"Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar" é uma das citações mais ouvidas de Gêneses, o primeiro livro da BÃblia. Por vezes repetida, ela incorpora um ato de humildade e penitência que acontece hoje. Na missa de hoje, o padre relembra que o homem é insignificante e pecador, depois distribui cinzas aos fiéis, grafando uma cruz em suas testas enquanto recita os versÃculos de Gênesis.
Esta simbologia marca a Quarta-feira de Cinzas. Para muitos, o último dia de carnaval, ou dia da ressaca; para a Igreja Católica, um dia que marca aabertura de um tempo de conversão, penitência e amor. Além dos versÃculos de Gênesis, uma passagem do evangelho de Marcos também é comumente usada durante a distribuição das cinzas. Como um convite, "Convertei-vos e crede no evangelho", pede aos cristãos que sigam os passos de Cristo.
Para o padre Lauro de Deus, vigário da comunicação da Arquidiocese de Teresina, a Quarta-feira de Cinzas tem um significado amplo dentro da Igreja. "Este dia marca o inÃcio da quaresma, que são quarenta dias de antes da páscoa. A data de uma quarta-feira é estipulada por conta do domingo da Páscoa e dos solstÃcios que o regulam. Essa data marca o inÃcio desse tempo de conversão, penitência e sacrifÃcio", afirma o padre.
As cinzas que são distribuÃdas no dia de hoje, em todas as Igrejas Católicas do mundo, são o resultado da queima das palhas que são levadas à Igreja no domingo de Ramos do ano anterior, que acontece uma semana antes da Páscoa.
A cinza, para a Igreja, representa os pecados e o fim último do homem. "A simbologia da cinza está envolta ao mistério da morte e das nossas fraquezas enquanto pecadores. A cinza é representam os nossospecados, nos faz lembrar que somos frágeis. Que somos pó, tal como a cinza", coloca padre Lauro.
O nome oficial da Quarta-feira de Cinzas na Igreja é "Dia das Cinzas". Embora haja vários relatos de marcação na testa de fiéis com intuito de conversão, nã ohá na BÃblia referências ao Dia das Cinzas tal qual ele é realizado pela Igreja nos dias de hoje.
Esta tradição da Igreja ficou como um simples serviço em algumas igrejas protestantes, como a anglicana e a luterana. A Igreja Ortodoxa começa a quaresma desde a segunda-feira anterior e não celebra a Quarta-feira de Cinzas. Na Igreja Católica, a data é marcada pela recomendação de jejum obrigatório para os fiéis, isto é, um diae m que os cristãos católicos devem se abster de algo que comumente fazem.
Igreja recomenda jejum e oração
Durante o perÃodo da quaresma, a Igreja Católica recomenda a prática do jejum que, para religiosos, revigora as forças do espÃrito.
"A Quaresma é um tempo de conversão e de sacrifÃcio, de penitência. É um tempo de reconciliação, tempo de fazer o bem. O tempo da Quaresma é envolto nesses significados. É essa preparação para a Páscoa, mudança de vida que deve marcar esse perÃodo", esclarece o padre Lauro de Deus.
Para o vigário, o número quarenta tem vários significados. "O número quarenta é simbólico na BÃblia. Está relacionado ao povo de Deus em sacrifÃcio. Rememoram os quarenta anos no deserto depois da fuga do Egito, os quarenta anos de exÃlio na Babilônia e os quarenta dias de Jesus no deserto, vencendo a força do maligno", afirma.
"Vencer o maligno" , segundo padre Lauro, é também um dos grandes fundamentos do perÃodo quaresmal. "O diabólico é aquilo que separa, que desagrega. Durante a Quaresma, mais que em outros dias, devemos nos inspirar em Cristo, que é aquilo que reúne, querompe com o maligno. Esses quarenta dias devem ser tomados como uma oportunidade de crescimento espiritual", completou.
Jejum de carne e oração
Durante a Quaresma, os fiéis normalmente evitam comer carne vermelha nas quartas-feiras e sextas-feiras, por recomendação da Igreja. Essa abstinência, segundo o padre Lauro, é uma forma de o cristão partilhar da dor dos necessitados.
"O jejum significa abster- se de algo. Seja esse algo comida ou outra atividade. Essa abstinência serve para se ter maisdomÃnio sobre si mesmo. DomÃnio sobre os impulsos. Há pessoas que bebem e comem exageradamente e o jejum ajudaria nisso. Em sentido religioso, comermenos é sentir a dor de quem passa necessidade", disse.
Por: Francicleiton Cardoso