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"Não se acaba com a corrupção com uma canetada", diz Osmar Júnior

Leia na íntegra a entrevista do presidente regional do PCdoB, Osmar Júnior, ao Jornal O Dia.

24/02/2018 08:24

O PcdoB no Piauí já definiu de qual lado estará nas eleições de outubro: apoiando a candidatura de reeleição do governador Wellington Dias (PT). O partido não cogita ir para oposição, nem mesmo diante de um alinhamento político e administrativo com o prefeito Firmino Filho, em Teresina.  Em entrevista ao ODIA, o presidente do diretório regional do partido, ex-deputado federal Osmar Júnior, comentou as estratégias da sigla para as eleições deste ano, admitiu que pode integrar a “chapinha”. 

Sobre seu futuro político, o comunista disse que ainda não definiu por candidatura e que recebeu convites do governador para integrar o Governo. Osmar Júnior critica o que chamou de “seletividade do Judiciário”, sai em defesa do ex-presidente Lula, mas afirma que o PCdoB terá candidatura própria a Presidência, defendendo um novo modelo de gestão. Confira:

ODIA: Quando foi idealizada a “chapinha”, tinha cinco partidos na formação. O PR anunciou oficialmente a saída do grupo e o PRB vai para a oposição com a chegada do Rodrigo Martins. O Podemos também já admite que pode apoiar João Vicente Claudino. Sem esses partidos, a chapinha tem consistência? Já houve um diálogo com o governador? 

Osmar Júnior: A “chapinha” é uma ideia que o PcdoB considera uma boa ideia e nós trabalhamos no sentido de construí-la. As dificuldades são grandes. Esses fatos referidos não contribuem com a chapinha. O PC do B não desistiu da ideia, mas reconhece que há um grau de dificuldade muito grande para que ela seja efetiva. Em não havendo a chapinha, para deputado federal, porque vemos que para estadual ela está muito bem articulada, nós participaremos da mesma forma, dentro da coligação. 

ODIA: Se a chapinha não tiver viabilidade, qual seria a outra estratégia do PCdoB? 

Osmar Júnior: Nós vamos participar das eleições e temos uma definição de fortalecer a coligação para fortalecer a candidatura do governador Wellington. 

ODIA: O vereador Enzo Samuel chegou a afirmar que o PCdoB participaria da chapa do governador e que só teria alguma alteração se houvesse fatos novos. Em que cenário o PCdoB apoiaria outros candidatos? 

Osmar Júnior: Essa questão não está colocada. Nós vamos apoiar o Wellington. Fatos novos eles podem surgir. Mas não acredito que venha a surgir fatos novos. Então, a decisão é essa: fazer a aliança para viabilizar a candidatura do governador. 

ODIA: No âmbito do município, o vereador Enzo Samuel tem mostrado sintonia administrativa e política com o prefeito Firmino Filho, inclusive, integra a base do prefeito na Câmara. Diante desse cenário, há alguma possibilidade de ter racha no partido, tendo em vista que o próprio prefeito pode vim a ser candidato ao Governo? 

Osmar Júnior: Nós fizemos uma aliança com o prefeito Firmino Filho em 2016, ano de sua reeleição. É natural que estejamos hoje alinhados no apoio a administração. Essa aliança com a gestão municipal não tem implicações no nosso Estadual, que já está delineado com a aliança com o governador Wellington Dias. Portanto, uma coisa não interferirá na outra. 

ODIA: Alguns partidos que hoje integram o Governo entram em conflito em busca de espaços na chapa governista. Qual a estratégia que, na sua avaliação como aliado, o governador deveria adotar na escola dos membros que irão compor a chapa? 

Osmar Júnior: Eu sou de opinião de que o governador Wellington é o principal e o grande ponto de unidade desses partidos em relação ao projeto eleitoral de cada um. A montagem da chapa vai refletir o projeto eleitoral de eleger o governador e a necessidade de juntar esses partidos. E responsabilidade da coordenação do processo está na sua mão e o principio básico e que a chapa majoritária reflita essas forças coligadas. Quem vai participar e quem não vai só vamos saber isso quando chegarmos a definição. Todos os partidos querem participar e é legítimo que eles disputem. Eu fui candidato a vice e meu nome foi definido na noite que antecedeu a convenção.

ODIA: Seu nome foi ventilado na imprensa como uma alternativa do Governador Wellington Dias para a Secretaria de Governo, em substituição a Merlong Solano, que se desincompatibilizará do cargo para disputar reeleição. O convite aconteceu? Se vier, aceitaria?

Osmar Júnior: Eu não fui convidado. O governador, há tempos, me convidou para integrar o Governo e eu não pude atende-lo por conta do meu trabalho profissional em que eu passei muitos anos fora do escritório de advocacia e não podia deixar esses contratos. Não posso ocupar um cargo público e, ao mesmo tempo, advogar. Estive recentemente com ele e o assunto central foi a eleição, as dificuldades do Brasil e ele insistiu dizendo que acha que eu deveria disputar a eleição, o mesmo apelo que foi feito pela direção nacional do partido. Eu ainda estou analisando porque tem o projeto do partido. Temos a Elisangela Moura pré-candidata a deputada estadual e com a possibilidade de lançar um candidato a federal, mas está em análise. 

ODIA: O senhor foi, por muito tempo, deputado federal. Mas não conseguiu se reeleger nas últimas eleições. Acredita que o PcdoB adotou a estratégia errada nas coligações? 

Osmar Júnior: Eu acho que foi a circunstância das eleições. A eleição de 2014 vai ficar marcada para a história onde mais prevaleceu duas fontes fortes de votos para os candidatos, uma delas foi o discurso de ódio, exatamente apontando a violência feita a partir do Estado, da força policial. Quase todos os estados, grande parte do eleitoral “mais livre”, votou buscando dar uma resposta a crise da segurança pública e essa resposta foi privilegiando o voto em quem defendia a violência do Estado para combater a violência. O segundo é que, infelizmente, foi também uma eleição onde o sistema eleitoral brasileiro onde o candidato é senhor absoluto de sua campanha, e naquela época ele, como hoje, pode arrecadar através das empresas e também a utilização de caixa 2. Foi a eleição onde mais fortemente foi utilizada o abuso de poder econômico nas eleições. Isso não foi só no Piauí, foi no Brasil. Esses escândalos capitaneados pela Lava-Jato, demonstram muito bem o que foi as eleições, com muito dinheiro. 

ODIA: Agora em março abre os prazos da janela partidária. Como o PC do B tem se preparado para isso? Lideranças da sigla planejam sair? Que nomes o partido busca para ingressar na sigla?

Osmar Júnior: O PCdoB é um partido que, nos últimos anos, tem buscado ampliar seu expecto de atuação e aberto as portas para receber novos militantes e filiados. É também um partido que sofreu muitas perseguições, de ordem física, com prisões, assassinatos e até a proibição de sua existência legal, e perseguição de natureza ideológica. Conter o preconceito que foi criado foi a tarefa que impusemos nos últimos anos. Hoje um membro do PCdoB é visto como um cidadão normal. Rompemos isso e isso permitiu que o partido crescesse. Hoje temos um projeto nacional que é definido pela candidatura da deputada Manoela D’ávilla, que estará dia 8 e 9 de abril no Piauí. E essa candidatura esta fundada num projeto nacional que resumiremos dizendo que precisamos resgatar a autoridade das autoridades públicas. O Brasil vive hoje uma fase onde a autoridade está ferida de morte. Hoje as pessoas olham para os representantes do Estado com desconfiança. A crise da segurança pública, por exemplo, está diretamente relacionada a essa perda da autoridade. Os criminosos não ousavam confrontar a polícia. E o resgate da autoridade política irá se dar pela legitimação pelo voto. Uma eleição que não seja contaminada pela fraude intelectual, quando tentam dizer que violência se combate com violência e isso não é verdade. Toda vez que o Estado aumenta seu grau de violência, a violência na sociedade aumenta. Temos que resgatar a autoridade do servidor público, seja um professor, um promotor, um juiz, um policial. 

ODIA: E para esse fortalecimento do partido, já tem nomes para candidaturas?

Osmar Júnior: Temos a candidatura da Elisangela. Mas vamos ter candidatos a deputado federal. Estamos discutindo com outros nomes a possibilidade de novas filiações, mas não vamos adiantar nesse momento. 

ODIA: O PC do B sempre foi aliado do PT em nível nacional. Como o partido acompanhou essas denúncias e essas condenações do ex-presidente Lula?

Osmar Júnior: Para nós, a forma que se está combatendo a corrupção no Brasil, sobretudo capitaneada por essa operação Lava Jato, nós achamos que essa forma não vai resultar em um país sem corrupção porque ela está sendo feita ao arrepio das leis, a partir de vontades de juízes e promotores. O combate a corrupção deve ser feito de forma institucional e permanente. Não se acaba corrupção com uma canetada, com uma sentença. A forma correta é ter aplicação de uma lei a todo momento, para todos. Quando nos referimos ao presidente Lula, chama atenção é de que, nesses últimos anos, vimos muitas denúncias de malas de dinheiro, contas na Suíça e de que o único condenado que não poderá participar das eleições desse ano é Luís Inácio Lula da Silva, acusado de ter recebido um apartamento em Santos. Isso chama atenção. Isso só pode parecer que essas mudanças foram conduzidas para retirar Lula das eleições. Não aceitamos como ato normal, como ato de justiça, mas sim como perseguição com um objetivo determinado.

No cenário nacional, o PcdoB terá uma candidata a presidência da República: Manoela D’ávila. Houve esse rompimento com o PT em nível nacional? Como o partido planeja alavancar a candidatura dela, tendo em vista que ela é pouco conhecida no cenário local? 

Osmar Júnior: O lançamento de candidatura é um pleito legítimo. Somos um partido político com muita atuação no Brasil. Não se tratou de um rompimento, mas de apresentar uma opção ao povo brasileiro. O PCdoB, como você mesmo disse, está com um programa ainda pouco conhecido e a candidata também, mas esse é um esforço que estamos fazendo com a deputada Manoela que irá andar o Brasil todo. Vamos levantar esse debate, que chamamos de novo projeto nacional de desenvolvimento que começa dizendo que o Brasil tem que usar suas próprias forças, suas energias para construir o seu caminho de desenvolvimento. Esse desenvolvimento tem que está findado no aprofundamento da capacidade produtiva e na distribuição da renda. São dois fatores muito importantes. Eu te dou exemplo: o fato de uma grade empresa vim e se instalar no Brasil e produzir durante determinado tempo pagando péssimos salários e condições de trabalho, atacando o meio ambiente, não significa progresso. Nós queremos que as empresas de fora venham, mas que estejam associadas a empresas brasileiras e que tragam distribuição de renda também. Terceiro: queremos serviços públicos universalizados e buscando a qualidade. 

Por: Ithyara Borges e Mayara Martins
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