Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Detento é assassinado na Penitenciária Irmão Guido; 5ª morte no ano

Crime ocorreu no pavilhão B da unidade penal. Sinpoljuspi denuncia inércia e descaso do Governo com violência dentro do sistema penal do Estado.

23/02/2016 15:40

Um detento de 29 anos foi assassinado na tarde desta terça-feira (23) no pavilhão B da Penitenciária Regional Irmão Guido, em Teresina.

Luís Sanderson da Silva Araújo estava preso pela prática dos crimes de latrocínio, homicídio e roubo, tendo sido condenado a mais de 22 anos de prisão.

Por meio de nota enviada à imprensa, a Secretaria de Justiça informou que já mobilizou sua equipe de assistência social para dar suporte aos familiares do detento, e que a Delegacia de Homicídios já foi acionada pela gerência do presídio.

Segundo Kleiton Holanda, vice-presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Piauí, o crime ocorreu durante o banho de sol. A vítima sofreu diversas perfurações desferidas por outros presos, que utilizaram barras de ferro retiradas da própria estrutura da penitenciária.

"Foi tudo muito rápido, e os agentes não tiveram como identificar quais dos detentos foram os autores do homicídio. Por essa razão a Delegacia de Homicídios ainda vai investigar o crime para tentar apontar os culpados", afirma Holanda.

Sindicalista denuncia inércia e descaso do Governo com violência no sistema penal

O vice-presidente do Sinpoljuspi ressalta que esta foi a quinta morte registrada só este ano no sistema prisional do Piauí. Enquanto em 2015 houve 31 mortes.

Kleiton Holando afirma que o Piauí possui o sistema penal mais violento do país, superando inclusive o do Maranhão, conhecido nacionalmente pelas brutais rebeliões que ocorrem no Complexo Penitenciário de Pedrinhas.

Para o sindicalista, o Governo trata com descaso as barbaridades que ocorrem nas unidades penais. "Nós estamos assistindo há anos a um ciclo perverso no sistema penal do Estado. Quando não tem rebelião tem fuga, quando não tem fuga tem homicídio. E todo esse caos se deve à inércia do Governo. Para se ter uma ideia, há obras que estão se arrastando desde 2011, como a construção da Casa de Detenção Provisória de Campo Maior e de dois novos pavilhões da Casa de Custódia", denuncia.

Segundo o sindicalista, com essas novas estruturas seria possível criar cerca de 300 vagas, tendo em vista que cada uma abrigaria 144 presos. 

Ainda assim, Kleiton alerta que o problema da superlotação nos presídios está longe de ser solucionado, pois o déficit de vagas chega a 1.800. Embora o sistema penal do Estado tenha capacidade para abrigar apenas 2 mil detentos, atualmente a população carcerária do Piauí é de aproximadamente 3.800 pessoas. Além disso, o sindicalista relata que ainda existem 4.300 mandados de prisão em aberto, conforme números coletados pelo Sinpoljuspi junto à Justiça.

O vice-presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários também critica a quantidade reduzida de servidores, e considera irrisória a quantidade de vagas ofertadas no concurso anunciado pela Sejus. "Em paralelo à superlotação e à falta de estrutura, há uma enorme carência de servidores. Temos apenas cerca de 800 agentes penitenciários em atividade, quando o ideal é que fossem 3.200, tendo em vista que o recomendável é haver um agente para cada cinco presos, por plantão. Pelos cálculos do sindicato, o Governo deveria realizar um concurso com 600 vagas imediatas e outras 600 para cadastro de reserva. Mas nesse concurso estão sendo abertas apenas 75 postos, que não são suficientes para resolver sequer o problema da Penitenciária Irmão Guido, tampouco de todas as unidades", critica Holanda.

O sindicalista ressalta que os agentes da Penitenciária Irmão Guido tinham realizado uma vistoria na unidade no último sábado, ocasião em que foram encontradas dezenas de vergalhões de ferro que servem como armas para os detentos. "Ainda assim, três dias depois acontece esse homicídio. Isso se deve ao elevadíssimo número de presos e à reduzida quantidade de servidores, o que torna inviável a realização de vistorias mais efetivas. Além disso, boa parte dos presídios possuem estruturas extremamente deterioradas, tanto que os presos conseguem retirar esses vergalhões com as mãos, sem fazer quase nenhum esforço", acrescenta.

Kleiton também reclama da falta de atitude por parte do Ministério Público Estadual e da Justiça, que nada fazem no sentido de pressionar o Governo para por um fim ao pandemônio observado no sistema prisional piauiense.

Por: Cícero Portela
Mais sobre: