A morte de EmÃdio Reis da Rocha, 51 anos, reescreve o destino trágico dos lÃderes polÃticos da famÃlia Rocha de São Julião, municÃpio situado no semiárido do PiauÃ. Há 33 anos, o pai do ex-vereador faleceu em um misterioso acidente de trânsito na mesma região. Nicomedes da Silva Rocha, 56 anos, era o prefeito da cidade.
A edição Nº 7332 de O Dia, publicada em 09 de agosto de 1980, um sábado, trazia a notÃcia na manchete: "Prefeito morre em acidente automobilÃstico". Segundo o relato da época, o carro conduzido por Nicomedes saiu da pista, desceu o aterro e tombou duas vezes.
O acidente aconteceu a 70 quilômetros de São Julião, entre os municÃpios de Fronteiras (PI) e Campos Sales (CE). "O prefeito fraturou o crânio e teve morte imediata", descreveu a reportagem. [Ãntegra no final da matéria]
O atual prefeito de Vila Nova do Piauà e presidente da Associação Piauiense de MunicÃpios (APPM), Arinaldo Leal, lembra que a morte de Nicomedes é cercada de dúvidas até hoje. Sobrinho do então prefeito, Leal diz que o carro estava virado "de um jeito suspeito", como se tivesse sido fechado por outro veÃculo ou tombado propositalmente.
"Não sabemos se ele morreu mesmo do acidente ou se foi vÃtima de um assalto ou outro crime dessa natureza", conta Arinaldo Leal.
EmÃdio Reis e o pai, Nicomedes Rocha: tragédias marcam biografia da famÃlia Rocha
Eleito vice, tornou-se prefeito
Sem internet ou telefonia móvel, a notÃcia do falecimento de Nicomedes Rocha chegou a Teresina através da Associação dos Prefeitos, que comunicou o fato oficialmente ao Palácio de Karnak. "Ao ser informado, o governador LucÃdio Portella assinou luto de três dias e designou o deputado Barros Araújo para representá-lo nos funerais (...)", publicou O Dia.
Eleito vice-prefeito, Nicomedes assumiu a prefeitura de sua terra após o afastamento do prefeito OtacÃlio Bezerra. Ainda na eleição eles fizeram um acordo de cavalheiros: cada um governaria por dois anos. Com a morte de Nicomedes, Bezerra reassumiu o comando do Executivo municipal.
LÃder em ascensão
O filho tentava reescrever os passos do pai. EmÃdio Reis da Rocha nutria pela polÃtica a mesma paixão do falecido Nicomedes. Tentou por duas vezes ser prefeito de São Julião (nas eleições de 1996 e 2012).
No último pleito, disputou a prefeitura pelo PMDB. Então presidente da Câmara dos Vereadores, perdeu para o prefeito e candidato à reeleição José Neci (PT). A diferença entre os dois foi de apenas 279 votos, o que projetou Reis como uma das principais lideranças polÃticas do municÃpio.
EmÃdio Reis (no centro da imagem) presidindo sessão da Câmara dos Vereadores de São Julião
Doze anos antes, nas eleições de 2000, ele comandou uma campanha de oposição inusitada. De olho em uma reeleição tranquila, o então prefeito Carlos Alberto Bezerra de Alencar, o Carlão, conseguiu apoio de todos os partidos da cidade, viabilizando-se como candidato único.
Insatisfeito, EmÃdio Reis fez campanha pelo voto branco e nulo. Argumentava que a candidatura única do adversário feria a democracia, por não dar ao eleitor opções de escolha. Apuradas as urnas, Carlão venceu a eleição com 35 votos a mais que o total de brancos e nulos.
PMDB vai acompanhar investigação
O deputado federal Marcelo Castro (PMDB) conhecia EmÃdio Reis de longa data. Descreve o companheiro de partido como um peemedebista atuante, "que nunca faltava aos encontros e convenções". A votação considerada "espetacular" na eleição para prefeito colocou, na avaliação do parlamentar, na linha de sucessão de São Julião.
Marcelo Castro diz que PMDB vai acompanhar investigação. Foto: Assis Fernandes/O DIA
Ao saber do desaparecimento do ex-vereador, ainda na sexta-feira (1º), o parlamentar procurou pessoalmente a Secretaria de Segurança do Estado para pedir esforço nas buscas.
Presidente do PMDB do PiauÃ, Castro diz que o partido vai acompanhar o desenrolar das investigações sobre o assassinato do ex-vereador. "É um crime da mais alta gravidade, estúpido, que não pode ficar impune", declarou.
Investigação
O corpo do ex-vereador ElÃdio Reis está no Instituto Médico Legal de Teresina, onde será submetido a uma série de exames. As análises atestarão a causa da morte do polÃtico.
Desaparecido há cinco dias, Reis foi encontrado enterrado em uma cova rasa cavada em meio a um matagal. O cadáver foi encontrado por um vaqueiro e removido para a capital do Estado por peritos da PolÃcia Civil.
Local onde corpo de EmÃdio Reis foi enterrado. Foto: Riachão Net
EmÃdio Reis foi visto pela última vez no dia 31 de janeiro, uma quinta-feira, na cidade de Picos. O carro que ele conduzia foi abandonado com a chave na ignição em uma estrada de terra, a poucos metros da BR-316.
A investigação é comanda pela Greco (Grupo de Repressão ao Crime Organizado no PiauÃ). O caso é conduzido no mais absoluto sigilo.
Edições dos dias 09 e 10 de agosto de 1980 noticiaram morte do prefeito:
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