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Galpão do Dirceu anuncia fim das atividades após 10 anos de cultura

Centro cultural foi o ponto de encontro de diversos artistas da cena independente de Teresina. Todas as artes encontraram no antigo depósito um espaço para trabalhar, aprender, ensinar e executar seus espetáculos

12/01/2016 10:15

Os artistas que compôem o Galpão do Dirceu, espaço reconhecido em Teresina como fonte de arte e cultura, vêm por meio de nota comunicar o encerramento de suas atividades. Após 10 anos de trabalho, o grupo fecha as portas do galpão localizado na rua Jaime Fortes para que cada um possa seguir seu caminho.

O Galpão do Dirceu foi o ponto de encontro de diversos artistas da cena independente de Teresina. Teatro, música, dança, cinema, todas as artes encontraram no antigo depósito no bairro Dirceu um espaço para trabalhar, aprender, ensinar e executar seus espetáculos. O Galpão também ofereceu, nesses 10 anos, inúmeras oficinas, palestras, e recebeu a visita de artistas locais, de fora do Piauí e do Brasil.

Formado atualmente por 12 pessoas, o grupo declarou estar finalizando as atividades no local para que cada um possa tocar seus próprios projetos. “Um dos motivos que nos levaram a esta difícil e amadurecida decisão é a constatação de que os artistas que ocuparam e geriram este espaço até agora estão em um momento de maior maturidade e já envolvidos em novos projetos, desdobramentos do trabalho de cada um. Portanto, gerir e compartilhar um espaço tão importante se tornou cada dia mais complexo e difícil, nessa equação do comum que matematicamente nunca fechava mas ainda assim a cada ano nos enriquecia e nos retroalimentava sempre fez sentido seguir adiante.”, declarou o coletivo por meio de nota.

Além disso, há também o problema da falta de financiamento. Segundo Janaína Lobo, que faz parte do Galpão do Dirceu, o espaço teve apoio da prefeitura de Teresina, da Seduc e de outros patrocinadores, como a Petrobrás. Mesmo assim, faltam perspectivas de apoio a longo prazo. “Como vamos manter um espaço como esse sem perspectivas de futuro?”, questiona Janaína.

A comunidade sempre apoiou o Galpão. Janaína conta que os moradores do Dirceu e região abraçou o espaço. “A comunidade sempre esteve lá, assistindo aos espetáculos, às palestras, participando das oficinas”, conta.

Com o fim do Galpão, Janaína diz que novos grupos estão se formando. Para ela, o Galpão do Dirceu deixa um grande legado para Teresina, e coloca o nome de Teresina no cenário artístico não só nacional, como internacional. “Nossa história esta aí e espero que os próximos artistas de Teresina a coloquem para frente. O que mais me deixaria feliz era que essa história seguisse adiante”, comenta Janaína.

Leia abaixo a nota de encerramento na íntegra:

Teresina, janeiro de 2016. O Galpão do Dirceu, espaço cultural localizado no Grande Dirceu, periferia de Teresina, Piauí, e gerido por um grupo de artistas, vem a público comunicar o encerramento de suas atividades após 10 anos de existência, 6 deles neste espaço. Este encerramento é mais uma etapa de uma trajetória de amadurecimento do trabalho artístico, dando espaço para novos projetos. Encerrar não é terminar. “A mudança permanente é nossa única realidade.” (Borys Groys)  

 Um dos motivos que nos levaram a esta difícil e amadurecida decisão é a constatação de que os artistas que ocuparam e geriram este espaço até agora estão em um momento de maior maturidade e já envolvidos em novos projetos, desdobramentos do trabalho de cada um. Portanto, gerir e compartilhar um espaço tão importante se tornou cada dia mais complexo e difícil, nessa equação do comum que matematicamente nunca fechava mas ainda assim a cada ano nos enriquecia e nos retroalimentava sempre fez sentido seguir adiante. No entanto, em 2015, entendemos que seguir com o espaço físico se daria muito mais pelo ego do que pela escolha por um fazer artístico compartilhado entre nós. Assumir-se como artista não significa admitir-se como um indivíduo especialmente esplendoroso, mas como alguém que atribui em seu oficio um compromisso de transformação.  

 Outro motivo foi a falta de perspectivas reais de manutenção do espaço para o ano de 2016, decorrente da falta de políticas públicas que abarquem a manutenção de espaços independentes. A grande maioria dos editais no Brasil não contempla a manutenção e nem continuidade de espaços culturais, o que inviabiliza a existência de um espaço com condições mínimas para seguir com as inúmeras atividades que aconteciam no Galpão do Dirceu como oficinas, espetáculos, residências, palestras, mostras, exibições,etc.  

 Para nós é uma postura honesta e coerente encerrar as atividades em um espaço que nasceu e existiu até agora na filosofia e política real do compartilhamento e da criação em colaboração do que seguir adiante com outros direcionamentos, modelos ou formatos consolidados. O Galpão nunca foi só um espaço físico e um endereço. Cada parede está cheia de conhecimento e subjetividade. Informações que afetaram de incontáveis maneiras quem passou por ali numa aula, espetáculo ou numa simples conversa tomando uma cerveja. O Galpão sempre foi nosso pouso, nosso chão (quente), nosso ringue, nosso palco. Ele foi um acontecimento. O momento é de olhar para frente e se permitir ao devir.  

 Alegra-nos ver como um trabalho feito ali, num lugar de inicialmente difícil acesso, num Galpão quente, um antigo depósito de supermercado, hoje reverbera artisticamente na cidade e para além das fronteiras geográficas, colocando o Piauí no cenário da dança e arte contemporânea brasileira. Ver tantos movimentos político/artísticos na cidade, vindos de coletivos e artistas independentes nos enche de alegria, satisfação e também nos traz uma responsabilidade ainda maior como artistas neste momento. Novos contextos, agrupamentos e ações se desenham em Teresina e nos juntamos a eles. Fazer existir. Fazer existir.  

 Não poderíamos neste momento deixar de agradecer muito e de coração aos diversos tipos de apoio que tivemos durante todos estes anos: as empresas, as instituições públicas e privadas, os artistas que recebemos e os que construíram conosco esta utopia (passando por aqui por um momento ou por longos anos), os parceiros (do ofício e da vida), os amigos (os nossos e os do Galpão!), os jornalistas, os que foram fazer oficina, os que sempre vão assistir, os que foram só uma vez, os que recomendaram, os que escolheram, os que fizeram questão de vir conhecer, os que torceram de longe, os que vem treinar, os curiosos, os vizinhos e a comunidade do Dirceu, os que doaram, os que limparam, numa rede tão real e bonita de cooperação que se derrama para além das paredes altas . Sem isso, esta trajetória não existiria.  

 MUITO OBRIGADO. Por tudo, por cada pequena ação. Todas elas são enormes e importantes num lugar onde conviver e compartilhar sempre foram os verbos que nos guiaram. O Galpão do Dirceu é só gratidão.  

Com muito amor, 

 Galpão do Dirceu.

Edição: Nayara Felizardo
Por: Andrê Nascimento (estagiário)
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