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Discurso feminista contribui para redução de violência contra mulher

Delegada Anamelka Cadena diz que houveram 85 assassinatos de mulheres no PIauí, 50 deles constatados como feminicídio, por razões de gênero.

08/03/2017 07:57

A mulher, em toda a sua trajetória, passa por uma série de preconceitos que insistem em rebaixá-la e excluí-la da vida política e social. Esse preconceito dá lugar à violência e à opressão que, ao lado do machismo, marcham em direção à submissão e objetificação da mulher. O discurso feminista e de empoderamento são as principais ações que contribuem para a diminuição de casos de violência contra o gênero. 

Segundo Anamelka, 85 mulheres morreram no Piauí em 17 meses (Foto: Arquivo O Dia)

Inúmeras são as denúncias de mulheres que foram e são violentadas no espaço familiar ao escolherem pôr um fim no relacionamento ou assumirem sua sexualidade, por exemplo. No Piauí, a delegada do Núcleo de Feminicídio, Anamelka Cadena, diz que pesquisas, realizadas de 9 de março de 2015 a 30 de agosto de 2016, indicaram 85 assassinatos de mulheres, sendo que em 50 foram constatados feminicídio, identificados por razões de gênero. 
Segundo a delegada, a violência contra mulher sempre existiu, porém, era pouco denunciada. Com os discursos do movimento feminista e o empoderamento de muitas mulheres, o registro de denúncia de violência aumentou. No entanto, isso não se deu porque a violência aumentou, mas porque as mulheres se encorajaram a denunciar. 
“Eu vejo um aumento de mulheres procurando as unidades para informar esse histórico de violência. E isso é um aspecto positivo no que tange às mulheres estarem falando, quebrando esse silêncio, porque cessar o silencio é importante para que possamos conter a violência. À medida que a mulher se instrui e fica mais informada, a busca pelas unidades policiais aumenta, uma vez que acontece muito da mulher estar dentro desse histórico de violência e não saber identificar isso. Se ela busca ajuda, é porque identificou e se encorajou. Então, compreender o cenário e se encorajar são dois fatores que fazem grande diferença na prevenção à violência doméstica familiar. E com esse aspecto do discurso de empoderamento feminino, as mulheres se tornam mais corajosas”, comenta Anamelka. 
Conforme a delegada, a identificação do que se enquadra na violência moral ou física e a posterior denúncia são os primeiros passos para a violência cessar, porque as medidas cautelares que são definidas no início do processo afastam o agressor da vítima. “O que a gente consegue observar é que o silêncio das mulheres mata elas dentro de casa. A partir do momento que elas identificam e denunciam a violência, a gente consegue cessar aquela violência. Infelizmente, o que a gente observa, quando tem a denúncia de uma violência física, é que ela já passava por uma série de violência psicológica e moral, como difamação, injúria, mas não sabia identificar isso. Então, esse empoderamento, para mim, rompe com a barreira do silêncio e contribui para o cessar da violência”, diz. 
Separação 
Anamelka pontua ainda que, dos inúmeros casos investigados, a maioria apresenta um discurso onde se pode identificar causas de violências domésticas por inconformidade do fim do relacionamento com o parceiro. “É muito comum identificarmos menção da não conformação com o fim do relacionamento por parte do parceiro nos depoimentos e declarações que prestam aqui. Isso denota muito esse cenário do machismo e da objetificação da mulher. O inconformismo do homem com o fim do relacionamento não é pelo simples fato de gostar da mulher, muitas vezes é pelo sentimento de propriedade que eles têm dela”, afirma. 
Essas medidas de denúncia, discurso, campanhas e manifestações são apenas alguns dos métodos de combate à violência contra mulher. É preciso ainda que ela reconheça os seus direitos, seu papel na sociedade e lute para que a igualdade de gênero possa atuar de forma mais equilibrada.
Edição: Virgiane Passos
Por: Karoll Oliveira
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