Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

"Passada a eleição, o governador mudou radicalmente o discurso"

E entrevista ao Jornal O Dia, o ex-deputado Luciano Nunes comentou as primeiras medidas da reforma administrativa proposta pelo governador Wellington Dias.

16/02/2019 09:03

Ex-deputado estadual, Luciano Nunes (PSDB) abriu mão de uma provável reeleição para disputar o governo do Piauí ano passado, sendo apenas o terceiro mais votado com 300.549 votos, 17,3% no pleito. Sem mandato, ele permanece atuante no cenário político local, principalmente através das redes sociais. Em entrevista ao Jornal O Dia, o tucano, que preside o partido no Piauí, comentou as primeiras medidas da reforma administrativa proposta pelo governador reeleito Wellington Dias (PT) e apontou os caminhos para a reestruturação do PSDB no Estado. Além disso, afirmou que conta com a permanência do prefeito de Teresina, Firmino Filho, no quadro de filiados da legenda para conduzir a chapa do partido na sua sucessão em 2020.

Mesmo sem exercer mandato eletivo, o senhor permanece atuante no cenário político. Quais formas o senhor pretende usar para manter esse canal de diálogo e de fiscalização das ações do Governo? 

Antes de mais nada como cidadão. Todo cidadão tem um papel a cumprir, fiscalizando as ações do governo, seja ele municipal, estadual ou federal. Cobrando as políticas públicas. Depois como político. Eu realmente sou político assumido. Não estou no exercício do mandato, mas vou continuar exercitando o meu papel de cidadão. Também como presidente de partido, sou presidente do PSDB no Piauí. Então vou procurar e vou continuar, através das redes sociais e da imprensa, do espaço que me for concedido, nas reuniões, na sociedade civil organizada, debatendo, discutindo, sugerindo, criticando e apontando também caminhos para o estado do Piauí. Nós vivemos um momento muito sério, muito crítico no nosso estado hoje, um colapso em todas as áreas. Na saúde pública com hospitais interditados inclusive, na educação, na segurança pública, na assistência social as obras estão paralisadas, porque o governo perdeu o controle sobre as finanças do Estado. Fornecedores atrasados, terceirizados sem pagamento, assim como prestadores de serviço. Ninguém confia mais no governo do Piauí, então nós precisamos de uma reforma e de uma gestão efetivamente séria e comprometida com o desenvolvimento do Estado, e nós vamos lutar por isso, através dos meios que nos dispomos hoje, como eu disse, nas redes sociais e na imprensa. 


Luciano Nunes - Foto: Assis Fernandes/O Dia

O governador Wellington Dias (PT) anunciou as primeiras medidas da reforma administrativa do Executivo estadual. Nas suas redes sociais, o senhor criticou a proposta. Qual é sua avaliação quanto às medidas já anunciadas? 

Primeiro, essa reforma administrativa contradiz muito o que o governador disse na campanha. Ele disse que estava tudo muito bem, que ampliou o tamanho do Estado para dar mais especificidade no desenvolvimento das suas ações e que aquilo não comprometia em nada as finanças do Estado. Então de repente passada a eleição, o governador mudou radicalmente o seu discurso, e desde o ano passado apregoava essa reforma administrativa, alegando justamente o ajuste das contas públicas. Só que as ações do governo dizem justamente o contrário. O governador, que está no seu quarto mandato, é o mesmo que estava no final do ano passado. Ele poderia ter tomado essas medidas, ou algumas medidas, ainda no ano passado. Porque retardar até agora? Porque esperar quatro meses? Então nós vimos que existe uma contradição muito grande na posição do governo, nas palavras e nas ações do governador Wellington Dias. A reforma proposta é extremamente tímida, mera perfumaria. O que se vê são cortes de coordenações que para nada serviram. O governo já estava inchado antes da criação dessas coordenadorias, e com a criação delas ficou mais ainda, então o que está se propondo é tão somente o corte dessas coordenadorias. Se preserva e se mantém ainda 50 unidades gestoras, o que é um absurdo. 50 secretarias ou órgãos ou coordenadorias com status de secretaria, uma estrutura pesada. O governador em vários momentos mudou a sua posição em relação a economia que faria, primeiro falou em R$ 500 milhões, depois R$150 milhões e depois dobrou para R$ 300 milhões. Não se vislumbra segurança e compromisso com o que se está dizendo. Nós defendemos o que colocamos já de algum tempo. O Estado tem condições de reduzir a quantidade de secretarias para o número de 12, reduzir o número de órgãos da administração direta para 17, ficando com menos de 30 órgãos, ao invés dos 50 que está propondo agora. Fazer um planejamento estratégico para desenvolver o Piauí, para que o estado volte a gerar emprego e gerar renda. 


"Vou continuar fiscalizando e apontando caminhos para o Piauí, cumprindo meu papel de cidadão"


Dentre as medidas, o governador anunciou que, pelo menos a priori, nenhum deputado estadual será convocado para assumir secretarias em sua gestão. Como o senhor viu essa decisão? 

Acho que de tudo que foi colocado, esse é um ponto positivo. Mas tem que se refletir também na escolha dos secretários. Não adianta também o governador não convocar um deputado, mas comprometer a gestão com indicações políticas sem preencher o critério técnico, isso é o que realmente preocupa. O fato de um deputado ocupar uma pasta não quer dizer que tecnicamente ele não fosse capaz de desenvolver essa ação, o que é preocupante é uma reforma, ou a composição da equipe, ser caracterizada mais pelas acomodações político-partidárias do que pela preocupação técnica de fazer uma boa gestão e ter bons resultados. É isso o que preocupa.

