil, dependendo da cidade.

Em Teresina, há sete CAPS: Caps Norte - 2.500 (atendimentos mensais); Caps Sul – 1082 (atendimentos mensais); Caps Leste – 3021 (atendimentos mensais); Caps Sudeste – 1483 (atendimentos mensais); Caps I – 408 (atendimentos mensais); Caps III – 1100 (atendimentos mensais); Caps AD – 7440 (atendimentos mensais).

Por: Isabela Lopes - Jornal O Dia
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