Março é tradicionalmente considerado o mês mais chuvoso do calendário meteorológico do Piauí, com precipitações que beiram e às vezes ultrapassam os 200 milímetros. Junto com abundância nas precipitações, vêm também os problemas estruturais urbanos que a chuva revela. São casas construídas em áreas de risco, perto de encostas e morros, nas proximidades de riachos e galerias.
Aqui em Teresina, a Defesa Civil Municipal vem intensificando o monitoramento dessas áreas críticas e só neste mês de março, já contabiliza 17 construções com problemas habitacionais em regiões de risco. São casas que precisam ser desocupadas para evitar prejuízos maiores aos moradores. Preocupa o fato dessas residências não estarem situadas em um único ponto, mas espalhadas nas diversas zonas da cidade, o que mostra que o problema não é localizado. São casas nas zonas Leste, Sudeste, Norte e Sul.
“Devido ao transbordamento de galerias, a gente tem percebido desestruturação em casas de taipa, risco de queda de paredes, queda de tetos. A gente visitou esses locais, pedimos para as famílias saírem, mas muitas ainda resistem, mesmo a gente explicando que elas não vão ficar desassistidas”, explica Antônio Linhares, coordenador gerente da Defesa Civil do Município.
"Devido ao transbordamento de galerias, a gente tem percebido desestruturação em casas de taipa, risco de queda de paredes, queda de tetos", diz Antônio Linhares, gerente da Defesa Civil Municipal - Foto: Assis Fernandes/O Dia
Aqui em Teresina, a área mais crítica até o momento tem sido justamente a do Encontro dos Rios, na zona Norte. Mas há outras áreas que também inspiram maiores cuidados por parte do poder público como a região da Vila Washington Feitosa e do Residencial Araguaia, ambos localizados no bairro São Sebastião, na zona Sudeste.
Na zona Rural também há preocupação, sobre tudo na região do Povoado Santa Luz onde há residências construídas no entorno de um riacho que tem aumentado de nível com as chuvas. Nos anos anteriores, ele já chegou a transbordar, invadindo algumas residências.
Vale lembrar que a Defesa Civil também está mantendo contato direto com as equipes do Serviço Geológico Nacional para acompanhar o aumento do nível dos rios Poti e Parnaíba, de modo a agir em caso de risco de transbordamento e garantir que as famílias ribeirinhas não sejam atingidas.
Chuvas deixam famílias em situação crítica na Vila Washington Feitosa
A equipe do Portal O Dia foi até a região da Vila Washington Feitosa, localizado no bairro São Sebastião, na zona Sudeste conversar com os moradores. Em período chuvoso, a situação se complica por causa de uma grota.
Os moradores reclamam que quando começam as chuvas, “as ruas viram rios e a água invadem as casas”. Jaira Celia Soares, 48 anos, mora há 17 anos na Vila Washington Feitosa. Na sua casa moram 10 pessoas, sendo 5 crianças e uma destas, tem 4 meses.
“A minha geladeira queimou e consegui ganhar outra, mas estou com medo de queimar de novo, por que não dá para colocar tijolos, é pesada. Água molhou as camas e não prestam mais. Não tenho medo pelo dia, e sim, pela noite, em acordar e água está invadindo a casa”, diz Jaira Celia Soares.
A sua vizinha Ivonete da Silva que mora “de favor” há mais de 20 anos no local, reclama que a situação piorou depois da construção da ponte em cima da grota. O que facilita para que a água escoe para dentro das casas.
“Antes aqui não entrava água e depois ela fez essa ponte a gente vive dentro da lama, até uma estante acabou. A água entrou por de baixo das paredes”, fala Ivonete da Silva.
Taiane de Sousa de 9 anos, é sobrinha de Ivonete e mora em uma quitinete ao lado da tia. A criança conta que com a chuva da última segunda-feira, 02, a água da entrou na sua casa e molhou o colchão que ela dormia com a mãe. O local, tem apenas um cômodo com duas paredes que dividem cozinha, quarto e banheiro.
Porém, a casa não tem mais os móveis, pois foi estragado pela chuva. Taiane, lamenta a situação e diz que precisa de uma casa para morar com a mãe. “ Eu estou precisando de uma cama para mim dormir, de uma casa para minha mãe e uma cesta básica, por que eu não tenho o que comer, como nas casas dos outros”, pede Taiane de Sousa.