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90% dos pacientes que tentam suicídio têm diagnóstico de transtorno mental

Profissional alerta para necessidade de notificação de casos, para que sejam criados projetos que modifiquem a situação atual.

22/05/2019 08:44

Segundo dados das Organizações das Nações Unidas (ONU), cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio por ano, o que representa a média de uma morte a cada 40 segundos. Em Teresina, dados divulgados pelos serviços de saúde da Capital revelam que, somente em 2018, foram notificados 583 casos de violências autoprovocadas, o que corresponde a 97,43% de tentativas de suicídio.

Os dados da Fundação Municipal de Saúde (FMS), que dispõe de rede extensa de assistência à saúde mental, mostram também que 2,57% são dados de automutilações. Entre os casos registrados, 79% dos pacientes eram do sexo feminino e 21% masculino.

O levantamento da FMS abrangeu o estudo da faixa etária mais vulnerável às automutilações e tentativas de suicídio na capital piauiense: 39,62% tinha idade compreendida entre 20 e 34 anos; seguido por 24,70% entre 15 e 19 anos; e 24,19% com 35 a 49 anos de idade. Já a notificação dessas violências envolvendo pessoas com 10 a 14 anos correspondeu a 6,17%; 3,95%; com 50 a 64 anos e apenas 0,69% com idade inferior a 10 anos e superior a 65 anos.

“90% dos pacientes que tentam suicídio apresentam, após avaliação, diagnóstico de um transtorno mental. Os outros 10%, mesmo após avaliação, não apresentam diagnóstico”, comenta o psiquiatra Francisco Brito, da FMS. Ele cita que, quando paciente comete este ato ele é encaminhado para o serviço de atendimento de urgência e emergência, onde é feita a estabilização clínica.


Em Teresina existe o Centro de Valorização da Vida (CVV) que é acessível através do 188. Foto: Jailson Soares/ODIA

Após isso, ele é encaminhado para o serviço de saúde mental para que seja feita uma avaliação, tanto do diagnóstico como do momento e da possibilidade ou não desse ato voltar a se repetir a curto ou longo prazo. Os dados do relatório da FMS foram apurados com base nas folhas de notificações que estão disponíveis nos postos de saúde, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), ambulatório de suicídio, pronto-socorro, Programa Saúde da Família, entre outros serviços de saúde.

“Esse documento vai para o Sinan (Sistema de Informações de Agravos de Notificação), esses dados são computados e analisados, sendo feita então as estatísticas. Então são identificados os casos, os diagnósticos e os transtornos das doenças mais incidentes e com maiores gastos públicos; a partir disso criam-se projetos específicos para condições específicas. Por isso é importante a notificação, não somente para a gente entender essa realidade à nossa volta, mas também para motivar a criação desses projetos para tentar enfrentar essas dificuldades de forma mais efetiva”, comenta Francisco Brito.

Saúde física X Saúde mental

Quando alguém sente uma dor ou desconforto, é comum buscar um profissional de saúde para se tenha o diagnóstico e iniciar um possível tratamento. Porém, quando se fala em saúde mental ainda há um certo preconceito em relação a buscar ajuda. Segundo o psiquiatra Francisco Brito destaca que há um termo chamado ‘psicofobia’, que vem a ser o preconceito contra os portadores de transtornos e deficiências mentais.

“Para trabalharemos com isso é importante esclarecer à população. Antes da reforma psiquiátrica o tratamento dos pacientes com transtornos mentais de dava em instituições afastadas da cidade, como se quisesse isolar essa pessoa da sociedade. Com a reforma, o objetivo é integrar essas pessoas que sofrem transtornos à sociedade”, comenta Francisco Brito.

O transtorno mental não é raro de acontecer. Segundo o psiquiatra da FMS, as estatísticas apontam que uma a cada duas pessoas vão sofrer algum transtorno mental durante a vida. “Podemos dizer que metade das pessoas vai passar por algum momento na vida em que tenha dificuldade e até um transtorno mental. Isso pode ser sua mãe, você, seu filho. Todos estão suscetíveis a isso, mas muitas dessas pessoas não buscam a avaliação, diagnóstico e tratamento por conta da psicofobia. Esse tema ainda é um tabu”, finaliza.

Por: Isabela Lopes
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