Uma parte da pré-história, história
e até mesmo do futuro que foi incinerada. É assim que pesquisadores classificam
o episódio do incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro. O fogo que consumiu
o prédio no último domingo (02) destruiu pelo menos 90% de todo o acervo
histórico e no meio deste material perdido pode estar uma parcela importante da
história do Piauí.
Segundo a doutora em Arqueologia e professora da Universidade Federal do Piauí, Ana Luísa Meneses, no Museu Nacional haviam documentos oficiais do Estado, inclusive a carta de criação do Piauí, além de mapas históricos, documentos e fósseis da Bacia do Parnaíba, e peças em cerâmica do período colonial.
Foto: Tânia Rego/Agência Brasil
“São perda inestimáveis, porque são documentos que representam fatos, períodos históricos do Piauí e que agora simplesmente não existem mais. É uma parte da nossa pré-história e história que ficará apagada. Isso sem contar os pesquisadores que perderam tudo de seus estudos, que viram anos e anos de dedicação ser incinerados em poucos minutos”, afirmou a professora.
Ana Luísa diz que ainda não há como precisar o que exatamente da história do Piauí chegou a ser perdido no incêndio, porque a perícia da Polícia Federal e do Corpo de Bombeiros ainda está sendo feita para apurar as causas do fogo. Até o momento, sabe-se que durante as seis horas em que as chamas consumiam o Museu Nacional, 90% de tudo que havia exposto e guardado foi queimado. O acervo total somava mais de 20 milhões de itens catalogados.
Foto: Tânia Rego/Agência Brasil
Foram movidos por esta sensação de perda que professores e pesquisadores da Ufpi se reuniram hoje (04) em um ato em solidariedade ao ocorrido no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Após fazerem discursos, nos quais manifestaram a insatisfação com os baixos investimentos do Governo na manutenção do patrimônio histórico, os professores deram um abraço simbólico no Museu de Arqueologia e Paleontologia da Ufpi.
Para a professora de Arqueologia Aline Freitas, que trabalhou por 10 anos em pesquisas no Museu Nacional, o local carecia de renovação na parte elétrica e estrutural. Ela atribuiu á autoridades governamentais a responsabilidade pelo ocorrido e acrescentou ainda que se trata de um “descaso com a educação e a cultura do país.”
“É um desrespeito, uma falta de cidadania muito grande, de cuidado com a educação e cultura do Brasil. No âmbito acadêmico científico é mais que tudo, um descaso. Séculos de acervo perdidos, o crânio da Luzia (fóssil humano mais antigo encontrado na América), fósseis de plantas do Paleozóico, um dinossauro do Cretáceo, são peças que jamais poderão ser resgatadas e temos que ter consciência disso”, declarou a Aline.
Para a professora, sem objetos de pesquisas e sem material, os pesquisadores terão que recomeçar a contar a história do Brasil praticamente do zero.
Outros incêndios
O incêndio no Museu Nacional não é o primeiro que mina a história e a memória do Brasil. Em 2015, o fogo atingiu a torre do Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo. Parte do acervo digital foi perdida. Em 2013, o auditório Simón Bolívar, do Complexo do Memorial da América Latina, foi consumido pelas chamas.
Há oito anos, em 2010, foi a vez do Instituto Butantã. O fogo destruiu um dos maiores acervos vivos de cobras tropicais do mundo. Já na década de 1970, o incêndio foi no Museu de Arte Moderna e destruiu obras de Picasso e Dali, além de exemplares da biblioteca de artes visuais.
Por: Maria Clara Estrêla e Ananda Oliveira