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Rodrigo Martins anuncia que pode concorrer a prefeito em 2020

Em entrevista especial para O DIA o deputado estadual revelou ainda saída do PSB e dedicação à vida profissional.

10/12/2018 09:17

O DIA conversou com o deputado federal Rodrigo Martins. Nas eleições de 2018, ele desistiu de concorrer a reeleição e agora anunciou que vai sair do PSB assim que o atual mandato encerrar, dia 1º de fevereiro. Em entrevista exclusiva, ele comenta o cenário político nacional, fala de sua atuação parlamentar nos quatro anos de Câmara. Rodrigo Martins também comenta o resultado do processo eleitoral para a oposição aqui no Estado e fala sobre seu futuro político. Ao O DIA, o deputado diz que não quer se envolver com política partidária em 2019, e que não precisa de mandato para participar da vida político do país. Ele informou ainda que vai reassumir os cargos públicos que possui por concurso público e curtir mais a família, deixando a decisão para retornar ou não a vida pública para 2020.


- Ao longo do seu mandado o senhor participou de votações bastantes polêmicas na Câmara, como processo de impeachment da ex-presidente Dilma e as investigações contra o atual presidente Michel Temer. De que forma o senhor acredita que esses episódios de denúncias contra lideranças políticas influenciaram as eleições e afetará a classe?

Esse mandato que eu tive como deputado federal, que está findando agora no início do ano que vem, foi o mandato muito polêmico, muito conturbado, onde nós tivemos diversas situações que mostraram o podre da política, que explicitaram as práticas ilegais que estavam sendo cometidas no Brasil como um todo, e exigiu da Câmara um posicionamento. É lógico que quando você tem um presidente da República sendo afastado do seu cargo por irregularidades, quando você tem um presidente com indícios fortes e reais de envolvimento com corrupção e tem também um presidente da Câmara envolvido, isso externa muito para população à prática política e, por vezes, a grande maioria da população tende a nivelar todos os políticos no mesmo patamar, no patamar de corrupção. Eu acredito que em meio à conturbação, essas questões de denúncias e do afastamento da presidente Dilma chamou a população para que ela ficasse mais atenta e mais criteriosa na hora da escolha política, na hora da eleição. Esses fatos foram fundamentais para modificar o panorama da política brasileira, tanto que nós vivenciamos uma mudança muito grande na eleição deste ano. Várias pessoas não renovaram seus mandatos na Câmara e no Senado. Eu acredito que tudo isso veio por conta da revolta da população com a forma de fazer política.

- Durante o processo de eleição o senhor acabou desistindo de se candidatar mesmo sendo cotado como um dos favoritos. A decisão foi motivada apenas por questões pessoais de fato?

Foi uma decisão pessoal. Não foi uma decisão fácil, aonde pesou o lado familiar. Eu ainda na pré-campanha sofri um desastre aéreo que poderia ser fatal e desde aquele momento eu fiquei em reflexão. Tenho duas filhas pequenas, claro que elas não tomaram conhecimento da gravidade do acidente, mas minha esposa e meus pais, principalmente, conversaram e fizeram muito apelo com relação a isso. Logicamente que hoje é quase impossível você percorrer o estado do Piauí, fazer uma campanha de deputado federal sem estar visitando as cidades que não seja por avião. Baseado nessa conversa nós decidimos realmente não disputar a eleição. Depois do pleito realizado várias pessoas conversaram, lamentando nossa decisão, mas foi realmente uma decisão de cunho pessoal. Eu já estava há 10 anos na política e a gente abdica muito de questões pessoais. Decidimos recuar por um momento e ter aquele acidente como um aviso.

- Você acredita que essa decisão influenciou de alguma forma o resultado da sua coligação, que não conseguiu eleger tantos deputados?

Na verdade a gente tem que ser muito franco em relação a isso. A coligação tinha três deputados federais, com a possibilidade de fazer dois com minha presença. Quando eu retirei o meu nome existiu, sim, a dificuldade, que foi comprovada pelas urnas. É lógico que quando você tira qualquer quantidade de votos de uma chapa, você diminui a quantidade de votos, diminui a quantidade de possibilidade de fazer mais números dos deputados. Eu acredito que tenha atrapalhado, mas isso também foi um dos pesos na hora da decisão. Nós conversamos com os candidatos da chapa e explicamos as nossas circunstâncias. Eu acredito que, sim, possa ter prejudicado, mas também não diria que não foi a minha candidatura responsável pelo fracasso, pelo pouco desempenho da chapa de oposição, até porque nós temos que reconhecer que o governo fez a maioria dos deputados com méritos. Temos que respeitar a decisão democrática do povo.

- Deputado, além de desistir não concorrer nas eleições deste ano, o senhor anunciou que vai se desfiliar do PSB. O que levou a essa decisão? Há algo relacionado ao baixo desempenho do partido aqui no estado?

