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Pai de ex-vereador morreu há 33 anos, em acidente misterioso

Nicomedes Rocha faleceu como prefeito de São Julião

06/02/2013 19:51

A morte de Emídio Reis da Rocha, 51 anos, reescreve o destino trágico dos líderes políticos da família Rocha de São Julião, município situado no semiárido do Piauí. Há 33 anos, o pai do ex-vereador faleceu em um misterioso acidente de trânsito na mesma região. Nicomedes da Silva Rocha, 56 anos, era o prefeito da cidade.

A edição Nº 7332 de O Dia, publicada em 09 de agosto de 1980, um sábado, trazia a notícia na manchete: "Prefeito morre em acidente automobilístico". Segundo o relato da época, o carro conduzido por Nicomedes saiu da pista, desceu o aterro e tombou duas vezes.

O acidente aconteceu a 70 quilômetros de São Julião, entre os municípios de Fronteiras (PI) e Campos Sales (CE). "O prefeito fraturou o crânio e teve morte imediata", descreveu a reportagem. [íntegra no final da matéria]

O atual prefeito de Vila Nova do Piauí e presidente da Associação Piauiense de Municípios (APPM), Arinaldo Leal, lembra que a morte de Nicomedes é cercada de dúvidas até hoje. Sobrinho do então prefeito, Leal diz que o carro estava virado "de um jeito suspeito", como se tivesse sido fechado por outro veículo ou tombado propositalmente.

"Não sabemos se ele morreu mesmo do acidente ou se foi vítima de um assalto ou outro crime dessa natureza", conta Arinaldo Leal.


Emídio Reis e o pai, Nicomedes Rocha: tragédias marcam biografia da família Rocha

Eleito vice, tornou-se prefeito

Sem internet ou telefonia móvel, a notícia do falecimento de Nicomedes Rocha chegou a Teresina através da Associação dos Prefeitos, que comunicou o fato oficialmente ao Palácio de Karnak. "Ao ser informado, o governador Lucídio Portella assinou luto de três dias e designou o deputado Barros Araújo para representá-lo nos funerais (...)", publicou O Dia.

Eleito vice-prefeito, Nicomedes assumiu a prefeitura de sua terra após o afastamento do prefeito Otacílio Bezerra. Ainda na eleição eles fizeram um acordo de cavalheiros: cada um governaria por dois anos. Com a morte de Nicomedes, Bezerra reassumiu o comando do Executivo municipal.

Líder em ascensão

O filho tentava reescrever os passos do pai. Emídio Reis da Rocha nutria pela política a mesma paixão do falecido Nicomedes. Tentou por duas vezes ser prefeito de São Julião (nas eleições de 1996 e 2012).

No último pleito, disputou a prefeitura pelo PMDB. Então presidente da Câmara dos Vereadores, perdeu para o prefeito e candidato à reeleição José Neci (PT). A diferença entre os dois foi de apenas 279 votos, o que projetou Reis como uma das principais lideranças políticas do município.


Emídio Reis (no centro da imagem) presidindo sessão da Câmara dos Vereadores de São Julião

Doze anos antes, nas eleições de 2000, ele comandou uma campanha de oposição inusitada. De olho em uma reeleição tranquila, o então prefeito Carlos Alberto Bezerra de Alencar, o Carlão, conseguiu apoio de todos os partidos da cidade, viabilizando-se como candidato único.

Insatisfeito, Emídio Reis fez campanha pelo voto branco e nulo. Argumentava que a candidatura única do adversário feria a democracia, por não dar ao eleitor opções de escolha. Apuradas as urnas, Carlão venceu a eleição com 35 votos a mais que o total de brancos e nulos.

PMDB vai acompanhar investigação

O deputado federal Marcelo Castro (PMDB) conhecia Emídio Reis de longa data. Descreve o companheiro de partido como um peemedebista atuante, "que nunca faltava aos encontros e convenções". A votação considerada "espetacular" na eleição para prefeito colocou, na avaliação do parlamentar, na linha de sucessão de São Julião.


Marcelo Castro diz que PMDB vai acompanhar investigação. Foto: Assis Fernandes/O DIA

Ao saber do desaparecimento do ex-vereador, ainda na sexta-feira (1º), o parlamentar procurou pessoalmente a Secretaria de Segurança do Estado para pedir esforço nas buscas.

Presidente do PMDB do Piauí, Castro diz que o partido vai acompanhar o desenrolar das investigações sobre o assassinato do ex-vereador. "É um crime da mais alta gravidade, estúpido, que não pode ficar impune", declarou.

Investigação

O corpo do ex-vereador Elídio Reis está no Instituto Médico Legal de Teresina, onde será submetido a uma série de exames. As análises atestarão a causa da morte do político.

Desaparecido há cinco dias, Reis foi encontrado enterrado em uma cova rasa cavada em meio a um matagal. O cadáver foi encontrado por um vaqueiro e removido para a capital do Estado por peritos da Polícia Civil.


Local onde corpo de Emídio Reis foi enterrado. Foto: Riachão Net

Emídio Reis foi visto pela última vez no dia 31 de janeiro, uma quinta-feira, na cidade de Picos. O carro que ele conduzia foi abandonado com a chave na ignição em uma estrada de terra, a poucos metros da BR-316.

A investigação é comanda pela Greco (Grupo de Repressão ao Crime Organizado no Piauí). O caso é conduzido no mais absoluto sigilo.

Edições dos dias 09 e 10 de agosto de 1980 noticiaram morte do prefeito:







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Por: Rômulo Maia
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