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"œTenho motivos de sobra para sair do PSDB", diz Marden Menezes

Em entrevista ao ODIA, o parlamentar também comentou os números da cidade de Piripiri, sua principal base eleitoral e onde ficou em segundo lugar na disputa.

22/10/2018 07:16

O deputado estadual Marden Menezes (PSDB) é um dos poucos opositores ao governo estadual que conseguiu a reeleição. Ao O DIA, ele analisa os números do primeiro turno das eleições e avalia como será atuar na Assembleia Legislativa do Piauí, num cenário em que a oposição elegeu apenas quatro de 30 deputados. O parlamentar também comentou os números da cidade de Piripiri, sua principal base eleitoral e onde ficou em segundo lugar na disputa. Marden Menezes também comenta o desempenho do PSDB nas eleições, critica o inchaço da máquina pública estadual e diz que agora vai ouvir as bases, a família e aliados para decidir se sai ou não do PSDB.

Deputado, o governo elegeu 80% das vagas para Assembleia Legislativa e 80% para Câmara Federal. O governador foi reeleito para o quarto mandato e os senadores eleitos eram da respectiva chapa. Quais motivos levaram a esta grande vitória do governo?

A grande força do PT que é inegável ainda. O PT ainda tem força no Nordeste. O marketing do governador foi vitorioso, em desviar o foco do eleitor do Piauí para o sentimento do povo nordestino em relação a prisão do ex-presidente Lula. Quer dizer, o governador e sua base não discutiram os problemas do Piauí, os estruturais da segurança, a crise da educação, a questão da pouca resolutividade da saúde, os elevados impostos que pagamos, tudo isso ficou no segundo plano, houve uma estratégia de buscar este sentimento da população nordestina em relação a prisão do ex-presidente. No quadro nacional a polarização entre o Haddad e o Bolsonaro, você e para que a curva de queda do Wellington na hora que a candidatura do Haddad se consolida. Essa polarização puxou a candidatura do Wellington, que já era um candidato forte. Com uma máquina administrativa pesadíssima, que custa muito caro ao povo do Piauí. São dezenas de partidos debaixo do cobertor do governo. Isso custa a sociedade, mas gera um exército a favor do governador....Agora, a vitória não apaga os graves problemas que estamos vivendo. A gente tem que respeitar a vontade da sociedade e cumprir nosso papel de oposição.

Como o senhor avalia o resultado da eleição para a oposição, que teve uma bancada bem reduzida?

Na verdade, independentemente de quantos deputados se elegem pela oposição, o modelo de governo do Wellington e do PT no Piauí é sempre de levar parte destes deputados a base do governo. Então, sempre ficam poucos deputados na oposição. Mesmo que sejam parlamentares de partidos antagônicos ao PT, é assim que ele tem construído e do ponto de vista eleitoral, o modelo dele tem dado certo. Agora, do ponto de vista da sociedade e dos avanços que poderiam ter acontecido, eu diria que o Piauí estagnou. É um governo feito para políticos e prioriza os  políticos em detrimento aos serviços ofertados pela população.

A oposição terá apenas quatro deputados, como será enfrentar o governo nos debates e votações na Assembleia Legislativa do Piauí?

É uma realidade quase normal. Teve tempo que ficamos dois ou três. Essa realidade não é novidade. Eu estou mais do que calejado, não por vontade minha, eu não estou na oposição porque quero. Eu permaneci esse tempo todo na oposição em respeito a vontade popular. Desde quando me elegi, se meu candidato ao governo não logrou êxito, eu optei por ficar onde as pessoas que votaram em mim. Ninguém é oposição porque quer. Eu gosteria era de participar de uma legislatura tendo acesso e podendo apontar os erros e ser reconhecido e ajudar na estrutura de montagem de governo, corrigir essas distorções gravíssimas. O Piauí tem hoje 69 unidades gestores, quando a gente sabe que precisaria metade disso.

