Já haviam passado as
primeiras horas do ano
de 2016, quando, no meio
de uma canção, a melodia
mudou de tom: “Quem é
essa aí, papai? Tá cheia de
assunto”. Bastaram poucas
frases para Ivete Sangalo
ser considerada, ainda nos
primeiros momentos do
novo ano, a ciumenta da
vez. A atitude da cantora
baiana ganhou repercussão
e o tema “ciúme”, a pauta.
Como acontece, como lidar
e controlar o tão conhecido,
principalmente para casais,
sentimento do ciúme? As
respostas não são padronizadas,
tampouco simples,
mas quanto mais debatido
o tema, mais aparecem
semelhanças entre os que
se assumem como pessoas
ciumentas.
(Foto: Jailson Soares/ODIA)
Ana* é declaradamente
uma ciumenta de plantão.
Por conta disso, já viu relacionamentos
se desfazerem
e situações de descontrole
se construírem em frente de
seus olhos. “Eu sou bastante
ciumenta. Às vezes eu não
consigo nem dormir porque
fico pensando no que a outra
pessoa pode estar fazendo.
É uma guerra constante
entre a razão e a emoção”,
descreve.
Do último relacionamento,
ela não consegue nem elencar
a quantidade de vezes que
viu situações ficarem desenhadas
de acordo com o que
‘o ciúme ditava’. Entre as
atitudes, fiscalizar as redes
sociais, amigos em comum,
ex-namoradas e todo o ciclo
social do então companheiro
são tidas como ações de
praxe.
“Eu fuço tudo para descobrir.
Já sai de casa às 5 horas
da manhã para ir ver se a
pessoa estava mesmo onde
falou e se iria sair acompanhada
de alguém. É praticamente
uma coisa incontrolável”,
descreve a jovem.
A dificuldade é tamanha,
que mesmo ela tendo noção
que o primeiro relacionamento
sério, aos 16 anos, se
findou por conta de ciúmes,
de lá para cá a batalha
contra a presença constante
do sentimento não foi vencida.
“Lembro que com o
meu primeiro namorado, eu
não deixava ele fazer nada
sozinho. Acho que acabei
sufocando ele por conta do
ciúme. Se ele ia para a aula
de redação eu ia, se ia encontrar
os amigos, eu também
estava. Por esse desgaste
acabamos terminando”,
relata.
Mas Ana aponta um motivo
para o exagero. Apesar de se
considerar muito ciumenta
desde mais nova, foi depois
de uma traição, há cerca
de dois anos, que ela viu os
efeitos do ciúme se agigantarem
ainda mais em seu
cotidiano.
“Já fui traída e acho que
isso me marcou muito. Eu
sei que é ruim descontar em
um relacionamento novo, o
que a pessoa viveu no passado,
mas é difícil não ser de
outra forma”, confessa.
E para os ciumentos em
alto grau, o sentimento não
mexe apenas com os pensamentos,
mas se expressa fisicamente.
Segundo Ana, além
de perder o sono, no ápice
de uma crise de ciúmes, ela
diz ficar extremamente nervosa,
com o corpo tremendo
e sente dificuldade de respirar.
O estresse por conta
das situações interfere até
no ciclo menstrual. “É uma
coisa que mexe com todo o
organismo, porque eu realmente
fico descontrolada”,
lembra.
E se nos relacionamentos,
ela sabe que o ciúme sempre
deu um jeito de se fazer
presente, em outras relações,
também não é muito
diferente. É tanto que os
amigos tem consciência do
ciúme exacerbado de Ana,
ao menor sinal de ausência,
o argumento é quase sempre
o mesmo: ‘já está me trocando?’.
O que a jovem descreve
com naturalidade, na verdade,
é uma sina que ela
tenta reverter. Ser uma
pessoa ciumenta é uma
característica que não
agrada, nem a própria
pessoa, muito menos quando
atrapalha na relação. “Eu
acho que na relação precisa
haver confiança e, por isso,
a outra pessoa também tem
que colaborar. Mas eu penso
e tento sempre melhorar
esse ciúme que tenho. Só que
não sei se vou conseguir”,
constata.
(*Nome fictício para proteger a identidade da fonte)
A matéria completa você confere na edição deste domingo no Jornal O DIA.