Nonato Oliveira é um dos
poucos artistas piauienses
que consegue viver de arte
no Estado. Ele começou a
se interessar pelas artes ainda
na adolescência, quando
morava em São Miguel do
Tapuio. “Minha casa estava
sendo reformada e o pedreiro
estava fazendo o reboco lá
de casa e eu peguei uma faquinha
e fui fazendo o desenho
de algumas pessoas que
moravam na minha cidade.
Eu fiz um monte de gente e
cada um de um jeito”, lembra.
Dos 13 anos de idade
para cá, já faz 50 anos que ele
segue produzindo.
Foto: Elias Fontenele/ODIA
Ele já fez várias exposições
fora do Brasil, inclusive na
Europa. Apesar da falta de incentivo
para a produção artística
no Estado e também com
muitas de suas obras perdidas
ou parcialmente danificadas,
como o painel localizado no
Centro de Convenções - que
se encontra em reforma, Nonato
nunca deixou de lado
seus pinceis. “Eu acho que o
Governo em si não ajuda muito.
Os artistas precisam muito
mais da ajuda de uns dos outros”,
revela o artista.
Em Teresina, é possível encontrar
obras de Nonato em
prédios da Prefeitura Municipal,
do Palácio do Karnak,
do Tribunal de Justiça, na
OAB-PI e outros lugares. Ao
longo de todos esses anos
de produção, os painéis e as
esculturas desse artista renomado
já ocuparam muitos
mais espaços, entretanto, algumas
dessas obras deixaram
de existir por conta da falta
de preocupação com a preservação
delas. Até ano passado,
pouco mais de 10 painéis
do artista plástico foram
destruídos em Teresina. “Eu
tinha obras em vários órgãos,
mas a maioria foi destruída.
Só na Avenida Frei Serafim,
dois painéis que eu fiz foram
derrubados e, no local, foram
construídas lojas”, afirma.
Para a professora de artes da
Universidade Federal do Piauí
(Ufpi), Zozilena de Fátima
Froz, muitas obras são danificadas
e não existe uma preocupação
efetiva com sua preservação
ou restauração. “Se
você fizer uma avaliação em
relação à conservação, você vai
ver que têm obras que estão
extremamente danificadas e
algumas até desapareceram e,
às vezes, o poder público nem
toma conhecimento. O Afrânio,
que inclusive já foi professor
da Ufpi, tinha algumas
obras no Palácio da Justiça e,
recentemente, sua filha foi fazer
um levantamento de como
estavam essas obras e ela não
encontrou um quadro dele
que ficava no prédio”, pontua.
Lei é reformulada para incentivar produção local
Além da falta de preservação,
os artistas sofrem também com
a falta de incentivo para a produção
local. Muitos deles precisam
trabalhar em outras áreas
e ocupar outros cargos paralelos
a sua atividade artística
para conseguir se manter e dar
continuidade a seu trabalho de
maior paixão: as cores e as milhares
de sensações derramadas
em uma tela em branco.
Com a intenção de dá
maior visibilidade às obras de
valor artístico, produzidas no
Estado, sobretudo, na capital
Teresina, uma lei sancionada
em 2003 destacou em seu
texto a obrigatoriedade de incluir
“obras originais de valor
artístico nos prédios expostos
à visitação pública, com área
superior a 200 m² a serem
construídos no município de
Teresina”. A lei faz referência
também a casas de espetáculo,
hospitais, casas de saúde,
colégios ou escolas públicas,
estações de passageiros, estabelecimentos
bancários, hotéis,
estágios, clubes esportivos,
sociais ou recreativos.
Entretanto, mais de dez
anos após entrar em vigor,
a lei ainda é pouco conhecida
pelos artistas, seus principais
beneficiados. Além
disso, segundo a União dos
Artistas Plásticos Piauienses
(UAPPI), da forma como a
lei foi publicada na época, ela
não lograria êxito no sentido
de valorizar e contemplar o
trabalho dos artistas.
Para a professora de artes
da Ufpi, Zozilena de Fátima
Froz, a discussão a respeito do
conteúdo desta lei deve ser retomada
para que o artista e sua
produção seja estimulada. “De
uma maneira geral, eu penso
que se realmente essa lei fosse
levada a sério, seria uma forma
importantíssima de o artista
produzir mais e ter interesse
em produzir para que sua obra
ganhe visibilidade, porque eu
acho que a arte tem que ocupar
espaços”, destaca.
Reformulação
Pensando nisto, recentemente,
a UAPPI, juntamente
com a Coordenação do Curso
de Artes Visuais da Ufpi,
Conselho de Arquitetura,
Semplan e outros órgãos municipais,
estão trabalhando na
reformulação da lei.
“A gente ampliou o que já
tinha e modificou algumas
coisas. E nós também estamos
pensando em criar um
Comitê de Artes”, explica Reisinha
Barbosa, artista plástica
e membro da UAPPI, acrescentando
que a ideia principal
dessa articulação é a necessidade
de tornar a lei mais
ampla, no sentido de apoiar
os artistas locais.
Para Stênio Ferreira, artista
plástico há 30 anos e presidente
da UAPPI, a reformulação
da lei é importante. Ele
argumenta que a mudança só
tem a contribuir para o reconhecimento
dos artistas, visto
que, os espaços públicos
só tendem a melhorar com a
presença da arte.
“Quando você vê um espaço
público, como a Câmara dos
Vereadores, que têm um lindo
painel da Fátima Campos, quer
goste ou não de artes, as pessoas
vão achar lindo, vão admirar,
elas vão ter uma reação boa.
E isso vai criando uma cultura
de consumir arte e não só pelo
ato da compra em si, mas pelo
fato de estar em um lugar e vê
isso”, afirma, acrescentando
que, apesar da arte ocupar muitos
espaços públicos, a maioria
desses órgãos é formada por
salas vazias de obras.
A matéria completa você confere na edição deste domingo do Jornal O DIA.
Por: Aldenora Cavalcante - Jornal O DIA