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Obras de artistas piauienses são destruídas por falta de preservação

No caso de Nonato Oliveira, mais de 10 painéis foram destruídos.

10/04/2016 08:43

Nonato Oliveira é um dos poucos artistas piauienses que consegue viver de arte no Estado. Ele começou a se interessar pelas artes ainda na adolescência, quando morava em São Miguel do Tapuio. “Minha casa estava sendo reformada e o pedreiro estava fazendo o reboco lá de casa e eu peguei uma faquinha e fui fazendo o desenho de algumas pessoas que moravam na minha cidade. Eu fiz um monte de gente e cada um de um jeito”, lembra. Dos 13 anos de idade para cá, já faz 50 anos que ele segue produzindo.


Foto: Elias Fontenele/ODIA


Ele já fez várias exposições fora do Brasil, inclusive na Europa. Apesar da falta de incentivo para a produção artística no Estado e também com muitas de suas obras perdidas ou parcialmente danificadas, como o painel localizado no Centro de Convenções - que se encontra em reforma, Nonato nunca deixou de lado seus pinceis. “Eu acho que o Governo em si não ajuda muito. Os artistas precisam muito mais da ajuda de uns dos outros”, revela o artista.

Em Teresina, é possível encontrar obras de Nonato em prédios da Prefeitura Municipal, do Palácio do Karnak, do Tribunal de Justiça, na OAB-PI e outros lugares. Ao longo de todos esses anos de produção, os painéis e as esculturas desse artista renomado já ocuparam muitos mais espaços, entretanto, algumas dessas obras deixaram de existir por conta da falta de preocupação com a preservação delas. Até ano passado, pouco mais de 10 painéis do artista plástico foram destruídos em Teresina. “Eu tinha obras em vários órgãos, mas a maioria foi destruída. Só na Avenida Frei Serafim, dois painéis que eu fiz foram derrubados e, no local, foram construídas lojas”, afirma.

Para a professora de artes da Universidade Federal do Piauí (Ufpi), Zozilena de Fátima Froz, muitas obras são danificadas e não existe uma preocupação efetiva com sua preservação ou restauração. “Se você fizer uma avaliação em relação à conservação, você vai ver que têm obras que estão extremamente danificadas e algumas até desapareceram e, às vezes, o poder público nem toma conhecimento. O Afrânio, que inclusive já foi professor da Ufpi, tinha algumas obras no Palácio da Justiça e, recentemente, sua filha foi fazer um levantamento de como estavam essas obras e ela não encontrou um quadro dele que ficava no prédio”, pontua.

Lei é reformulada para incentivar produção local

Além da falta de preservação, os artistas sofrem também com a falta de incentivo para a produção local. Muitos deles precisam trabalhar em outras áreas e ocupar outros cargos paralelos a sua atividade artística para conseguir se manter e dar continuidade a seu trabalho de maior paixão: as cores e as milhares de sensações derramadas em uma tela em branco.

Com a intenção de dá maior visibilidade às obras de valor artístico, produzidas no Estado, sobretudo, na capital Teresina, uma lei sancionada em 2003 destacou em seu texto a obrigatoriedade de incluir “obras originais de valor artístico nos prédios expostos à visitação pública, com área superior a 200 m² a serem construídos no município de Teresina”. A lei faz referência também a casas de espetáculo, hospitais, casas de saúde, colégios ou escolas públicas, estações de passageiros, estabelecimentos bancários, hotéis, estágios, clubes esportivos, sociais ou recreativos.

Entretanto, mais de dez anos após entrar em vigor, a lei ainda é pouco conhecida pelos artistas, seus principais beneficiados. Além disso, segundo a União dos Artistas Plásticos Piauienses (UAPPI), da forma como a lei foi publicada na época, ela não lograria êxito no sentido de valorizar e contemplar o trabalho dos artistas.

Para a professora de artes da Ufpi, Zozilena de Fátima Froz, a discussão a respeito do conteúdo desta lei deve ser retomada para que o artista e sua produção seja estimulada. “De uma maneira geral, eu penso que se realmente essa lei fosse levada a sério, seria uma forma importantíssima de o artista produzir mais e ter interesse em produzir para que sua obra ganhe visibilidade, porque eu acho que a arte tem que ocupar espaços”, destaca.

Reformulação

Pensando nisto, recentemente, a UAPPI, juntamente com a Coordenação do Curso de Artes Visuais da Ufpi, Conselho de Arquitetura, Semplan e outros órgãos municipais, estão trabalhando na reformulação da lei. “A gente ampliou o que já tinha e modificou algumas coisas. E nós também estamos pensando em criar um Comitê de Artes”, explica Reisinha Barbosa, artista plástica e membro da UAPPI, acrescentando que a ideia principal dessa articulação é a necessidade de tornar a lei mais ampla, no sentido de apoiar os artistas locais.

Para Stênio Ferreira, artista plástico há 30 anos e presidente da UAPPI, a reformulação da lei é importante. Ele argumenta que a mudança só tem a contribuir para o reconhecimento dos artistas, visto que, os espaços públicos só tendem a melhorar com a presença da arte.

“Quando você vê um espaço público, como a Câmara dos Vereadores, que têm um lindo painel da Fátima Campos, quer goste ou não de artes, as pessoas vão achar lindo, vão admirar, elas vão ter uma reação boa. E isso vai criando uma cultura de consumir arte e não só pelo ato da compra em si, mas pelo fato de estar em um lugar e vê isso”, afirma, acrescentando que, apesar da arte ocupar muitos espaços públicos, a maioria desses órgãos é formada por salas vazias de obras.

A matéria completa você confere na edição deste domingo do Jornal O DIA.
Por: Aldenora Cavalcante - Jornal O DIA
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