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O PSDB vai mudar, será de centro e respeitará direita e esquerda, afirma Doria

Na avaliação de Doria, é preciso que o PSDB respeite seu passado, mas deixe de se submeter a ele para estar "sintonizado com a população".

23/01/2019 10:23

O governador João Doria quer transformar o PSDB em um partido "de centro, com posições claras, que terá relações respeitosas com a esquerda e com a direita". É esse o partido para chamar de "seu", como já fez ao tomar posse no governo de São Paulo. 

Na avaliação de Doria, é preciso que o PSDB respeite seu passado, mas deixe de se submeter a ele para estar "sintonizado com a população". Para presidir a legenda, ele trabalha na candidatura do deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), ex-ministro de Cidades, que termina o mandato no dia 31 e poderia, assim, dedicar-se exclusivamente à tarefa.

O governador de São Paulo, João Doria (Foto: Divulgação)

Doria, que está em Davos para participar da edição de 2019 do encontro do Fórum Econômico Mundial, cujo braço latino-americano São Paulo recebeu no ano passado, quando ele era prefeito, falou à reportagem por 60 minutos. Tratou de seu projeto para fortalecer as polícias, de ampliar o ensino técnico no estado, de investimentos e privatizações -bandeiras da viagem. Também afirmou que tem como meta que São Paulo volte em 2020 a liderar o ranking do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, termômetro do ensino no país).

Acenou ao presidente Jair Bolsonaro, tomando o cuidado de dizer que apoia as medidas do governo que forem benéficas ao país.

Relutante em avaliar as primeiras três semanas do mandato do presidente a quem aplaudiu no palanque, afirmou que defende que as investigações a respeito das movimentações financeiras atípicas na conta do primogênito de Bolsonaro, Flávio, e de assessores continuem.

Pergunta - O senhor já deu seu apoio ao deputado Rodrigo Maia [para a sucessão na Câmara]...

João Doria - E à reforma da Previdência também. Meu interesse é o Brasil, e eu sei a importância da reforma da Previdência para o país. Você vai ver nesses dias aqui [em Davos], como os investidores conscientes sabem da importância da reforma da Previdência. A reforma aprovada muda a história econômica do Brasil, abre as comportas para investimento estrangeiro no Brasil já neste ano, e isso vai se traduzir em emprego, renda e prosperidade de curto, médio e longo prazo.

P - O sr. se alinhou ao presidente Bolsonaro na campanha e tem dado apoio às propostas dele, sobretudo econômicas. Como avalia esse início e as questões que têm sido levantadas sobre os filhos?

JD - Não tenho me manifestado sobre o tema dos filhos. Em relação ao governo, posso reafirmar que todas as medidas que forem positivas para o Brasil no plano econômico e no plano social e mesmo no institucional terão o nosso apoio. Não precisa nem de contrapartida, cargo, vantagem, benefício. Com o projeto do Paulo Guedes [ministro da Economia] -e ele tem cérebro e montou um bom time-, a economia brasileira vai andar. E quando você tem bom desempenho econômico, você tem um bom desempenho social atrelado a ele.

P - O sr. falou, ao tomar posse, em "o meu PSDB". O que vai acontecer com o partido?

JD - Vai mudar. E vai mudar sem desprezar o passado, sem estigmatizar ninguém, respeitando aqueles que foram próceres do PSDB, dentre os quais eu destaco desde o [André Franco] Montoro, passando pelo Mario Covas, e destacando Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Geraldo Alckmin, entre outros. Cada um cumpriu seu papel bem. Mas a partir de agora o PSDB vai estar sintonizado com a população, e não mais com seu passado. Vai estar sintonizado com o presente do país para garantir o seu futuro como partido político. Para isso ele não precisa renegar o seu passado, mas ele vai mudar. E será um partido de posições centrais, de centro.

P - Não de centro-direita?

JD - Não. De centro. E terá relações respeitosas com a esquerda e com a direita, seja centro-direita, extrema direita, centro-esquerda, extrema esquerda. Um partido de diálogo mas com posições claras e bem definidas.

P - Quem vai ser o presidente do partido?

