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Jornalista repassou informações sigilosas a investigados e intimidou testemunhas, diz PF

Foram cumpridos um mandado de prisão preventiva contra o profissional da comunicação e mais cinco de buscas e apreensão em endereços relacionados a advogados em Teresina e Monsenhor Gil.

18/08/2020 10:43

A Polícia Federal forneceu mais detalhes a respeito da Operação Acesso Negado, deflagrada nesta manhã (18) para apurar supostos vazamentos de informações sigilosas a respeito dos processos no âmbito de outra ação judicial que investiga desvios de recursos do FUNDEB (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica) no Município piauiense de União.

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Entre os alvos da operação estão advogados e um jornalista que atua aqui na Capital. De acordo com a PF, o profissional da comunicação acessou de forma ilegal arquivos e informações sigilosas do processo relacionado à Operação Delivery, deflagrada em maio passado em União, e repassou esses dados a investigados, permitindo que eles se articulassem e se antecipassem às ações da polícia.


Foto: Divulgação/Polícia Federal

De acordo com o delegado Allan Reis, da Delegacia de Crimes Financeiros da PF e coordenador da operação, o jornalista atuou fazendo o monitoramento ilícito de processos, tentando manipular versões apresentadas por testemunhas, além de ter cometido atos intimidatórios. O mandado cumprido em desfavor do comunicador era uma ordem judicial de prisão preventiva. Além deste mandando, foram cumpridos mais cinco de busca e apreensão em endereços relacionados a advogados.

“Inicialmente, apresentamos na Justiça que o jornalista estava fazendo o monitoramento diário das informações, recebendo dados sigilosos de um processo que corre em segredo. Ele estava orientando os investigados a se unir com testemunhas para poder apresentar relatos convergentes e apresentar possíveis provas. Falamos aqui em atos intimidatórios no intuito de minimizar as repercussões da investigação. Ainda estamos apurando se esses atos eram para intimidar a polícia ou a população”, explicou o delegado Allan Reis.


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Nas oitivas de hoje com o jornalista, a Polícia Federal disse esperar esclarecer como ele conseguiu acesso às informações sigilosas e se havia a participação de agentes públicos nesse esquema. “Você não pode acessar processo judicial sigiloso nem se encontrar com funcionários para obter informações sigilosas. Apresentada uma confirmação da participação de qualquer funcionário público, sela ele da Polícia Federal, da Polícia Civil ou do Judiciário, nós não vamos passar a mão”, finalizou o coordenador do inquérito.

As informações sigilosas vazadas pelo jornalista aos investigados, segundo a PF, prejudicou o andamento das ações relacionadas à Operação Delivery. As interferências já teriam se iniciado no dia mesmo em que a polícia detectou o primeiro indício de irregularidades na aplicação do FUNDEB no Município de União.


Foto: Divulgação/Polícia Federal

É que no dia 01 de maio, um servidor público da Prefeitura Unionense foi conduzido para a Central de Flagrantes portando R$ 379 mil em espécie e o dinheiro, segundo ele disse em depoimento, seria entregue ao secretário municipal de Educação de União como propina. Foi a partir disso que a PF iniciou as investigações que culminaram na detecção dos desvios praticados com os recursos do FUNDEB. No dia da prisão do servidor, a PF disse que houve uma tentativa de retirada ilegal, por parte de um dos investigados, do valor apreendido.

“Prejudicou a investigação. Na data em que protocolamos o pedido à justiça, os investigados foram informados de que haveria operação policial, tomaram conhecimentos das nossas ações e houve destruição de provas. Então isso tudo tem uma repercussão absurda no trabalho da polícia. São informações vazadas e qualquer indício de participação de agentes públicos, as medidas vão ser tomadas. É importante frisar que não investigamos profissionais nem pessoas. Investigamos atos e são esses atos que foram chancelados que serão alvo das nossas ações”, explicou a delegada Marina Calderón, superintendente da Polícia Federal no Piauí.

O outro lado

Por meio de nota, o jornalista investigado pela Polícia Federal informou que ao veicular os fatos da Operação Delivery, “apenas fez o seu dever de jornalista e formador de opinião” e diz que “o mandado de prisão preventiva a título de frear de informação soa descabido e desproporcional, uma vez que o jornalista sequer foi ouvido pela autoridade policial antes da condução”.

O jornalista finaliza afirmando que “é temeroso ao exercício profissional, que jornalistas sejam presos por relações com suas fontes, relações essas que são asseguradas pela própria Constituição”. O jornalista se colocou à disposição das autoridades.

Por: Maria Clara Estrêla
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