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Agências em Teresina recrutam jovens para exploração sexual

O dinheiro "fácil" e rápido é o principal atrativo para as jovens

18/04/2011 07:51

"Procura-se meninas para trabalhar como acompanhantes de executivos". Basta uma ligação. Logo a voz do outro lado da linha, geralmente feminina, explica como funciona o serviço. "Tem que fazer de tudo". E uma das primeiras perguntas é referente à idade: "Quantos anos você tem?". Por telefone as informações são gerais: cachê, horário de trabalho e experiência.

O valor da "companhia" se diferencia de uma agência para outra. Em média é cobrado R$ 100. "A menina fica com a metade", diz a voz ao telefone. "Depende do cliente", completa. Mas os acertos finais são feitos sob uma condição: "Só pessoalmente, amor!". Entre três agências, uma coisa em comum: as "acompanhantes" aguardam seus clientes sempre em uma casa que funciona como um ponto de encontro. A escolha não é à toa. Geralmente essas casas estão acima de qualquer suspeita.

Elas vendem a intimidade em troca de dinheiro. Um universo atraente para muitas jovens, enigmático, perigoso. O mercado do sexo sob encomenda, com um agenciador. Mulheres que se mostram, se arriscam. Quem são? Quanto faturam? A que preço? Falta de opção ou alternativa de vida? A reportagem do O DIA mergulhou neste universo.

Com um nome fictício, marcamos um encontro com uma das proprietárias dessas agências em Teresina. O local? A casa de Andresca, responsável por selecionar as garotas. Às 16h23, nosso personagem, uma universitária de 22 anos disposta a ser "acompanhante", chega ao local combinado: avenida principal do bairro Dirceu II, zona sudeste da capital.

O primeiro contato ainda por telefone é feito por uma amiga de Andresca: Luciana. O pedido é que a jovem aguarde "uns 10 a 15 minutos". Afinal, somente a mulher identificada como Andresca é responsável em selecionar as garotas. São 16h32 e uma ligação de Luciana recomenda que a jovem universitária espere em frente a uma loja de móveis. Cinco minutos depois mais um pedido: "Olha, entra na padaria e depois espera a gente na porta. Não vamos demorar".

A recomendação é atendida pela jovem que ainda espera mais 10 minutos. Às 16h51, duas mulheres entre 27 e 30 anos em uma motocicleta observam nosso personagem. Paradas em uma avenida elas vestem shorts jeans, blusas simples e chinelas. Após uns segundos, um sorriso denuncia que as nossas agenciadoras reconheceram a garota. Logo após esse sinal, a expressão é substituído por uma frieza e certa indiferença.

A jovem universitária convida as duas mulheres para o interior da padaria. O convite é aceito sem relutância. A conversa começa informalmente. Andresca, que não para de analisar a candidata a acompanhante, faz perguntas simples. Onde mora, onde estuda, idade e experiência.

"Bom...você já trabalhou com isso antes?, pergunta a agenciadora.
"Uma vez....", responde a jovem.
"E como isso? Me conta...", diz Andresca.
"Era um amigo da minha família..Morávamos no interior do Maranhão e ele precisava de uma garota..topei e viajamos...", relata a universitária. Todas as respostas foram previamente ensaiadas. Andresca é direta sobre a necessidade de garotas.
"A gente tá precisando de gente para trabalhar. É na minha casa...você pode fica lá para receber os clientes...".
Ah...você quer para morar...né?
"Não necessariamente...eu quero é pra trabalhar...pra trabalhar mesmo", fala a agenciadora. "Qual a tua disponibilidade?", pergunta.
"Manhã e tarde. E eu teria que ir para tua casa então?", fala a jovem.
"Isso. Você fica lá porque os clientes te pegam lá...levam você para o motel e com o dinheiro do moto táxi você volta", esclarece.

A conversa é interrompida por Luciana, amiga de Andresca que também trabalha como acompanhante. Ela quer saber se pode comprar biscoitos na padaria. Andresca que demonstra estar mais relaxada acena que sim.

O diálogo entre a universitária e a agenciadora acontece em meio ao intenso movimento da padaria. A agenciadora explicou ainda que o atendimento aos clientes pode ser feito direto no motel. Na prática, as garotas vão direto ao local, já que os clientes já aguardam a "companhia". Atualmente moram duas meninas com Andresca. Fora estas garotas, mais duas trabalham em sua "agência".

A reportagem do O DIA foi até a casa de Andresca. Uma fachada verde e uma estrutura razoável. Em alguns minutos é possível perceber o movimento do local. Táxis e carros comuns. Aos poucos entra e sai meninas. Os condutores dos carros cumprem um dos principais rituais dessa prática: a discrição. Nenhum desce do carro e não se expõe.

O pagamento, em tese o principal atrativo da prostituição, é dividido entre as garotas e as agenciadoras. "Você fala de valor...depende muito. É R$ 120 o menor valor. Depende do cliente...aí tu fica com R$ 60. Ele te paga no motel...", explicou Andresca. "No final do mês dá pra gente tirar quanto?", questiona a universitária. Segundo a agenciadora, tem meninas que chegam a lucrar R$ 3 mil por mês.

Trabalho aceito pela personagem do O DIA, Andresca garante que o trabalho é feito com muita discrição e garante que é possível levar uma vida "tranquila" sems er descoberta: "Não se preocupa...é tudo muito discreto.Você não vai ficar em bar, restaurantes, nem nada. Os clientes querem discrição total....". De acordo com a agenciadora, a maioria dos programas acontece durante a semana nos turnos manhã e tarde. E disse: "No final de semana é mais fraco".

Todos os anúncios encontrados pelo O DIA recrutam mulheres para ser acompanhantes. Na teoria, essas meninas trabalhariam apenas acompanhando homens em eventos. Mas o que se verificou é a seleção de garotas, em alguns casos, seduzidas através dos valores ou com propostas de fazer sexo em toca de dinheiro.

E isso fica claro quando Andresca é questionada o que tem que ser feito quando as garotas saem com os homens. "E tem que fazer tudo?", questiona a universitária. A agenciadora é direta e surpreende na resposta: "Não não...menos (sexo) anal. Anal só uma das meninas faz...mas também fica a teu critério...".

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Edição: Carlos Rocha
Por: Mayara Bastos - Jornal O DIA
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