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Dia dos Pais: "œMuitas pessoas acham que homem não consegue ser pai solo"

Além do preconceito da sociedade, Cleiton Pereira relata como é cuidar da sua filha após perder a esposa durante um assalto

07/08/2021 17:50

Neste 8 de agosto, Dia dos Pais, é importante celebrar todas as maneiras de ser família, a exemplo dos famosos ‘pães’: homens que são pais e mães. Pai solteiro, pai solo, viúvo ou divorciado são alguns rótulos utilizados corriqueiramente e que, muitas vezes, não traduzem a grande responsabilidade que é criar um filho sozinho.

O clichê de que "não basta ser pai, tem que cuidar", popularizado nas publicidades da década de 80, vem se tornando cada vez mais real, ao passo que muitos pais enfrentam a monoparentalidade e precisam, de alguma forma, assumir o papel de ‘pai e mãe’ ao mesmo tempo.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 3% da população brasileira é composta por pais solos, que realizam essas tarefas com pouca ou nenhuma ajuda de terceiros.

Trabalhar e cuidar dos filhos, administrar a carreira e os estudos das crianças, além dos afazeres domésticos, pode se tornar um desafio quando não há alguém ao lado para auxiliar e dividir as tarefas. É o que conta Cleiton Pereira, pai de Ana Clarice, que perdeu a esposa durante um assalto há alguns anos. Desde então, Cleiton vem se reinventando enquanto pai solteiro, criando uma filha pré-adolescente que está passando pelas fases de descobertas.

“A minha filha sempre esteve muito ligada a mim, sempre dei muito carinho, amor. Todos os dias eu digo que ela é linda e que eu a amo. Quando a minha esposa faleceu, foi um baque muito grande. Minha família até tentou ajudar, mas acabou atrapalhando mais do que ajudando. Além disso, existe uma pressão muito grande por eu ser homem. Eu vejo muito preconceito sobre isso, muitas pessoas acham que homem não consegue ser pai solo, principalmente pai de menina”, confessa Cleiton.

"A gente conversa sobre tudo, ele é muito carinhoso, amoroso", diz Cleiton Pereira (Fotos: Arquivo pessoal)

Para ele, da mesma maneira que as mulheres estão saindo de casa e conquistando seu espaço, os homens também estão evoluindo no aspecto da paternidade e do cuidado em casa. Ainda assim, Cleiton sente-se observado e é sempre questionado nas decisões que toma enquanto pai. “Muitas pessoas duvidam de mim como pai. Sempre tenho que ficar provando o que vou fazer”, desabafa.

Mesmo diante de todos os desafios, Ana Clarice tem um pai atencioso e amoroso, que prioriza a felicidade e a educação da filha acima de tudo. Cleiton afirma que o verdadeiro caminho da educação é plantar chorando, para colher felicidade mais tarde. Ao mesmo tempo em que sua filha aprende a ser uma pessoa afetuosa, ele também a ensina ter disciplina e conhecimento.

"Ela é muito educada, muito carinhosa e atenciosa com as pessoas. Quem a vê não imagina tudo que já passou, hoje ela é uma menina forte. Eu ensino a resolver seus conflitos internos e questões pessoais através do diálogo”, conta.

Desafios da adolescência

Ana Clarice tem 11 anos e agora está passando pela fase da adolescência, quando muitas filhas não se sentem à vontade para conversar com seus pais a respeito de certos assuntos, como por exemplo, a paquera na escola. Mas, de acordo com Cleiton, eles conversam sobre tudo e, como um bom pai, sempre a aconselha, guiando-a para o melhor caminho.

“Ela está entrando na pré-adolescência e passando por questões femininas. Está nessa fase da paquera e a gente já conversa sobre isso. Às vezes, ela fica meio sem jeito de conversar comigo, geralmente é uma função materna e o pai não sabe de nada, mas eu sempre tive a par de tudo. Eu sempre estive presente, sempre dou muita atenção”, conta.

Cleiton sabe que construir uma relação de diálogo, confiança e honestidade é importante, pois esses pequenos processos irão fomentar a futura vida adulta de Ana Clarice. E mesmo que ela tenha um bom plano de saúde, acesso à educação de qualidade e “tudo do bom e do melhor”, nada pode substituir a presença e atenção do pai na vida de uma criança.

Paternidade versus profissionalização 

Entre as dificuldades de ser pai solo, está conciliar essa responsabilidade com o lado profissional. Apesar de ser referência na área da Comunicação e do Direito, Cleiton conta que precisou optar entre a sua profissionalização e a vida como um pai presente.

“A minha prioridade sempre foi a família. O lado profissional é relevante, mas isso não importa muito quando tem a questão da sua descendência, sua herança. Não adianta você ser muito bem sucedido profissionalmente e não ter uma família”, pondera.

Houve momentos em que Cleiton trabalhava muito, passava o dia fora de casa e, assim, não sobrava tanto tempo para sua filha. “Eu tive que abrir mão de tudo para ficar com ela, pois percebi que estava perdendo-a. Ela não me escutava direito e estava passando por alguns conflitos internos”, lembra o pai.

Nesta busca pelo equilíbrio entre ser um bom pai e um bom profissional, Cleiton, mais uma vez, optou por estar presente ativamente na vida de Ana Clarice. “Eu assumi o papel de dono de casa e de pai”.

Adaptação

Os pais solos vêm, ao longo dos tempos, compreendendo o que muitas mães vivem diariamente: é complicado conciliar o cuidado com a família e o profissionalismo no trabalho. Muitas vezes, é quase impossível manter uma vida profissional, familiar e ainda ter tempo para socializar e cuidar da saúde mental.

“Eu sempre priorizei a felicidade dela, mas teve um período que eu notei que estava priorizando demais ela e esquecendo de mim. Eu percebi que para ela ficar bem, eu tinha que estar bem também. Não é fácil, mas você acaba pegando o jeito”, confessa Cleiton.

E Ana Clarice sente todo esse amor e cuidado que o pai tem com ela: “a minha relação com o meu papai é muito boa. A gente conversa sobre tudo, ele é muito carinhoso, amoroso. Todo dia ele fala que me ama e que eu tô linda. Eu me sinto muito segura com ele. Ele me ajuda quando eu preciso, ele é muito presente na minha vida. Sou muito feliz com ele”, fala a garota.

“Ele é minha inspiração”, se declara Matheus Costa, filho de pai solo

Desde muito pequeno, João Matheus Costa, hoje com 24 anos, foi criado pelo pai. Ele conta que, quando tinha apenas um ano e três meses, perdeu a mãe e o seu pai, João Bosco Costa, passou por uma mudança radical para criar seu filho sozinho.

“Meu pai sempre foi uma inspiração para mim. No final de semana, em momentos de lazer, ele sempre se propôs a passar comigo, era o lazer dele também. A gente saia para o interior, brincava, jogava bola e isso sempre foi um motivo de inspiração para mim”, afirma Matheus.

Matheus perdeu a mãe quando tinha um ano de vida (Foto: Arquivo pessoal)

João Bosco começou a trabalhar com 10 anos de idade e sempre lutou para dar uma vida boa para o filho. Hoje, ele trabalha como mecânico e inspira seu filho diariamente enquanto pessoa e profissional.

Matheus o define como um homem ligado à família. “Meu pai sempre lutou para que eu fosse a pessoa que sou hoje”, diz.

Sempre à disposição

Matheus conta que seu pai tem um grande coração e uma enorme empatia pelas pessoas. Sempre busca ajudar, até mesmo quando não é possível. “Admiro muito o fato de ele ser uma pessoa que sempre dá um jeito de ajudar alguém. Meu pai é ‘pau pra toda obra’, acho que herdei isso dele”, brinca.

Ter tido como base um pai tão forte e trabalhador, que não se deixa abater pelas adversidades da vida, ajudou Matheus a se tornar uma pessoa melhor. “Por ele ter se esforçado muito, trabalhado e se sacrificado para me dar um conforto, eu consegui estudar em escolas boas e em uma universidade federal. Teria sido muito mais difícil sem o meu pai. Então agradeço muito a ele “, conta o filho.

Matheus conta que seu pai tem um grande coração (Foto: Arquivo pessoal)

Para Mateus, João Bosco representa tudo que um verdadeiro pai precisa ser: dedicado, persistente, que preserva o relacionamento com a família e busca, de todas as formas, estar presente, apoiando, guiando e amando seu filho.

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