JD - Não tenho problema de falar sobre isso, se eu fosse um tucano das antigas eu iria dizer "veja bem, é cedo", mas eu sou claro e objetivo. Nós estamos trabalhando para que o Bruno Araújo (PSDB-PE) possa ser eleito presidente nacional do PSDB. Ainda é deputado, mas termina seu mandato no dia 31, foi ministro de Estado, deputado federal, deputado estadual em Pernambuco. Ele vai ter tempo para se dedicar ao partido -entendo que ele não pode estar dividido entre o partido e a função executiva ou legislativa. E ele tem conhecimento, tem boa penetração no PSDB, é querido em todas as faixas e mantém um bom diálogo com os demais partidos.

P - O sr. disse recentemente que "se o bandido reagir, vai para o cemitério", o que preocupa o meio jurídico. O sr. não tem receio de atiçar uma atitude ilegal em parte dos policiais?

JD - Não. Não tem nenhuma ilegalidade, pois há um protocolo a ser cumprido. Mas esse protocolo vai até o final. Quem tem de ter receio é o bandido, porque a partir de agora a ação da Polícia Civil e a Polícia Militar em São Paulo serão muito rigorosas. Não vai ter mais nenhuma situação que possa dar margem a quem quer que seja que possa haver negociação com facção criminosa. Em última instância, depois de imobilizado o bandido, receber voz de prisão, entre a vida de um policial e a de um bandido, a orientação do governador é que fiquemos com a vida dos policiais. Se ele reagir armado aos policiais que estão ali com ordem de prisão e mantiver essa reação, a orientação do governador é que ele seja abatido.

P - E investimento em inteligência?

JD - Estamos fazendo, mas na Polícia Civil, e na polícia científica.

P - E em tecnologia, como o Detecta? Pode ser ampliado?

JD - Pode e deve ser. Precisamos colocar mais câmeras na cidade. Nenhum criminoso gosta de ser filmado, porque ele pode ser preso assim. Por isso que quanto mais monitoramento colocarmos melhor, é um fator inibidor. São Paulo já tem os melhores índices de segurança do país, com 6,4 homicídios por 100 mil habitantes, e a média nacional nos estados é 30 por 100 mil.

P - A liberalização da posse de armas pode afetar esses índices negativamente?

JD - À posse na residência eu sou favorável, desde que respeitados os critérios e a regulamentação.

P - O sr. defende como foi liberado ou como o ministro Sergio Moro defendia, com restrições?

JD - Isso é relativo. Acho que ela foi aprovada razoavelmente. Agora, porte de arma é outra coisa, você precisa de um cuidado redobrado, você não pode ter, ainda que aprovado pela legislação, uma generalização. O porte de arma é algo que precisa ser tratado com muita atenção, porque da mesma maneira que ele pode proteger quem precisa ele pode desproteger alguém que possa ser vítima. Precisa ter um aprofundamento.

P - O sr. é contra ou a favor do porte?

JD - Olha, não estou querendo ser tucano, mas é algo que precisa ser estudado. À posse, sou favorável.

P - O sr. governa um estado que tem no PCC seu pior problema de segurança. A liberalização da posse, com o aumento de armas no mercado, nas mãos de pessoas que não necessariamente a deixarão superprotegidas, não vai incentivar roubos e ajudar a municiar os criminosos?

JD - Não creio, o sistema de segurança no estado será muito fortalecido. No caso de São Paulo, não acho que aumente o risco.

P - O sr. é candidato natural ao Planalto. Não seria importante marcar sua posição, por exemplo, em relação ao filho do presidente [Flávio Bolsonaro], que tem procurado se esquivar de investigações, que não tem respondido sobre essas movimentações atípicas?

JD - Minha posição não é de fugir ao tema, é que as investigações prossigam. Não defendo que a investigação deixe de existir ou seja facilitada por serem filhos do presidente. Mas não vou fazer condenação prévia. Defendo que as investigações prossigam.

P - O sr. vai falar de concessões e privatizações aqui no Fórum?

JD - Nós não vamos utilizar dinheiro público, exceto nas PPPs [parcerias público-privadas]. Todo o programa de desestatização do estado de São Paulo será financiado pelo setor privado, como o programa de ferrovias.

P - O programa de ferrovias é estimado em quanto?

JD - Ainda não temos, está sendo avaliado. É o Alexandre Baldy, secretário de Transportes Metropolitanos, mas ele foi ministro das Cidades [que está tocando]. São trens intercidades ligando a cidade de São Paulo ao Vale do Paraíba e à região metropolitana de Campinas, além do Ferroanel. Tem também a hidrovia Tietê-Paraná, que será inteiramente privatizada. Tem alguns setores correlatos à hidrovia que já estão em mãos privadas. Também 23 aeroportos regionais. Há ainda ferrovias não licitadas, o Porto de São Sebastião...