Há algum tempo eu tenho me distanciado do posicionamento do PSB nacional. Eu tenho adotado muitas posições contrárias as posições do PSB. Acredito que por ser histórico e pelos grandes nomes que possui, o PSB não podia se omitir no período eleitoral ou querer fazer papel de coadjuvante, como foi feito. O PSB tinha história e quadros, militância, acredito que o partido e todos nós poderíamos ter defendido uma candidatura própria à Presidência e não deveríamos ser omissos. Fui voto vencido, até porque a maioria do executivo nacional é ligada ao Partido dos Trabalhadores, e como fui voto vencido e o incomodado se retira, eu vou me retirar. Quem me acompanha sabe da nossa coerência política. Não é que eu não mude de opinião, mas para mudar de opinião preciso ser convencido. E fizemos muita oposição ao PT aqui desde o primeiro momento, não teríamos como nos aliar dessa maneira como foi feita. Na janela partidária, eu estive com dois pés fora do partido, atendendo um pedido do ex-governador Wilson Martins fiquei no PSB, por uma conjuntura local. Mas o mandato se findando, não tenho porquê ter vínculo com o PSB enquanto ele estiver com essa postura, procurando ser um puxadinho de outra sigla. Acredito que quem está num partido quer chegar ao poder para implantar práticas políticas para beneficiar a sociedade como um todo. Então dia 1º de fevereiro vou estar pedindo minha desfiliação do PSB e voltarei para minha vida normal. Sou dentista concursado da cidade de União, daqui também da cidade de Teresina, vamos reassumir nossos empregos públicos. Obviamente não é necessário estar em cargo público eleitoral ou filiado a um partido para precisar fazer militância política, se revoltar, questionar, propor e nós vamos avaliar depois de fevereiro as possibilidades que devemos ter caso esse seja o entendimento.

- O senhor considera que o partido se equivocou na estratégia política?

Demais. O PSB tinha condições de ter um nome nacional, não poderia se acovardar e omitir de apresentar um nome para a sociedade brasileira e discutir os problemas que nós vivemos. O PSB não tinha condições de colocar um nome viável como o do Eduardo Campos, mas poderia estar lá com uma pessoa para debater e discutir os problemas atuais, para participar do debate. Vários partidos com histórias mais recentes que o PSB, com menos história, com quadros menores que o PSB concorreram a eleição presidencial. Não tiveram uma quantidade expressiva de votos, mas deram seu recado, apresentaram uma proposta de governo ao povo brasileiro e enfrentaram os desafios que o povo brasileiro tanto precisa. Eu digo que o PSB se apequenou quando tomou a decisão de não lançar candidato no primeiro turno e se apequenou ainda mais quando tomou a decisão no segundo turno, contradizendo a primeira informação que iria ficar neutro.

- Deputado, além do senhor que já anunciou a desfiliação, comenta-se que o deputado Átila Lira pode sair do partido ano que vem. O senhor acredita que o PSB ainda tem condições de se fortalecer em todo o estado?

O PSB é um partido organizado em todo o Piauí. É lógico que vamos passar por um rearranjo político partidário no Brasil como um todo. Primeiro pela cláusula de barreira eu muitas siglas não alcançaram e terão que fazer incorporações, se unirem. Isso até começou já. O PPL se incorporou com o PC do B. O PPS com o Solidariedade e acredito que dentre outros também haverá essa discussão. Acredito que essa rearrumação irá acontecer. Eu não sei se o PSB vai aqui no Piauí diminuir de tamanho, mas logicamente não descarto. É difícil a gente falar quando sai ou estar pretendendo sair do partido, mas certamente haverá um rearranjo partidário com as movimentações naturais que vão acontecer. Até porque nas próximas eleições já não haverá para vereadores, mais a coligação entre partidos. Isso vai causar um rearranjo político muito grande. E acredito que não vou falar do PSB, mas esse grupo que hoje está no partido pode sim sair muito fortalecido.

 - Com a sua saída do PSB, alguma liderança política já lhe procurou para convidá-lo a ingressar numa sigla?

Eu tenho um ótimo relacionamento com vários partidos e amigos. Com o PRB, por exemplo, é tanto em nível local quanto em nível nacional. Quase fui para o PRB, não fui por conta de uma conjuntura local principalmente a pedido do Wilson Martins, mas sou muito amigo do vereador Levino de Jesus, que inclusive já me ligou para agendarmos um encontro para discutir estratégias, planejar o crescimento do partido, mas não tem nada de formalmente feito, de convite oficial, até porque eu não sei qual será meu futuro político, estou querendo passar este ano que vem, de 2019, com nenhuma movimentação político partidária, para que a gente possa tomar decisões só em 2020 se for o caso. As vezes fica complicado o convite de um partido para concorrer um cargo majoritário ou proporcional com tanta antecedência. Então acho que será preciso eu definir internamente se vamos ou não entrar na política, para que esses convites aconteçam. Até agora não existe convite.

- O senhor afirma que não sabe ainda se vai retornar a vida política com mandato. Mas alguns partidos já se movimentam. Há alguma possibilidade do senhor retornar a câmara de vereadores ou até disputar a Prefeitura de Teresina?

Se eu tiver filiado, há essa possibilidade sim. Ninguém descarta. Mas não é algo prioritário essa disputa eleitoral, quer seja de prefeito, quer seja de vereador. O Brasil está passando por muita coisa, acho que é positivo, as práticas políticas estão mudando. Temos aí o Jair Bolsonaro se elegendo sem tempo d televisão, sem tempo de propaganda, sem estrutura partidária e o povo revoltado com as práticas políticas atuais deu uma resposta nas urnas e modificou o processo. São Paulo, Minas Gerais da mesma forma, aqui no Piauí não foi. Temos que respeitar a vontade popular e esperar o resultado dessas mudanças. Será se o Bolsonaro vai corresponder ao que a população esperava, se vai fazer um bom mandato, fazer um choque de gestão? Tudo isso vai impactar os critérios políticos locais, vamos aguardar e avaliar, eu tenho um posicionamento muito claro em relação as gestões de Teresina, onde sou domiciliado, tenho uma identidade muito forte com essa cidade. E acredito que poderia até disputar sem nenhum demérito uma cadeira de vereador ou quem sabe a de prefeito. 

Edição: Ithyara Borges e João Magalhães
Por: Breno Cavalcante
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