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Metade dos apartamentos do Residencial Torquato Neto está desocupada

Caixa ainda não entregou as unidades que foram invadidas e outra parte dos moradores ainda não apareceu para tomar posse do imóvel

29/09/2015 07:13

Grande parte dos apartamentos do Residencial Torquato Neto, na zona Sul de Teresina, ainda não está ocupada; isto porque, algumas unidades já foram entregues e as pessoas ainda não se mudaram, e outra parte ainda aguarda a entrega do imóvel. 

Algumas áreas do Residencial, que foi entregue em 2013, estão praticamente desertas, porque muitos apartamentos estão trancados, aguardando os moradores contemplados. Para a síndica de uma parte do residencial, Gerlane Maria do Nascimento, muitas pessoas não se mudam porque a região não tem estrutura para oferecer o mínimo de qualidade de vida. “Aqui não tem posto de saúde, posto policial, e acontece tanta coisa que você não tem para onde correr. Então, só quem estava realmente necessitado e não tinha onde morar se mudou, mas quem tem condições de não vir, não vem”, afirma. 

Segundo Gerlane, metade dos apartamentos está desocupada. Já aqueles que estão ocupados são casos em que o proprietário cede o local para outras pessoas, ou são moradores que têm uma segunda casa e vêm ao local apenas nos finais de semana e feriado. “Na última vez que falei com a assistente social, ela me disse que tinham feito a licitação da praça, mas foi barrada. E ninguém sabe qual é o motivo. E, até então, está parada”, declara a síndica. Para ela, não basta moradia, é preciso garantir qualidade de vida, com assistência escolar, médica, segurança e área de lazer que, até agora, não existe no residencial. 

Através de nota, a Caixa Econômica Federal informou que como parte das unidades do residencial foi invadida, e logo depois reintegradas, foram necessárias reformas que ainda estão sendo providenciadas. Por isso, ainda faltam unidades para serem entregues. 

Fotos: Assis Fernandes/ ODIA

Insegurança 

De acordo com uma moradora que preferiu não se identificar, houve casos de pessoas que preferiram sair das casas por conta do alto índice de violência na região. “Apesar de ser regra do condomínio sempre manter os portões fechados, acontecem roubos constantemente. Aconteceu, várias vezes, de entrarem nos apartamentos das pessoas e levarem seus pertences. A gente mora aqui e já não tem muito, imagine ser roubado. A gente tem medo de perder a vida. E ainda mais porque é como se a gente não fosse visto aqui, porque não tem nem delegacia”, desabafa. 

A equipe de reportagem tentou contato com a Polícia Civil, mas, até o fechamento desta edição, não conseguiu retorno.

Moradores que invadiram residencial não sabem qual será o fim da ocupação 

Enquanto muitos apartamentos estão desocupados no Torquato Neto, os moradores que ocuparam um terreno ao lado do residencial, após serem retirados dos imóveis que invadiram, não sabem qual será o resultado desta situação. 

Isto porque, o terreno é privado e pertence a um homem que, segundo os moradores, se chama João de Deus. “Quando nos tiraram do Torquato, nós já vínhamos para invadir o terreno. Aí, ele mandou afastar a cerca e cedeu mais de 2.500 metros”, relata o morador José Rodrigues. 

Segundo ele, são cerca de 50 pessoas morando na ocupação há quatro meses e mais pessoas estão construindo casas para poderem se mudar. “Nós temos água e energia ligadas com gambiarra. Está melhor do que quando chegamos aqui, que estávamos no escuro. O problema é que ninguém sabe o que o dono vai fazer, se vai nos deixar aqui, se vai cobrar alguma coisa futuramente, estamos realmente perdidos”, conta. 

José Rodrigues morava de aluguel na Vila Irmã Dulce antes de invadir o apartamento no Torquato Neto. “Eu tenho um filho com deficiência visual e problemas mentais, nós fomos sorteados no Minha Casa, Minha Vida, mas, quando chegamos lá, disseram que o prazo tinha acabado e, por isso, perdemos. Aí nós invadimos, porque não tínhamos mais condições de pagar aluguel”, afirma. 

Para ele, é injusto o fato dos invasores terem sido retirados dos apartamentos e hoje estarem desocupados. “E ainda tiraram dos pobres para darem para os ricos. Eu estou falando isso é porque, quando chega no final de semana, os apartamentos onde não mora ninguém ficam lotados, fazem churrasco, botam carro na rua. É a maior baderna”, revela o morador. Ele diz que é ciente de que existe uma fila de cadastros do programa Minha Casa, Minha Vida; porém, defende um maior rigor nas fiscalizações para que as moradias sejam destinadas a quem realmente precisa. 

José Pereira dos Santos tem deficiência física e também teve problemas com o programa Minha Casa, Minha Vida. “Eu fui sorteado, depois a assistência social disse que tinham tirado meu nome do sistema, porque o prazo tinha acabado. Participei da invasão e, depois que fomos expulsos, eu fui lá de novo e ela [a assistente social] disse que meu nome está lá. Dei entrada nos documentos e agora estou esperando só pelo sorteio da chave”, relata. Por enquanto não recebe o imóvel, José está morando em um barraco feito de lona na ocupação organizada pelas pessoas retiradas do residencial. 

Todavia, o problema que mais tem tirado o sono de José Pereira é que seus filhos estão sem frequentar a escola. “Nós morávamos no Dirceu e, desde que viemos para a invasão, as crianças não estão indo para o colégio. Mas, no final do ano, vou transferi-lo para cá, porque eu tentei assim que viemos e disseram que não tinha vaga. Inclusive, várias crianças daqui estão sem estudar porque dizem que não tem vaga”, acrescenta José. 

 Sem vagas nas escolas e creches, crianças estão sem estudar 

 Jéssica Laiane Sousa é mãe de dois filhos, um bebê de colo e uma menina de 4 anos. De acordo com ela, depois de ser expulsa do apartamento no Torquato Neto, passou um mês reorganizando uma nova moradia e não pôde levar a filha à escola. Ao retornar à rotina normal, não lhe deixaram mais estudar. “Eu fico sozinha porque meu marido está fazendo bicos, porque senão vamos morrer de fome. E a creche é muito longe daqui, não podia ir com o bebê de colo nesse sol em uma distância tão longa; por isso, passei um mês sem levá-la”, declara. 

Já Paulo Roberto da Silva tem oito filhos e os únicos que estão frequentando a escola são os três que estão morando com a avó. “Os cinco que moram comigo são bem pequenos e, na creche daqui da região, disseram que não tem vaga”, conta. 

Saúde 

Além disso, as pessoas também não estão recebendo atendimento médico no posto de saúde da região. “Quando a gente chega lá, eles pedem logo um comprovante de residência e, como não temos, somos despachados”, denuncia Paulo, que está desempregado. Segundo ele, algumas das pessoas que precisaram de atendimento urgente foram atendidas, mas outras não. 

De acordo com o relato dos ocupantes, muitas pessoas estão tendo sérios problemas devido à falta de renda. “Nós vamos para dentro dos matos, arrancamos madeira para vender e daí conseguir tirar o alimento. A maioria aqui é desempregado; então, todo dia que passa e conseguimos comida é uma vitória. Tem gente aqui que está na base do miojo e é porque os outros dão”, conta Paulo Roberto da Silva.

Por: Ana Paula Diniz- Jornal O Dia
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