P - O sr. acha possível viabilizar tudo isso em quatro anos?

JD - A maior parte, sim. Não quero dizer todas, porque algumas circunstâncias fogem do controle, sobretudo se a economia brasileira crescer. Além disso, há o estímulo que já demos ao presidente Bolsonaro para a privatização do Porto de Santos, e ele concordou, na audiência da semana retrasada.

P - Privatizações foram uma promessa durante a sua gestão na Prefeitura de SP que ainda não deslanchou. Por que não avançou? Não compromete a sua apresentação de privatizações aos investidores aqui?

JD - Não deslanchou, mas vai avançar. Porque não tinha história, nunca houve um programa de desestatização em nenhuma cidade brasileira. E uma das razões foi exatamente a indiferença no posicionamento político do ex-governador Márcio França, que dificultou as duas primeiras modelagens que estavam prontas, o Estádio do Pacaembu e o Ibirapuera, e demais parques depois de um périplo na Câmara Municipal, no Tribunal de Contas do Município. Foram liberados por eles. Agora, vamos facilitar, o que já estava acordado com o governador [Geraldo] Alckmin.

P - No vídeo sobre SP que o sr. apresentará a investidores, não se fala de educação, mas precisamos melhorar os índices e mostrar que há boa educação básica no estado e formação de mão de obra qualificada. O sr. vai tratar disso aqui?

JD - São Paulo tem as melhores qualificações de mão de obra para todos os setores, não só no ensino básico, médio e universitário, mas pelas escolas técnicas. Vamos ampliar. Essa é a meta do secretário Rossieli [Soares]. Em 2020, nosso objetivo é que São Paulo esteja liderando o Ideb, onde já foi líder, e depois perdeu a liderança. A meta dada a ele é que em 2020, queremos retomar a liderança.

P - Há secretários que foram ministros da gestão Temer que são "estrangeiros" em São Paulo. Eles vão precisar de um tempo para se aclimatar, para aprender?

JD - Quem sabe, sabe. Tem equipe, ninguém faz nada sozinho.

P - Há planos de investimento em educação?

JD - Sim, vamos investir em tecnologia.

P - E em formação de professores?

JD - Também. Fizemos na prefeitura e vamos fazer no âmbito do estado.

P - Algo específico para enfrentar problemas como o absenteísmo de professores e evasão no ensino médio?

JD - Meritocracia. Há protocolo para isso. Não pode faltar sistematicamente, tem de atingir os índices do Ideb. Não tivemos greve na prefeitura na minha gestão nem na do Bruno [Covas]. Bônus permitem salto para bons professores, que não faltam, que permitem saltos no Ideb. É isso que o Rossieli vai fazer. Cursos técnicos serão uma das prioridades. São qualificantes para o emprego. No último ano, alunos saem empregados. São quase 300 mil [292 mil, segundo o Instituto Paula Souza].

P - Vai fazer, avançar em reforma da Previdência no estado, como Bruno Covas fez na prefeitura?

JD - São Paulo já fez, em 2013, foi uma boa reforma. Onde ela poderá avançar, se avançar no plano federal: militares. Na idade da aposentadoria. Os policiais militares se aposentam muito cedo. Há policiais [que não estão mais na ativa] com muita qualidade. Eles estão na melhor idade, no melhor da sua capacidade e foram aposentados pela lei.

P - O sr. tem alguma ideia de trazer essas pessoas de volta?

JD - Como o sistema previdenciário em São Paulo está relativamente em ordem, isso não desprezível, mas não é prioridade para nós. Vamos esperar o plano federal.

P - O sr. tem reunido governadores em torno desse tema...

JD - Vejo com muito otimismo a reforma da Previdência [pelo Congresso Nacional]. A liderança dos governadores, de uma boa parte deles, é de liderar suas bancadas para votarem a favor da Previdência. Óbvio que não conhecemos toda a reforma elaborada pelo deputado Rogério Marinho, que foi muito competente na reforma trabalhista.

Fonte: Folhapress
Por: Maria Cristina Frias e Luciana Coelho
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