O senhor continua presidente do PSDB. O único representante da legenda na casa continua sendo o deputado Marden Menezes, que já deu declarações avaliando a permanência na sigla. Como o senhor pretende mantê-lo na sigla para que o PSDB continue tendo representatividade no legislativo estadual? 

O deputado Marden é, antes de mais nada, um grande amigo pessoal que conquistei ao longo desses 16 anos de vida pública e mandato parlamentar. Dividimos a mesma bancada na Assembleia e tenho um excelente relacionamento com ele. Acho que o PSDB, como os demais partidos, passa por um momento de reestruturação, tem que se reinventar. Temos que buscar uma sintonia maior com a população e com os anseios populares, tomando por base o que foi demonstrado nas últimas eleições, em que os partidos tidos como tradicionais saíram enfraquecidos do processo, e quem ganhou protagonismo foi um partido novo, o PSL, do presidente Bolsonaro, que saiu de um deputado na Câmara Federal para 52, a segunda maior bancada. Então nós temos que aprender com isso, e é isso que estamos buscando, fortalecer o PSDB no Piauí, e essa é a diretriz do diretório nacional, e isso se faz com muito diálogo, muita conversa e muita convicção do que se quer fazer. Nós vamos fazer e não tenho dúvidas que o deputado Marden permanecerá no PSDB e vamos atrair outras lideranças para fortalecer o partido aqui no estado.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

O PSDB ocupa a prefeitura de Teresina há mais de 20 anos e em 2020 teremos eleições municipais. Como é que o partido tem se organizado para conseguir permanecer no comando da prefeitura da capital? 

O prefeito Firmino é um extraordinário gestor. Tem um grande mandato, com muitas realizações e que coloca a educação da nossa capital como a melhor avaliada entre todas as capitais do Brasil. Essa obra por si só já respalda sua gestão, mas que também faz serviços de excelência na área da saúde de assistência e de obras de infraestrutura para nossa capital. Recentemente ele destacou que Teresina tem R$ 1 bilhão de recursos garantidos. Recursos externos, de financiamento ou do orçamento da união para ser investido na nossa capital nos próximos anos. Isso é muito dinheiro, muito significativo e reflete também no sucesso da sua gestão. Então nós entendemos que o PSDB faz aqui o seu dever de casa, e mais do que isso, leva Teresina hoje como uma capital que é referência para o Brasil, e isso credencia o partido a contínua no comando e na gestão da cidade. Vamos buscar e dialogar, e entendemos que o prefeito é a pessoa indicada para conduzir a sua sucessão aqui na capital. Naturalmente, comandando essa conversa e diálogo no PSDB municipal com o grande arco de alianças que temos.

O PSDB então trabalha por candidatura própria em 2020? O senhor acredita que o partido tem hoje em seus quadros bons nomes para a eleição municipal? O seu está a disposição para essa disputa? 

O PSDB terá candidatura própria, e tem inúmeros nomes qualificados, credenciados para essa disputa. Nós entendemos que a questão do nome deve ser discutida apenas no ano que vem, onde se busque o adequado e que melhor se enquadre no perfil que a população também deseja. Não adianta ser um nome qualificado, que tenha respaldo técnico, administrativo e político, se não tiver o mínimo de respaldo popular. Então nós defendemos que essa discussão fique para o ano de 2020, até para não prejudicar a administração do prefeito Firmino. Não só o meu nome como outros não se furtariam a essa missão, mas entendo que o momento adequado para essa discussão é apenas no ano que vem, porque uma candidatura majoritária não depende exclusivamente da vontade e do desejo pessoal, ela depende mais das circunstâncias políticas, da construção dessa candidatura. Então isso envolve fatores internos e externos ao próprios partidos, por isso não adianta ficarmos especulando sobre nomes porque não sabemos o cenário que iremos enfrentar para essa disputa, então a gestão e administração tem que estar focada na cidade, em resolver e superar os seus problemas, e deixar essa definição em relação a candidatura no próximo ano.


"O PSDB terá candidatura própria para prefeito de Teresina, e tem muitos nomes qualificados"


O prefeito Firmino não poderá concorrer a reeleição, e em contrapartida, lideranças políticas ligadas a ele são ou estão sendo assediados por outros partidos. Como o senhor avalia isso? Ano passado, em meio as eleições, se comentou que o partido estava sendo “esvaziado” por Firmino. Como está atualmente a relação do prefeito com o PSDB? A sigla conta com sua permanência? 

Nesse processo político, onde temos mais de 30 partidos, é natural esse diálogo permanente, esse assédio em relação a nomes, tanto do PSDB quanto de outras siglas. O PSDB perdeu alguns nomes, mas também há filiados vindos de outros partidos. Vejo com uma certa naturalidade e confiamos no prefeito Firmino, que ele irá dar uma boa condução, como sempre deu, na sua sucessão, naturalmente, o PSDB encabeçando a chapa da sua sucessão. Contamos com sua permanência no PSDB e de todos os outros quadros, que vamos tentar ampliar aqui na capital.

Por: Breno Cavalcante - Jornal O Dia
Mais sobre: