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Luiz Fux pretende 'imprimir marca' no combate ao 'fake news'

TSE está organizando um grupo para discutir como evitar a proliferação de "fake news" no próximo ano, a fim de reduzir potencial impacto nos resultados das urnas.

07/12/2017 14:03

Próximo presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Fux disse nesta quinta-feira (7) que pretende fortalecer medidas de combate a "fake news" (notícias fabricadas e muitas vezes divulgadas sob falsas fachadas de veículos reais) disseminadas na internet, em especial nas redes sociais e aplicativos de mensagem.

"Tenho respeito por tudo que foi adotado nas gestões anteriores, mas evidentemente vou imprimir a minha ideologia na adoção dessas medidas", afirmou, depois de sessão no tribunal em que foi eleito em votação simbólica como próximo presidente da corte.

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (Foto: Fellipe Sampaio / STF)

"De modo que não quero antecipar ainda o que vou fazer, mas acho que tem de haver um mecanismo de obstrução a "fake news" para que elas não sejam capazes de influir no resultado da eleição", disse o ministro. O assunto foi debatido pela manhã em seminário no TSE.

O tribunal está organizando um grupo para discutir como evitar a proliferação de "fake news" no próximo ano, a fim de reduzir potencial impacto nos resultados das urnas. Duas campanhas presidenciais em 2016 -Donald Trump, nos Estados Unidos, e Emmanuelle Macron, na França-, foram bombardeadas com notícias falsas.

Para Fux, as "fake news" "efetivamente podem influenciar negativamente numa candidatura legítima".

Ele assume o TSE em 6 de fevereiro e permanece no cargo até agosto, quando a ministra Rosa Weber vira presidente. Tradicionalmente um dos três ministros do STF é o presidente do TSE, e a rotatividade segue a antiguidade deles na corte.

Segurança nacional

Murilo de Aragão, da Arko Advice, disse que os serviços para alavancar notícia falsa na internet são baratos, a partir de US$ 2 mil.

"O custo-benefício de destruição da verdade é muito barato", afirmou.

Ele destacou que o assunto é tratado como tema de segurança nacional em alguns países da Europa.

Aragão disse ainda que o Brasil pode implementar barreiras que dificultem essa profliferação, como fazer mudanças legislativas. As empresas privadas, acrescentou, devem fazer investimentos e desenvolver tecnologias nesse setor.

Ele comparou o problema das "fake news" para o jornalismo com a questão de fraude eletrônicos dos bancos e lembrou que as instituições financeiras criaram centros tecnológicos dedicados ao tema.

Desconfiar

Cristina Tardáguila, diretora da Agência Lupa, especializada em checagem de fatos, destacou que o Brasil tem atualmente apenas três agências independentes de checagem de fatos ("fast checking"), enquanto os Estados Unidos contava com 40 no ano passado.

Ela listou algumas medidas que podem ajudar a reduzir a proliferação de notícias falsas na internet, como desconfiar de informação sem fonte identificada e duvidar de frases de efeito ditas por políticos, como "isto é certamente consequência daquilo" ou "é a maior da história".

Dizer que a crise é "a maior da história" exige uma explicação que falta, disse Cristina, como explicar desde quando essa é a pior crise e quais os indicadores que mostram isso.

"É indispensável desconfiar. Quem é o autor da mensagem? É um blog desconhecido ou site confiável?", questionou.

O eleitor deve ainda ficar atento ao endereço eletrônico dos sites (URL) para ter certeza de que está navegando em um veículo conhecido ou em um site que imita logotipo e formato da página para passar credibilidade, disse ela.

Cristina citou o caso de Fabiane Maria de Jesus, 33, linchada por moradores no Guarujá após ser confundida com uma sequestradora que nunca agiu no município. O que se soube após a morte de Fabiane é que tudo não passava de um boato. Um retrato falado feito em 2012 pela polícia do Rio foi divulgado em uma página na internet voltada à população de Guarujá e a falsa informação levou pânico aos moradores.

"Informação falsa mata de forma agressiva, como no caso da Fabiene Jesus, ou de forma lenta, como no caso de uma eleição presidencial", disse a diretora.

Além disso, o eleitor deve ter cuidado com números divulgados pelos candidatos, sejam dados percentuais ou números absolutos, como, por exemplo, sobre o crescimento da violência em uma determinada área, acrescentou.

"Os políticos tendem a memorizar um dado e não atualizá-lo", afirmou Cristina. Segundo ela, o eleitor deve se basear em comparações para analisar aquele número dentro de um contexto, como a taxa por 100 mil habitantes, por exemplo.

Ela também ressaltou que, quando o cidadão desconfiar da idoneidade de uma noticia, deve verificar se ela foi reproduzida em outro local: "É difícil que a sua tia saiba mais sobre a greve da PM no Rio ou do que a queda do avião da Chapecoense do que todos os outros jornais", exemplificou.

Felipe Recondo, sócio do portal Jota, especializado em notícias do Judiciário, disse que a velocidade da proliferação de uma notícia falsa pode provocar estragos por alcançar muita gente.

"Em dois dias de notícia falsa correndo no WhatsApp, sabe-se lá quantas milhões de pessoas podem ser atingidas", afirmou.

Mídia tradicional

Os palestrantes destacaram a importância que a mídia tradicional vai ter na eleição de 2018 no combate de notícias falsas.

"O bom jornalismo pode e vai contribuir, independentemente de ser [especializado em] checador. Para isso, é preciso uma apuração rigorosa dos fatos", disse Recondo.

Para Thiago Tavares, fundador da Safernet e conselheiro do CGI.br, "contra 'fake news' a melhor solução é jornalismo de qualidade".

Fonte: Folhapress
Por: Letícia Casado
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