Eu gostaria de participar, mas não tenho como apoiar o governo contra meus princípios e que na minha opinião entrega muito pouco a sociedade. Se a minha preocupação fosse ter prestígio político e comodidade nas minhas eleições, talvez eu estivesse lá, mas eu não estou na política por causa disso. Eu venho nessa luta e independentemente de ser três ou quatro na oposição, eu posso falar por mim, o trabalho do Marden. Até porque os quatro que em tese são de oposição, é cada um de um partido diferente, então precisa ter uma harmonia, e ser construída com diálogo, alinhamento. Para a democracia não é bom, para o legislativo também não e nem para a sociedade, quando há uma maioria enorme, porque a tendência é que toda matéria que venha do Palácio de Karnak tenha uma aprovação em massa. Ainda que na prática a matéria não traga benefícios.


Foto: ODIA

O senhor falou do histórico do governo em deixar a maquina pública muito grande. O senhor acha que isso prejudica em que aspecto?

O PP já entregou um documento pedindo redução de cargos, o senhor acha que com esse grande número de partidos na base, algum acabe rompendo? Se isso vai acontecer ou não, eu não tenho como prever. Eu não vi a proposta do PP, mas se apresentou essa proposta já mostra uma preocupação com o rumo para o qual o Piauí vem seguindo, que é o rumo da inadimplência. Qual é o grande problema desta máquina pesada? É que o dinheiro que vai para sustentar suplente, 14 suplentes, por exemplo, esse dinheiro sai do erário que podia tá no remédio, no equipamento do policial, numa estrada, e está sendo usado para sustentar partido e para manter cargos políticos. Você tem que ter um tamanho da estrutura administrativa que o serviço tem que ser prestado com eficiência, com custo menor e que sobre dinheiro para investimentos onde a sociedade precisa, que é educação, saúde e segurança. Não dá é para o professor ter negado um reajuste o governo colocar aqui 14 suplentes. A sociedade é que paga essa conta. Agora se houve uma proposta  mesmo terei interesse em estudar, porque qualquer proposta neste sentido, é importante para acabar com a sobreposição de função. Tem vários órgãos fazendo a mesma coisa. O governo cria órgãos para fazer e o que outros órgãos já faziam. Isso é desperdício puro e completo dinheiro público.

Em nível local, o PSDB foi reduzido a uma presença em poucas prefeituras e uma vaga na Assembleia Legislativa. Tem a Prefeitura de Teresina, mas dois aliados do prefeito foram candidatos por outro partido. Como o senhor acredita que deve ser a recomposição do PSDB? O que o partido tem que fazer para se organizar no Piauí?

Eu tenho dito que diante do que está acontecendo eu terei com muita responsabilidade e cautela do ponto de vista pessoal, vou ter que fazer uma análise minha mesmo, com minhas bases, lideranças que tiveram conosco, conversar com o presidente do partido, deputado Luciano Nunes, familiares, vou consultar todos que são importantes na minha trajetória política para tomar uma posição. Tenho muitos motivos, me decepcionei com muita coisa que aconteceu dentro do PSDB. Tenho muitos motivos para não ficar, e para ficar, e tenho motivo de sobra para não ficar, isso vai depender desses diálogos, dessas escutas, até porque tenho 17 anos de partido. Foi a única sigla pela qual exerci meus mandatos, mas essa falta de identidade no plano nacional, que não soube bem ocupar seu espaço e pensar seu papel no cenário político, isso me causa preocupação. Então vou analisar com calma o resultado do segundo turno, fazer uma reflexão pessoal, conversar com as bases e pensar meu futuro. Eu reafirmo que serei oposição ao governo estadual, já em relação ao PSDB terei que ter essa reflexão, vou tentar diálogo no plano nacional e não houve o encurtamento da distancia entre o plano nacional e o Piauí. Queríamos uma proximidade maior. Tudo isso causa o desconforto hoje. Vamos avaliar com calma.


*Confira a entrevista completa na edição do Jornal O Dia desta segunda-feira (22). 

Edição: João Magalhães
Por: Breno Cavalcante
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